ALECRIM TOTAL...
... e o La La Land-Brega do Homo-sapiens com a Mulha-Sapiens
Alecrim, Natal/RN, Brasil-Esquina. Bairro suburbano, de forte e
desvairado comércio. Que te engole-consome totalmente que
nem fera faminta, mugindorugindo, pronta pra dar o bote. Eu o chamo
de AlecrimTotal. Terra de todos e de ninguém.
Há sempre no ar uma
efervescência de chopp tirado na hora. Ou do sonrisal da
ressaca.
Ali, todas mercadorias de
marca têm sua réplica e tréplica. Há plágio total de tudo.
Olha só, gente boa, as camisas
de grife famosa - polo, hollister, calvin klein... - são todas os olhos
da cara nos shopis dos bairros nobres. No AlecrimTotal,
nos camelódromos, um simulacro porreta dessas consumices classe alta,
igualzinho ao original, cê compra a preço de banana.
Qualquer metrosexual-bolsa-famíia
pode desfilar nos trinques a baixo custo. Agora, da terceira lavagem
em diante, não há garantia, nem responsa. A camisa
"de marca" do AlecrimTotal vai se esfrangalhando e
não tem jeito que dê jeito.
O Alecrim-Total, tenho
pra mim, que é um dos Portais do Infinito da Vida, na
sua exótica e misteriosa versão brega.
... é isso mano... ali onde o cão já
não chupa manga. Mas xupa xanas suadas, à miúdo.
abro parêntesis de resistência
cult-brega. (Insisto sempre que xifres,
xifrâncias, e similares, é com "x" mesmo. Tem a ver com o
"x" de xanas e ximbas, mal-degustadas, mal-amadas. Mal d'amores
incruados. Já com "ch" se refere à galharia dos
animais; e ao discurso dos gramáticos ungidos-mugidos na purificação
gramatiqueira) fecho rápido o parêntesis.
Paira nas ruas do centro comercial do
AlecrimTotal a impressão de um algo indefinível que vai
acontecer. Mas nunca acontece.
Que nem a Bolsa, os preços são
maceteados e variam por entre as barracas e gritos dos camelôs. Há uma alegrianervosa
nas vozes. Misteriosidades bregas-chulas espreitam nas esquinas e na
multidão.
Contra toda a tradição clássica,
Levinas, filósofo franco-judaico do inicio do século XX, afirma que
é a partir do rosto-do-Outro, no face-a-face, que jorra o
sentido da Vida e se intui a misteriosidade do Infinito.
Daí, mago-velho, se você quer
ver-sentir-entrar nos deslumbrares e mistérios alucinógenos do Infinitão vá
ao AlecrimTotal. Vá na tardemansa com uns dois-tres uisks
na cuca e deixe a coisa rolar.
Se deixe entrar-e-rolar
naquela multidão de rostos suados, cansados, de olhosbocasdentes-desdentados entrando
pelo teu rosto, rindo alto, gestifalando sem parar, num fluxo apressado ou lentivagando
e barulhando a Vida, barulhando Vidas, como o riiverrun de
Joyce, na genial tronchura literária de "Finnegans Wake".
Ali, no AlecrimTotal, te
entra rosto a dentro, na marra, não a visão teórica, nem matemática, nem
astrofísica, nem metafísica... mas a visão da tragicomédia humana plena
de reticências, rítmos, dramas, risos, brigas, movimentos, sonhos,
desejos, esperas, partidas... escangalhos do Infinitaço dentro
de nós.
Ali, o Infinitaço,
sem pedir licença, nos penetra e transborda dos nós-de-nós, do bric-à-brac
da multidão, dos vuco-vucos, das barracas, dos gritos dos ambulantes, dos
ônibus buzzzibufando... num psicobio vuco-vuco...sim, sim,
sem pedir licença, ele mesmo o Infinitão. Ali.
,
Ali, entonces, as sábias
palavras de tio-Camus sobre o existencialismo da Vida saltam de seu mágico
texto teórico de "O Mito de Sísifo", e grudam na
pele da gente. Sacodem ids, brios, bagos, cachos, sonhos... "Viver
é fazer viver o Absurdo. E fazer viver o Absurdo é encará-lo".
Xanavá, Camus-velho!
O velho AlecrimTotal carrega
em suas esquinas e calçadas a presença absurda do Infinitaço, com
pele-osso-bunda e sandálias havaianas.
Ali, se materializa o deus de
Nietzsche, nas palavras de Zaratustra: "Eu só poderia acreditar num deus
que soubesse dançar!
Quer dizer: um deus só é
possível em sua divina dança de loucalegria! Um deus dançarino!
A bregalhada sui generis
do AlecrimTotal, chaparia, flui e s’engancha nos
passospassantes do povão. Como dança enloucada de tristealegria. Feita de
catrevagens, sonhos-chocos, paranóias, xavecos, xistes, xibas, xerecas,
cestas básicas, desempregos... Dança de zumbís encachaçados e aquengalhados.
Que intriga, espanta, sacode. Fascina.
Q-diabo-é, m’ermão?!
Há cenas que de tão absurdas valem um
estudo de pós-graduação para revisão de conceitos filosóficos, sociais,
políticos, psicológicos, ideológicos. Que carregamos como absolutos. Talvez,
mago-velho, a gente só possa compreender o AlecrimTotal com
métodos surrealistas.
Talvez com o "método
paranóico-crítico de interpretação da realidade", como chamava Salvador
Dali seu método de captar para sua pintura a VidaReal. Figuras saindo
dentro de figuras. Num ângulo uma coisa. Noutro ângulo outra coisa.
Vejam só, recebo de uma ex-aluna
o vídeo-linkado-abaixo, no final dessa croniketa, que pela intensidade
gestual, rítmica, exótica, mostra ao vivo e a côres esse enfoque surreal
daliniano.
É uma cômicabsurda
cena de rua no AlecrimTotal. dum casal malucóide se
divertindo na calçada. Casal morador de rua. Ele, um caba-da-peste
chamado Pinga. Ela, uma doidinha chamada Marvada.
Pra que nome, meu rei?
Um homo-sapiens-alecrinensis e
uma mulha-sapiens-idem (com licença da ex-presidenta Dilma), ambos
legítimos consumidores da velha liamba e da inevitável caninha-51.
.
Ambos bebaços.
Ambos, com sua coreografia loucalegre,
mandando-ver no exótico barulho da Dança do Arrocha. Ambos num puta-love
de estraçalhar xifres, corações, cotovêlos, por ai... Ambos num zing-zumba
daporra. Ali, no AlecrimTotal. Ambos.
:
Eis ai, os momentos da suma felicidadeinfeliz,
na calçada da Retífica Nenê, Alecrim Total, RN/Brasil-Esquina Um La La
Land-Brega. Onde a MarvadaDoidinha e o PingaDoidão, goró-encharcados, dançam
uma mistura de carimbó com dança-do-cu-duro e arrocha.
Oiééééé, chaparia, te segura!
Não são só gaiatos. Nem anjos, nem
demônios. Eles.
São tudo isso.
São, portanto, pré e pós
qualquer valor.
Neles, a força elementar da louquidão
cósmica que nos habita, se soltando na burakera urbana.
Eles são sem-trabalho, sem-teto,
sem-terra, por vocação.
Eles são dançadores da dança-miserável
da VidaViva.
Que não constrói, nem destrói nada.
Só incomodam nossos empertigados
princípios politicamente corretos-e-corruptos. Ideologia pra eles deve ser
marca de pinga.... vamutomáuma Ideologia aí, cumpadi!
Dançam a alegria do Nada.
Dançam o desespero-de-causa,
sem causa.
Eles são ferozmente-alegres, abertamente-indignos
e só lutam mesmo pela cachacinha nossa de cada dia.
Eles é que zonam com todos os deuses
do BigBang e do ApocalipseCráu... que também só
podem ser nomes de cachaça de gringo.
Mas eles têm sua fezinha-brega nos
caboclos e São Jorge.
Ali, no AlecrimTotal.
Pra eles não há crise financeira, porranenhuma.
Nem as complicações teóricas e
práticas de excluídos, incluídos, moral, cotas... etc.
Eles já são todas as crises.
Eles já são os sem-frescura, e
sem-grana.
Eles já são os concluídos
do sistema e et-cetera-e-tal...
Levantai-vos, hermanos!
Ecce HomoAlecrinensis-Quase-Erectus, na visão bregalegresofrida, da pós-pós-modernidade do SuperHomem
de Nietzsche .
Deus é um delírio dos homens, escreveu o biólogo Richard Dawkins, ateu de carteirinha, num
livro de 2006, com mais de 500 páginas... éééé...
é possível... tudo é possível... nesse mundo em "que
somos feitos da mesma matéria dos sonhos", como diz o mago Próspero,
na peça A Tempestade, de Shakespeare...
Mais do que simples sonhos e delírios
perdidos, quem sabe Pinga e Marvada, não sejam um nó-de-nós
social de nós mesmos?
Mas quem sabe, velhão, não
haja mesmo um alegre delírio dos deuses e caboclos baixando
com tudo na dança descranguelhada do La La Land-Brega do Pinga e da Marvada*, lá
no AlecrimTotal ?
Diga aí, malandro!
*Vídeo de dupla dançando no Alecrim: https://youtu.be/9goehTPaNE4
botecodo(in)finito
Natal, RN~Brasil-Esquina
16/2/2017
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