terça-feira, 26 de outubro de 2021

TROCA DE FAVORES - Heraldo Lins

 


TROCA DE FAVORES 


No elevador sempre encontro a moça bonita que me dá bom-dia. Contou-me que sua mãe viajará para a Europa e que ficará sozinha por três meses. Estou esperançoso que ela peça minha ajuda para não dormir sozinha. 

Ela conversa sem parar e me chama de vizinho bom. Enquanto descemos, olha o celular e pede desculpas por estar respondendo mensagens. É a primeira vez que vejo alguém se desculpar por desviar a atenção enquanto conversa. Tudo bem, digo com raiva dissimulada. 

Ontem ela veio buscar duas colheres de açúcar. Minha vontade era presenteá-la com, pelo menos, meia xícara. Falou que recebe muitos presentes, menos de açúcar, pensei comigo enquanto lhe dava as duas colheradas. No momento do pedido ela estava adocicada com uma saia curtíssima e um decote solto. Fiquei admirando a paisagem enquanto ela sugava, fazendo barulho, um copo de milk-shake. Lambeu os lábios com um olhar atravessado e me contou da sua participação nos famosos desfiles. Quis estourar uma acne que saiu no meu rosto. Depois ficou procurando outras e mais outras até ficar bem familiarizada com meu cheiro. 

Estávamos entretidos e de repente, virou-se, levantou as tranças e pediu-me para tocar sua nuca. Estava sentindo uma dorzinha e queria que eu massageasse seu pescoço e ombros. Durante meus toques ela encostou-me na parede e apoiou-se em mim dizendo que era para ficar mais confortável. Disse-me que achava que estava me explorando de tanto pedir coisas emprestadas e nunca se lembrar de devolver. Queria poder emprestar-me algo, mas não sabia o quê. Sugeri. Ela aceitou e, depois de vestir-se, foi embora levando iogurte, café e leite.   


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 14/10/2021 – 14:13



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