quarta-feira, 29 de novembro de 2023

MEMÓRIAS DO DRINK BAR (Gilberto Cardoso dos Santos)

 

Crédito da foto: Heronides Cabral



MEMÓRIAS  DO DRINK BAR 

(Gilberto Cardoso dos Santos)


 Aos 5 anos de idade

Em um bar eu trabalhei.

No caixa e vendendo pinga,

Vários anos eu passei.

Chamava- se Drink Bar.

Dia e noite a batalhar,

Muitas lições eu tirei.


Era o Bar do Nego Tota,

Cuiteense e meu irmão.

Ali vendia de tudo,

Inclusive refeição.

Lembro dos dias de feira:

Tudo feito "nas carreira"

Na cozinha e no balcão.


Tinha horário para abrir,

Não, porém para fechar.

Na palavra "saideira"

Não dava pra acreditar.

Ali piadas contavam

E às vezes brigas pegavam.

Eu tremia a observar.


Certa vez naquele bar

Se deu um causo engraçado:

Já era tarde da noite,

Deveria estar fechado.

Os bêbados não saíam

E tira-gostos pediam

Ao meu irmão já cansado.

 

Tota dizia: “Acabou.”

Mas não convenceu ninguém.

Por tanto e tanto insistirem,

Meu irmão disse: “Está bem.

E a um chinelo velhinho

Ele cortou miudinho,

Temperou como convém.


Alguns bêbados disseram:

“Que cheiro bom na cozinha!

O Nego Tota mentiu

Quando disse que não tinha!”

Cebola, tomate e coentro

Com carne macia ao centro

Foi posto sobre a mesinha.

 

Alguns bêbados disseram:

“Que carne boa e macia!”

Porém que havia algo estranho

Um ou outro percebia.

E o dono do bar bem sério,

Fazendo ar de mistério,

Nenhuma coisa dizia.

 

Um afirmou: "Não é fígado."

E outro: "Não é moela."

Disse alguém: "Não é toicim

nem galinha à cabidela."

Todos bastante intrigados

Mordiam desesperados

os pedaços da chinela.


Logo todos perceberam

Que caíram na trapaça

Alguns ficaram com raiva,

Mas outros acharam graça.

Depois de muito morder,

Não sei se alguém fez descer

Goela abaixo com cachaça.

 

O bar não era pequeno

Como hoje me parece.

Em geral as coisas mudam

Depois que a pessoa cresce.

Tudo que a gente viveu,

Se sorriu ou se sofreu,

Na lembrança permanece.


De tanto ver os efeitos

Colaterais da bebida,

Eu tomei a decisão

De nunca beber na vida.

Creio que estar consciente

É o nosso maior presente,

Mesmo na hora sofrida.


MEUS LIVROS:













3 comentários:

  1. Contrariando o provérbio, a emenda saiu melhor que o soneto.

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  2. Show de poesia! Parabéns pela primazia👏👏👏👏👏

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  3. Como sempre matando a pau na na arte da poesia.
    João Maria de Medeiros

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