quarta-feira, 19 de outubro de 2011

FABIÃO DAS QUEIMADAS – O POETA DOS VAQUEIROS (Por Nailson Costa)


Sem dúvida nenhuma, o grande nome da literatura de Santa Cruz, do final do século XIX ao início do século XX, é Fabião Hermenegildo da Rocha (1848 – 1928), o famoso Fabião das Queimadas, natural da fazenda Queimadas, então município de Santa Cruz, hoje pertencente ao município de Lagoa de Velhos.
O cantador negro Fabião das Queimadas foi poeta popular das vaquejadas no Agreste do Rio Grande do Norte. Escravo do fazendeiro José Ferreira da Rocha, juntou vintém a vintém, seu pecúlio e alforriou-se, assim como sua mãe e uma sobrinha, Joaquina Ferreira da Silva,  com quem casou.
Pagou 800$000 (oitocentos mil réis) por si, 100$000 (cem mil réis) por sua mãe e 400$000 (quatrocentos mil réis) pela futura esposa. Cantava acompanhando-se com a rabeca fanhosa e fiel, pondo-a à altura do peito como os menestréis clássicos.

Diziam as más línguas que Fabião era filho apanhado do fazendeiro José Ferreira da Rocha com uma escrava sua. E não é de admirar, pois naquele tempo eram muito comuns os amores ilícitos entre os senhores de escravos, ou seus filhos, e as escravas. E o velho Zé Ferreira, segundo contavam seus contemporâneos, não fugiu à regra da época. Do afeto do fazendeiro pela jovem escrava, na senzala, ou quem sabe por trás das moitas, foi que a escrava engravidou. Nove meses depois vinha ao mundo o, também, escravo Fabião. Contam que o próprio poeta não negava que realmente era filho bastardo do senhor das Queimadas.
Segundo seu filho, Filipe Ferreira da Silva, o pai havia iniciado sua vida de cantador ainda muito jovem. Fabião das Queimadas nasceu poeta. Não teve nenhum curso, não estudou em parte alguma.
À sua rabeca dedicou esta redondilha:

Minha rabequinha
é meus pés e minhas mão,
é meu roçado de milho,
minha planta de feijão,
minha criação de gado,
minha safra de algodão.

O Senador Eloy de Souza, que era negro, assistindo a uma apresentação de Fabião das Queimadas, na residência oficial do então governador Ferreira Chaves, recebeu do famoso poeta esta saudação:

 Seu Doutô Eloy de Souza
Minha mãe sempre dizia,
Se o senhor não fosse rico,
Era da nossa famia.

 
O Senador gostava tanto de Fabião que, sempre que podia, patrocinava-o nos grandes festivais de repentes e de vaquejadas pelo Nordeste afora. O senador muitas vezes insistia que o poeta negro se hospedasse em sua residência, quando este se encontrava em Natal para participar de cantorias. Entretanto, Fabião preferia a residência e a companhia de seu grande amigo, Luís da Câmara Cascudo.
[...]
Seu José Bezerra, contemporâneo dos poetas Cosme Marques, Luís Patriota e José Abdias, lembra, com os olhos cheios de lágrimas, “de uns versinhos de Fabião que diziam assim:

Minha mãe era pretinha,
Pretinha que nem quixaba,
 Mas o seu nome era doce
Tão doce que nem mangaba.
Quando forrei minha mãe,
A lua nasceu mais cedo,
Pra clareá o caminho
De quem deixava o degredo.

O nome da mãe é doce
Que nem a pinha madura
Mas passa o doce da fruta
E o doce do nome atura.”



[...]

Fonte: Livro inédito LITERATURA SANTACRUZENSE, da autoria de Nailson Costa


3 comentários:

  1. Nailson, comecei ler o teu livro “Literatura Santacruzense” que tiveste a gentileza enviar-me. É uma verdadeira mina de ouro !Imprimi-o e fiz o meu livro de cabeceira . Este livro ajuda-me muito a compreender em qual contexto evoluiu a poesia Santacruzense. Cada página é para mim uma fonte de informações históricas, poéticas ...... verdadeiro encanto !!!
    Parabens e de novo muito obrigada !!!!
    Volto à minha leitura!! rsrsrs

    ResponderExcluir
  2. A Senhora Joelle, os meus agradecimentos pela atenção aos meus escritos! Gostaria de lembrar aos demais amigos que enviarei essa pesquisa a quem desejar tê-la. É só me enviar o e-mail.

    ResponderExcluir

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”