DESNORTEADO
Papai Noel, com mal de Alzheimer, veio parar no Nordeste. Suas renas estacionaram achando o máximo degustar capim-elefante. Noel correu para a arca querendo saber quem foi o profissional de marketing que colocou o nome capim-elefante, pois a partir daquele momento seria capim-rena. Como ele estava muito esquecido, precisou ser dito que a arca era outra história e que ele ficasse se divertindo somente em distribuir presentes.
Ele lamentou que com a guerra as fábricas diminuíram a produção de brinquedos contribuindo para entristecer as crianças. Quem nunca gostou de papai Noel, com seu saco enchendo o saco, contra-argumentou que poderia até ser uma boa ideia não instigar a inveja nas crianças, já que por trás das festas há sempre a malícia estimulante do consumo.
Não tem problema, sugeriram os armeiros e ele acatou a sugestão de distribuir pistolas, metralhadoras e fuzis AK-15. O importante é que a tradição não se perca, disse Gru que ganha dinheiro para estimular a violência juntamente com quem recebe apoio dos minions-brochas.
No local onde o trenó aterrissou, as pessoas só tinham farinha com açúcar para comer, e quando ele foi se alimentar do que havia disponível a barba ficou toda salpicada com a mistura, motivo pelo qual a criançada conseguiu comê-la pensando que era algodão doce.
Ele, sem a famosa barba, começou a definhar e, naturalmente, a perder também a pança. Por não ter como suprir o déficit alimentar, ofereceu uma das renas para virar churrasco. Logo a vizinhança ficou muito animada em participar do banquete, e já no outro dia mais uma delas até se esgotar a diversidade culinária.
Papai Noel agora estava triste por não saber onde havia deixado a arca. Novamente alguém correu para auxiliá-lo que ele era o da roupa chamativa, e não aquele dos casais de animais, mas já que insistia tanto em ver essa arca, que fosse procurá-la no monte Ararate e não no Nordeste. Por estar aborrecendo seus anfitriões com a conversa de um leão se unir a um coelho mesmo estando faminto, a partir daquele momento teria que pagar a hospedagem. Eu sacrifiquei minhas renas e vocês retribuem com essa ingratidão!? Não tenho dinheiro. Tire aí do saco, responderam os que ele chamava de ingratos. Tirar de onde? Como, se já me furtaram tudo!? Sugeriram que ele vendesse o trenó. Ah, não, o trenó só troco numa arca.
Pela insistência em possuir algo que navegasse, arranjaram uma canoa e o colocaram na Terceira Margem do Rio. Lá ele ficou sem saber para onde remar. De repente, apareceu um boto-cor-de-rosa e o orientou para ir falar com a sereia. Ele foi ao fundo do mar, porém a sereia estava ocupada em coreografar sua calda na dança do créu. Depois de muita insistência, ela disse que ali no fundo do mar não tinha arca e nem ela sabia sobre esse tal de Natal. É a festa natalina, explicou os anões que estavam com ele e só não foram comidos juntos com as renas porque se esconderam. Qual o significado dessa festa?, perguntou a Sereia. É uma festa para comemorar também a entrada do décimo terceiro salário na conta de quem trabalha. Ah, sim, respondeu a sereia enquanto gravava o vídeo para publicar nas redes sociais. E agora, o que o senhor quer de mim? Papai Noel nem sabia mais o que tinha ido fazer ali, só sabia que estava ficando sem fôlego, não porque estivesse debaixo d’água, mas, simplesmente, porque estava tendo um AVC. Só não caiu porque já estava deitado. Lá embaixo, a serei achou por bem fazer uma respiração boca a boca e o velhinho gostou. Passou o resto do ano encostando a sereia no mastro do Titanic. Esse hábito teve fim quando uma cápsula explodiu levando o mastro mais para o fundo.
Nunca tinha havido tamanha explosão no território sagrado da sereia, então netuno se reunião com o capitão Nemo e condenaram papai Noel a voltar para a superfície. Você vai ter que continuar a ser chato lá mesmo, disseram não mais aguentando tantas histórias mal contadas. Quão difícil vai ser eu ter que reaprender o Rôu! Rôu! Rôu! novamente, disse o velhinho do saco vermelho resultado de uma coceira que nunca ficou curado.
Quando emergiu no polo norte, havia uma escassez de alimentos, e os ursos polares, vendo que Papai Noel dava para um bom lanche, fizeram um grande favor para a humanidade.
Peraí, disse uma defensora do velhinho. Não tire essa fantasia das crianças, seus ursos malvados! KKKKKK, responderam os ursos, e entre um K e outro disseram que esse negócio de dizer que é papai Noel que dá presentes é uma forma que os pais encontraram para se verem livres das responsabilidades, o famoso “tirar o seu da reta,” assim a prole só fica implorando por presentes uma vez ao ano. Os pais não tendo coragem de encarar a educação dos filhos, dizem que se eles não se comportarem bem Papai Noel irá puni-los não lhes presenteando. Chega de hipocrisia!, disseram os ursos enquanto roíam os ossos da mentira.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 29.07.2022 – 05h56min.
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