sábado, 3 de julho de 2021

TRANSFORMAÇÕES DE APARÊNCIAS - Poeta Daxinha



TRANSFORMAÇÕES DE APARÊNCIAS



I

A escada da velhice

Vou subindo passo a passo

Obedecendo o compasso

Que o tempo fez que eu subisse

Mas carrego na lembrança

Meus bons tempos de criança

No convívio dos meus pais

Hoje vivo de saudade

Meus pais, na eternidade,

Nem eles eu tenho mais.

II

Apenas recordações

Dos meus tempos de criança

Agora que a idade avança

Me chegam as recordações

Dos tempos de juventude

Revestido de saúde

Fracasso, eu desconhecia

Parece que a ilusão

Invadiu meu coração

Na mente, tanta ambição

Heroísmo e fantasia.

III

Esta grande diferença

Que o tempo fez eu aceito

O destino é tão perfeito

Que nos dá esta sentença

Quando novo a gente pensa

Que nunca, nunca envelhece

E o corpo nunca adoece

E o coração nunca falha

Mas por trás desta muralha

Não sabe o que acontece.

IV

Bons momentos já passei

No vigor da juventude

Zombei de minha saúde

Os limites extravasei

Hoje sinto que errei

Porque fui intransigente

E emocionadamente

Estou o resultado 

As ilusões do passado

Destruindo o meu presente.

V

Hoje sinto que o cansaço

Faz-me ameaças constantes

Coisas que fazia antes 

Muitas delas, hoje, não faço 

Mesmo assim me satisfaço

Com tudo que Deus me deu

Se ainda no apogeu

Fiz tanta extravagância

Foi fruto da ignorância

Onde o culpado fui eu.

VI

Entre os momentos felizes

Tive algumas frustações

Amarguei decepções

Superei todas as crises

E sem cometer deslizes

Perante as autoridades

Fiz algumas caridades

Em prol do irmão faminto

Até hoje ainda sinto

O valor das amizades.

VII

Quando olho no espelho

Noto logo a diferença

Tendo uma vontade imensa

De chorar fico vermelho

Lembro de cada conselho

Que meu pai sempre me dava

Na presença eu aceitava

Mas quando ele saía

Quase sempre eu esquecia

E no erro continuava.

VIII

Será que valeu a pena

Eu querer me fazer de forte?

E agora clamar da sorte

E dizer que ela condena?

Se esta vida é tão pequena

O que me resta dizer?

Se eu fiz por merecer

E ainda estou resistindo?

Por cada momento lindo

Só tenho é que agradecer.

IX

Portanto nunca é demais

A gente se precaver

Para mais tarde não ver

Em nossos órgãos vitais

Falhas circunstanciais

Abalando as estruturas

Transformando as criaturas

Num estado decrescente

E agem abreviadamente

Em nossas musculaturas.

X

Eis aí o resultado

De quem expôs sua vida

É a saúde deprimida

E visivelmente cansado

Trago as marcas do passado

Estampadas no meu rosto

Daquele moço disposto

Hoje só resta a saudade

Mostrando a realidade

Mesmo num sentido oposto.

XI

Tem mita gente fingindo

Escondendo esta mudança

Nega que a idade avança

E continua mentindo

Vendo as forças se retraindo

Mas dizendo: Estou legal

Isso é falta de moral

Tentar enganar o povo

Mentir dizendo que é novo

Iludindo o pessoal.

XII

Já vi velho revoltado

Culpando o próprio destino

É aí que imagino

Não será ele o culpado?

Se seu físico avantajado

Sumiu prematuramente

Essas marcas deprimentes

E essas rugas no rosto

É mostrando o lado oposto

Que os tempos deixam na gente.


Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, o popularíssimo DAXINHA.

03/11/2009 


2 comentários:

  1. Só verdades!! Como ele mesmo dizia: "O tempo dá; o tempo tira". Grande texto!! Obrigada mais uma vez, Gilberto!! ❤️

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