segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

DISFARÇA QUE O POVO ESTÁ OLHANDO - Heraldo Lins

 


DISFARÇA QUE O POVO ESTÁ OLHANDO


Certa vez escrevi sobre a coceira, e, em seguida, apaguei. Isso aconteceu depois de uma semana trabalhando o tema e ter avaliado que estragaria minha reputação falar de algo tão trivial. Hoje, chega-me à mente este mesmo tema, e fico em dúvida se deverei salvá-lo. 

Sei que é difícil tratar dele sem descambar para o pejorativo, principalmente, se ele estiver sendo executado nas virilhas, e ainda mais, no vértice das pernas pela parte de trás. Tenho medo que muitos parem a leitura ou fiquem lendo só para fazerem mal juízo. 

É delicado trazer à baila algo tão comum e discriminado. O culpado de ele ser malvisto é que essa sensação aparece em horas indesejadas, por exemplo, em casamentos. Todos ansiosos pelo sim definitivo, exatamente quando o líder religioso está dizendo:

  Fulano de tal, você aceita sicrana como sua legítima... 

Então ele para tudo, corre para um canto e diz: 

  Só um momento... Volto já...! 

Grita por trás da coluna: 

  Só mais um instantinho...! Tô indo...! Pronto, terminei... Ufa!... 

É no mínimo deselegante vê-lo voltar cheirando as pontas dos dedos. 

Nós, a maioria, deveríamos agradecer por termos mãos para fazer isso sem precisar pedir a ninguém. Fico imaginando, ao avistar alguém sem os dois braços, como se coçam, é tanto que quando estou perto de uma pessoa assim, procuro me distanciar. Vai que dá vontade, não se tem escapatória: o manual da solidariedade nos manda coçá-las. 

O pior é que, na maioria das vezes, a coceira acontece nas partes que trazem em sua formação genética um repelente natural que nem com pinho sol larga a "catinga". Meter a mão nestes mistérios alheios é perigoso.

Mas nós somos muito dissimulados e nem falamos nisso. Queremos só saber é de selfie que é bem mais importante e limpo. Mas não tem como separar um do outro. Eu soube que, depois de um estudo rigoroso sobre as selfies, descobriram que as ciclistas, enquanto tiram suas próprias fotos se coçam nos selins, disfarçadamente.

O mundo vive conspirando em favor da coceira, já dizia uma grande filósofa chamada Josefina das pernas finas. Foi ela que me fez prestar bastante atenção nestes atos que acompanham momentos históricos, como é o caso da maçã caindo na cabeça de Newton. Ninguém diz o que Isaac estava fazendo debaixo da macieira. Não, ele não estava elaborando a lei da gravitação universal, ele, estava, simplesmente, escondendo-se para se coçar em paz. O que aconteceu foi que era safra de maçãs, e ele de tanto se esfregar no tronco da macieira, fez uma delas cair no seu quengo, segundo Josefina, foi isso mesmo. 


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 30.11.2021 – 06:25



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