UM CONCERTO, UM REGENTE E VÁRIAS PARTITURAS (Prefácio de Valdenides Cabral
Qualquer tentativa de compreender o que é a música [...] permaneceria inacabada se não se explicasse as profundas emoções que se sente ao escutar obras capazes até de fazer correr lágrimas.
Claude Lévi-Strauss
Eis
que estamos na antecâmara de uma ópera peculiar. Ao atravessarmos esta primeira
página, todos os sentidos atentam para um Concerto de palavras regido pelo
Maestro, Paulo Caldas e sua orquestra literária.
A
cada página uma partitura diferente compõe a presente coletânea, fruto de uma
criação intensamente vivenciada dentro do ambiente virtual da Oficina
Literária, como pede o momento. Uma coletânea onde cada autor imprime suas
particularidades de mundo através do ritmo das palavras que escolhe. Um conto,
uma crônica, um poema... escrevivências de mundos, seleta de verdades
literárias compartilhada, aprimorada e entregue ao leitor para deleite e
reflexão.
Quando
falo em verdades literárias é sobre a capacidade que temos, enquanto
escritores, de batizarmos os nossos escritos, de podermos falar de nós e do
outro. Ora representados por um eu confessional, por um eu lírico, ou por um
homo fictus e vivendo dentro de um universo poético a construir uma sinfonia
harmoniosa de palavras, somo aptos a despertar no leitor um estado de
encantamento, uma identificação capaz de o levar a novas leituras, a descobrir
sentidos plurais. E, conforme nos diz Barthes, “o plural do texto deve ser,
efetivamente, não à ambiguidade de seus conteúdos, mas ao que se poderia chamar
de pluralidade estereográfica dos significantes que o tecem (etimologicamente,
o texto é um tecido)”. (BARTHES, 2004, p. 70).
Neste
Concerto de palavras, nós, que fazemos a Oficina Literária Paulo Caldas,
entregamos ao leitor um pouco do nosso ser encarnado na linguagem literária.
Recife,
13 de agosto de 2021
A FACE DE
ANTEROS
(Poema de Valdenides
Cabral)
Qual foi a vossa perdição, eu vos direi: não
soubestes amar; faltou-vos arte; é a arte que faz perdurar o amor.
(Ovídio)
Antes
a ti mil
palavras
digo ao
ouvido
e mãos
triunfantes
escalam
pontes e
rochedos
em frenesi.
Vênus não
tem pressa
e o ponto
que procuras
esconde-se
ante a
doçura do bordado
magistral
da natureza.
Louca e
bárbara
ateio ao
teu corpo
a chama de
Hefesto
e moldo a
face secreta do desejo.
Durante
Com tal
ternura
o Amor me
abraça
código
morse combinado
braile
reconhecido no toque
do prazer
que me pertence.
Cativo me
segue
espada em
punho
a me salvar
da Paixão.
Sob
custódia
me possuis
lanço a
rede de desejos
e perpetuo
o amor.
Teu ser
matizado de Luz
reflete a
face de Anteros.
Fora o teto
de estrelas que nos cobre
nada mais.
Depois
O que faço
das noites em claro?
Demoro o
olhar na parede fria.
Seguro o
estilete
risco teu
nome na dureza do concreto
Enquanto
penso
o tempo
foge
foge a
espera
o amor
adivinhado.
Sopro das
letras
o pó
o sentido
esvaziado
e talvez
acrescente:
nunca te
fui fiel.
Repouso o
estilete
no peito
leme
à deriva
“Concerto de palavras” é o título da coletânea anual de textos, em prosa e verso, da Oficina Literária Paulo Caldas.
O livro tem a presença de 25 participantes, o prefácio da professora Valdenides Cabral, as orelhas assinadas pelos escritores Alexandre Medeiros e Márcia Balazeiro Coelho, e contracapa de Aderson Simões Belo.
Na apresentação, Paulo Caldas afirma: “sou corta jaca das letras e melodias, alcoviteiro de quem se aprochega, flerta e se entrega às maravilhas de sons e versos por vocação, impulso ou fuga do ócio, daí a ousadia de reger a oficina, estúdio onde sob harmonias e batutas solidárias, escrevemos as partituras das canções desta coletânea, juntos num palco feérico de cortinas abertas para o nosso concerto de sentimentos e emoções”.
A edição, que comemora os 12 anos de atividades da Oficina, traz o projeto visual da artista gráfica Bel Caldas e a primorosa impressão da FacForm Impressos Limitada.
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