Quando lemos, é sempre bom fazermos um esforço para separar aquele que escreve daquilo que está escrito. O autor, necessariamente, não tem a ver com o eu-poético de seu poema ou com o eu lírico de seu romance. Sempre há uma linha de separação, ainda que tênue.
Lembremos do que disse Fernando Pessoa,
"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente.
Que chega a fingir que é dor.
A dor que deveras sente."
A dor ou alegria que o poeta expressa necessariamente não é a sua. Saint-Exupery, o autor, é diferente da criança que fala em o Pequeno Príncipe.
O escritor tem o dom de empatizar com os seres ao seu redor expressando o que de fato sentem ou emprestando-lhes qualidades inexistentes.
Exemplos?
Quem convive com Marcos Cavalcanti sabe que ele é, comumente, uma pessoa bem-humorada, feliz, que nem de longe pensa em suicídio. Para alguns que não o conhecem e leem o seu VIAGENS AO ALÉM-TÚMULO é um ser depressivo, negativista, triste. Isso ocorre devido a confusão entre autor e eu-poético. Numa poesia ele pode dizer "Vem, ó morte", enquanto na vida real vive fugindo dela.
Quem faz ou declama um poema de amor não significa que esteja apaixonado. José Paulo Paes escreveu poesias em que nitidamente se escuta uma voz feminina. Isso não significa que ele seja mulher ou gay. Quando Drummond, o itabirano, escreveu "Itabira é apenas uma fotografia na parede, mas como dói", poderia estar falando de uma dor que deveras sentia (apenas para relembrar Fernando Pessoa) ou não. Poderia até nem ter fotografia da terra natal em sua parede.
Será que no dia anterior à escrita do poema O BICHO Manuel Bandeira realmente esteve perante um pátio imundo? Pode ser que sim, pode ser que não. Mesmo que tenha vivenciado isso, continua a necessidade de diferenciar quem escreve do que está escrito.
Sabe aquelas máscaras que têm a forma exata do rosto que representam? Mesmo sendo tão parecidas (algumas simulam muito bem o tecido humano) continuam sendo apenas máscaras.
Vez por outra aparecem comentários no blog que refletem um pouco essa confusão, salvo casos em que a pessoa evidentemente está brincando. Daí a razão de ser deste alerta. Desnecessário, talvez.
Parabéns Gilberto,pela excelente e oportuna colocação. Concordo com vc!
ResponderExcluirMestre Gilberto,vc realmente é muito bom mesmo. Grande poeta e escritor. Parabénss por essa verdade.
ResponderExcluirJOÃO
DISCORDO. ACREDITO QUE SEMPRE TEM HAVER UMA COISA COM A OUTRA. NESSE CASO HOUVE UMA EXPLICAÇÃO DE NAILSON,O QUE É DIFERENTE.
ResponderExcluireu particularmente estava só brincando com Nailson. rsrs disculpa aí,Gilberto!
ResponderExcluirAna
É JUSTO GILBERTO,MAS ACHO QUE MUITAS VEZES TEM HAVER SIM.
ResponderExcluirJOANA
Grande Gilberto. Um abraço forte do Papa para vc, direto de Roma. rsrsrsr. O seu texto é sempre interessante e convincente.
ResponderExcluirPalavras sábias, Gil. Faz-se necessário que não confundamos a arte com a realidade, pois aquela sempre esteve, está e estará à frente desta, dado ao seu caráter infinitamente superior.
ResponderExcluirE assim as calhas de roda, gira a entreter a razão, esse comboio de cordas que se chama coração, texto super interessante.
ResponderExcluiralma poética
Concordo com o texto caro poeta, a arte não tem compromisso com a verdade, quem escreve sabe disso.
ResponderExcluirPODEMOS CITAR TAMBÉM COMO UM BOM EXEMPLO O POETA AUGUSTO DOS ANJOS QUE CARREGAVA EM SEUS VERSOS UM ALTO TEOR DE PESSIMISMO.
ResponderExcluirANA LUIZA TRIGO
Caros amigos e amigas, Nailson, Lindonete, Hélio, Ana, Joana e anônimos,obg pelos comentários!
ResponderExcluirMarcos, é um prazer saber que estou sendo lido por alguém que se encontra e Roma e que teve o privilégio de pegar no cetro papal. Aproveite e visite o ex-mordomo dele que se acha preso. Abçs.
Gilberto,
ResponderExcluirTexto necessário, pertinente e esclarecedor.
Parabéns!
TEIXEIRINHA
O poeta finge muito, finge que é fingimento até o que ele sente.
ResponderExcluirMuito bom. Parabéns.
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