UM RECORTE DO BELO
Vendo as ondas indo de encontro às falésias. São pedras que se erguem avistando a areia sendo escovada pela água espumante. Ininterruptamente, uma trilha sonora se faz num marulhar de acalento aos passantes. Apesar de aparentar aleatoriedade, a sincronia está padronizada pelas fórmulas da física. Cada bolha de espuma estourada tem o seu tempo pré-determinado assim como o volume de água infiltrada na areia. Os ajustes feitos pela lua e o sol não deixam a vã mediocridade humana medir tudo isso. Parece simples, mas um composto bater de asas de uma borboleta morrendo do outro lado do planeta interfere nessa harmonização.
O vento leva um grão da areia para longe desse espetáculo. Ele vai batendo nos obstáculos parando por algum tempo em alguma planta que insiste em barrar sua trajetória. Vem a chuva fixá-lo no caule do que ainda é verde. Depois, vem a seca despindo-o de alguma umidade. O grão continua sua viagem para um destino calculado pela força da rotação e translação da terra. Se vê interferindo no fluxo de automóveis. Um homem, com vassoura e pá, transporta-o de volta para o areal. Ele fica acomodado debaixo de outros que tiveram o mesmo destino.
As ondas já não batem mais nas pedras. Elas foram embora a mando da baixa-mar. Agora, o observador também segue seu caminho imaginando quando poderá voltar.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 03.09.2023 – 05h28min.
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