ERREI NA MEDICAÇÃO
Mês passado em meu consultório: doutor, descobri que sou louco e quero a cura dessa loucura. Pedi para ele dizer o que o levou a essa conclusão. Ele disse que a sua loucura consiste em acreditar em tudo que escuta. Já sofreu batida por obedecer à sinalização; foi ameaçado ao querer saber sobre promessas de campanha não cumpridas. Outra variante da sua loucura é ser pontual. Depois de escutá-lo sobre suas manias, dentre elas, a de não conseguir perceber o que é brincadeira e o que é sério, disse-lhe que ele era possuidor de uma doença rara chamada honestidade crônica. O portador desse mal não se adapta ao mundo das enganações, ou seja, não se adapta ao mundo real. O tratamento para esse tipo de mal, disse-lhe, é participar de um grupo de teatro e ensaiar a peça chamada ironia dissimulada. Esse texto consiste em um diálogo do cotidiano, onde os participantes sempre dizem o contrário do que pensam. Como seria doutor? Bom, vamos exemplificar. No final de uma conversa, você diz para a sua interlocutora que vai ligar para conversarem com mais tempo e se ela adoecer, pode ligar que você irá ajudá-la. Lembre-se, jamais faça o que promete senão interrompe o tratamento. Se uma outra pessoa perguntar o que você acha dela, responda-lhe que nunca havia visto uma pessoa tão bonita quanto ela e que se tornará santa depois que morrer. Nunca questione as mentiras que lhe contam. Coloque na máscara um sorriso, mesmo que esteja triste. Diga aos outros que o dia melhorou porque os encontrou. Com esse proceder você sairá desse estágio de loucura. Ele entendeu tão bem a lição que até hoje não pagou a consulta como havia prometido. Não posso nem forçá-lo senão altera o tratamento.
Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)
Natal/RN, 12/01/2021 – 14:48
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