TRANSFORMAÇÕES DE APARÊNCIAS
I
A escada da velhice
Vou subindo passo a passo
Obedecendo o compasso
Que o tempo fez que eu subisse
Mas carrego na lembrança
Meus bons tempos de criança
No convívio dos meus pais
Hoje vivo de saudade
Meus pais, na eternidade,
Nem eles eu tenho mais.
II
Apenas recordações
Dos meus tempos de criança
Agora que a idade avança
Me chegam as recordações
Dos tempos de juventude
Revestido de saúde
Fracasso, eu desconhecia
Parece que a ilusão
Invadiu meu coração
Na mente, tanta ambição
Heroísmo e fantasia.
III
Esta grande diferença
Que o tempo fez eu aceito
O destino é tão perfeito
Que nos dá esta sentença
Quando novo a gente pensa
Que nunca, nunca envelhece
E o corpo nunca adoece
E o coração nunca falha
Mas por trás desta muralha
Não sabe o que acontece.
IV
Bons momentos já passei
No vigor da juventude
Zombei de minha saúde
Os limites extravasei
Hoje sinto que errei
Porque fui intransigente
E emocionadamente
Estou o resultado
As ilusões do passado
Destruindo o meu presente.
V
Hoje sinto que o cansaço
Faz-me ameaças constantes
Coisas que fazia antes
Muitas delas, hoje, não faço
Mesmo assim me satisfaço
Com tudo que Deus me deu
Se ainda no apogeu
Fiz tanta extravagância
Foi fruto da ignorância
Onde o culpado fui eu.
VI
Entre os momentos felizes
Tive algumas frustações
Amarguei decepções
Superei todas as crises
E sem cometer deslizes
Perante as autoridades
Fiz algumas caridades
Em prol do irmão faminto
Até hoje ainda sinto
O valor das amizades.
VII
Quando olho no espelho
Noto logo a diferença
Tendo uma vontade imensa
De chorar fico vermelho
Lembro de cada conselho
Que meu pai sempre me dava
Na presença eu aceitava
Mas quando ele saía
Quase sempre eu esquecia
E no erro continuava.
VIII
Será que valeu a pena
Eu querer me fazer de forte?
E agora clamar da sorte
E dizer que ela condena?
Se esta vida é tão pequena
O que me resta dizer?
Se eu fiz por merecer
E ainda estou resistindo?
Por cada momento lindo
Só tenho é que agradecer.
IX
Portanto nunca é demais
A gente se precaver
Para mais tarde não ver
Em nossos órgãos vitais
Falhas circunstanciais
Abalando as estruturas
Transformando as criaturas
Num estado decrescente
E agem abreviadamente
Em nossas musculaturas.
X
Eis aí o resultado
De quem expôs sua vida
É a saúde deprimida
E visivelmente cansado
Trago as marcas do passado
Estampadas no meu rosto
Daquele moço disposto
Hoje só resta a saudade
Mostrando a realidade
Mesmo num sentido oposto.
XI
Tem mita gente fingindo
Escondendo esta mudança
Nega que a idade avança
E continua mentindo
Vendo as forças se retraindo
Mas dizendo: Estou legal
Isso é falta de moral
Tentar enganar o povo
Mentir dizendo que é novo
Iludindo o pessoal.
XII
Já vi velho revoltado
Culpando o próprio destino
É aí que imagino
Não será ele o culpado?
Se seu físico avantajado
Sumiu prematuramente
Essas marcas deprimentes
E essas rugas no rosto
É mostrando o lado oposto
Que os tempos deixam na gente.
Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, o popularíssimo DAXINHA.
03/11/2009
Só verdades!! Como ele mesmo dizia: "O tempo dá; o tempo tira". Grande texto!! Obrigada mais uma vez, Gilberto!! ❤️
ResponderExcluirIsso e que é verso
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