MEMÓRIAS DO DRINK BAR
(Gilberto Cardoso dos Santos)
Aos 5 anos de idade
Em um bar eu trabalhei.
No caixa e vendendo pinga,
Vários anos eu passei.
Chamava- se Drink Bar.
Dia e noite a batalhar,
Muitas lições eu tirei.
Era o Bar do Nego Tota,
Cuiteense e meu irmão.
Ali vendia de tudo,
Inclusive refeição.
Lembro dos dias de feira:
Tudo feito "nas carreira"
Na cozinha e no balcão.
Tinha horário para abrir,
Não, porém para fechar.
Na palavra "saideira"
Não dava pra acreditar.
Ali piadas contavam
E às vezes brigas pegavam.
Eu tremia a observar.
Certa vez naquele bar
Se deu um causo engraçado:
Já era tarde da noite,
Deveria estar fechado.
Os bêbados não saíam
E tira-gostos pediam
Ao meu irmão já cansado.
Tota dizia: “Acabou.”
Mas não convenceu ninguém.
Por tanto e tanto insistirem,
Meu irmão disse: “Está bem.
E a um chinelo velhinho
Ele cortou miudinho,
Temperou como convém.
Alguns bêbados disseram:
“Que cheiro bom na cozinha!
O Nego Tota mentiu
Quando disse que não tinha!”
Cebola, tomate e coentro
Com carne macia ao centro
Foi posto sobre a mesinha.
Alguns bêbados disseram:
“Que carne boa e macia!”
Porém que havia algo estranho
Um ou outro percebia.
E o dono do bar bem sério,
Fazendo ar de mistério,
Nenhuma coisa dizia.
Logo todos perceberam
Que caíram na trapaça
Alguns ficaram com raiva,
Mas outros acharam graça.
Depois de muito morder,
Não sei se alguém fez descer
Goela abaixo com cachaça.
O bar não era pequeno
Como hoje me parece.
Em geral as coisas mudam
Depois que a pessoa cresce.
Tudo que a gente viveu,
Se sorriu ou se sofreu,
Na lembrança permanece.
De tanto ver os efeitos
Colaterais da bebida,
Eu tomei a decisão
De nunca beber na vida.
Creio que estar consciente
É o nosso maior presente,
Mesmo na hora sofrida.
MEUS LIVROS:
Contrariando o provérbio, a emenda saiu melhor que o soneto.
ResponderExcluirShow de poesia! Parabéns pela primazia👏👏👏👏👏
ResponderExcluirComo sempre matando a pau na na arte da poesia.
ResponderExcluirJoão Maria de Medeiros