REENCONTRO - Siomara Spinelli

 

Reencontro

Não sei ao certo quando ela despertou, mas foi numa quinta-feira fria, cheia de pensamentos e arrepios, naquela manhã, ela já acordou diferente, como se um anjo a tivesse beijado durante a noite. Levantou-se, fez sua oração sagrada, olhou a fresta do sol na janela como se nunca houvera visto antes, levantou de mansinho e alargou as cortinas, deixando a luz do sol abraçá-la completamente, ela precisava daquele abraço, merecia, um abraço poético e cheio de autoperdão. Lançou os olhos no horizonte barulhento e confuso da cidade lá embaixo, totalmente contrastando com ela, quieta, silenciosa e leve, mas se parecia com as gaivotas que cortavam o céu, livres e preenchidas.

Preparou o café com um sabor especial. Sabor dela. De repente havia se reconhecido, relembrado de si, como um choque de realidade, como se estivesse perdida e agora havia se encontrado. Foi lindo! Foi tudo de mais lindo em tantos anos. Ela sentou-se perto da luz pálida do sol amanhecendo, como se quisesse ter sempre sua presença, enquanto tomava seu café em um misto de nostalgia de si, de reencontro, de pasmosidade.

Rabiscou certas linhas numa agenda amiga, sorriu levemente, como se estivesse pela primeira vez em anos, preenchida de si, consciente de si. Levantou-se, rodopiou 3 vezes livre e como se ouvisse uma canção, mas canção não havia, foi ao guarda-roupa, vestiu sua roupa de sair favorita, colocou em sua bolsa apenas o essencial.

Ela estava feliz. Genuinamente feliz. E partiu.

As palavras na agenda foram: Me reencontrei. Adeus.

Logo ela, que era de imensas e maçantes palavras. Para que palavras? Ela havia, enfim, encontrado a felicidade.

 

Siomara Spineli