TRADIÇÃO RENOVADA
Aproximava-se o momento de desejar feliz Natal aos amigos e conhecidos. Peguei papel e caneta para fazer a lista, porém não me veio um sequer. Apelei para os parentes e descobri que os que não haviam morrido moravam longe. Pensei imediatamente que precisava de alguém para fazer valer o ritual. Mas quem? Liguei para uma agência e encomendei algumas garotas felizes para que eu pudesse ser também. No meio delas, veio uma anã. Retornei a ligação. É que com essa onda de politicamente correto, não podemos deixar de contratá-las e nem o senhor de aceitá-las. O preço está diluído entre as demais, e fica como brinde. Finalmente poderei passar o Natal com os presentes que sempre desejei, pensei olhando-as, e a anã que não estava em meus planos, bem... brinde é brinde.
Ficamos a noite toda brincando de desejar feliz a alguma coisa. No ensaio geral, a banda fez propaganda do réveillon prestes a chegar. As meninas não estavam vestidas de Papai Noel porque de nada estavam, e eu olhando para a conta bancária imaginando quanto seria o preço de tudo aquilo e ficando infeliz por isso.
Enquanto não chegava a grande data, todo esse pessoal ficou em minha casa esperando para que pudéssemos desejar o tão famigerado feliz no momento certo. Comiam, bebiam e mijavam na piscina. Que tal um forró? Organizaram e dançaram até o dia amanhecer. Zuada e muito vômito no meio da sala tornava-se o sonho cada vez mais distante de ser realizado.
Eu já estava de saco cheio de tanta Mamãe Noel transitando no jardim, algumas só de gorro. Mas trato é trato, e o fato é que começaram a jogar a anã na piscina no lugar da bola. Foi o maior divertimento. A associação protetora dos anões nem foi comunicada porque ainda não existe. Tanto as jogadoras quanto a própria bola ficaram entretendo-se na maior farra enquanto eu ficava fazendo compras e me descabelando para que o desejar felicidades pudesse ter um pouco de originalidade. Chegou o Natal, organizamos as velas, comidas e até uma menina, com um violino, tocou Noite Feliz. Aplaudimos aquele momento solene e, finalmente, desejamos o que precisava ser desejado. Cada um foi para o seu lado já pensando no feliz Ano Novo!
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 26.12.2023 - 11h33min.
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