NÃO SE REBELE
Entrelinhas é o “espaço em branco” que fica entre duas linhas, só que ultimamente significa interpretações dadas por quem quiser, ou seja, o autor só precisa escrever uma página que ela mesma “dará cria”, infinitamente.
Tenho que falar só isso mesmo, pois a expressão “espaço em branco” pode ser interpretada como sendo um preconceito direcionado contra os afrodescendentes. E por que não "espaço em preto?"
Se eu disser que uma mulher é gorda, é motivo para apontarem gordofobia. Não se pode dizer nem que o personagem é velho, corcunda ou torto, senão serei punido pelos que defendem a igualdade. O cuidado que devo ter, é não fazer nenhuma alusão a cor dos cabelos, altura etc., e sim, somente aos acontecimentos. Nada de descrição.
Em termos práticos, fica difícil expressar os pensamentos excluindo os referenciais estabelecidos. Se eu disser que a personagem era baixinha, "alguém" vai cobrar por que eu não coloquei uma magra ou uma deficiente naquele papel. Os movimentos organizados cobrarão cotas de participação, e eu estarei ferrado.
Ontem, experimentei inserir casca de fruta se comunicando com a mesa para ver se escapo da censura numa tentativa desesperada de sair da paranoia de que isso pode e isso não pode; “manere” mais a pena; olhe os preconceitos! Ficam “buzinando” tanto no meu ouvido que gasto mais tempo planejando do que executando.
Desculpem-me interromper o raciocínio por causa do telefone tocando. Alô! A pessoa do outro lado está me convidando para assistir ao jogo Brasil x Sérvia. Ah, é hoje! Sim, vai ser às 16h! Você vem? Prefiro ficar lendo. Não sou besta para torcer por uma coisa que não vai melhorar a minha vida em nada. Tanto faz perder como ganhar que precisarei trabalhar, do mesmo jeito, amanhã. E outra, se o Brasil perder vão querer anular o jogo. Nesse momento que estamos passando, até casamentos estão querendo torna-los sem efeito, por isso é melhor permanecer cuidando da minha vida.
Voltando ao assunto sobre censura, o que posso dizer é que eu mesmo vivo censurando. Se meu menino quer se jogar da varanda, eu o censuro; se minha filha adolescente quer sair nua na rua, eu a censuro. O pior é que também sou vítima de censura, constantemente. Essa semana eu trouxe umas garotas de aluguel aqui para casa, mas quando cheguei, fui censurado pela minha esposa. Eu estava querendo fumar, entretanto meu filho disse que não porque prejudica o pulmão, coração e bolso. Não sei nem o que fazer com tanta vigilância. Se alguém quiser opinar sobre esse texto, que engula a opinião. Desde já, está censurado!
Eu sei que vão me censurar por eu ter dito “engula a opinião.” Essa expressão define que sou autoritário, mandão, um ser que não aceita críticas e, ainda por cima, disfarça que está tudo bem, entretanto fica noites e noites sem dormir quando toma conhecimento de um ponto de vista contrário. Bom, já chega de entrelinhas. Resolvi assistir ao jogo.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 24.11.2022 — 11h36min
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