quinta-feira, 6 de março de 2014

O SONHO – Ari Aroldo da Costa Farias

 O poeta Dinamérico Soares do Nascimento resgatou essa preciosidade no seu esgotado livro Poetas Cuiteenses de Todos os Tempos, publicado em 1999.



Sonhei com os meus avós
Quase morro de saudade
No sítio onde eu vivi
A minha primeira idade
Neste sonho positivo
Eu vi o meu avô vivo
Cheio de felicidade

No sonho encontrei a casa
Daquela antiga maneira
A sala cheia de santo
Um banco de aroeira
Com a lata de torrado
Padrinho Trajano sentado
Na mesma espreguiçadeira

Entrei na sala do rádio
Onde eu armava a rede
Um oratório de santo
Embutido na parede
Pra aumentar minha mágoa
Mais pra frente um pote d’água
Onde eu matava a sede.

Depois eu entrei no quarto
De Tatá e de Tantão
Vi a banca, vi a cama
Vi debaixo o “capitão”
De porcelana azul
Do outro lado o baú
Enfeitado de botão.

Vi em cima do fogão
Prato de barro e panela
Vi no baú de Tantão
A mesma rede amarela
Que não me sai da lembrança
Quando eu era criança
Muitas noites eu dormi nela.

Jasmim, a goiabeira
No terreiro da cozinha
No sonho eu vi Diana
Vi tia Ziza e Leninha
Vi madrinha Conceição
Bem sentadinha no chão
Com a cuia de algodão
E o fuso fazendo linha

Tinha no oitão direito
O enfeite do terreiro
Grande pé de baraúna
E outro de juazeiro
Que de lembrar não me canso
Quando armava o meu balanço
E brincava o dia inteiro.

O sonho foi passageiro
Rapidamente acabou
Pois já eram quatro horas
O relógio despertou
Acordei olhando nele
Quase eu quebrava ele
Porque ele me acordou.

Acordei, não vi ninguém
Pois o tempo foi veloz
Não vi mais o meu avô
Com a sua cansada voz
Nem a casa, nem Tantão
Nem a rede e os lençóis
Nem o rádio Nord-son
Só sei que foi muito bom
Sonhar com os meus avós.

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