terça-feira, 16 de março de 2021

ALECRIM TOTAL... Ruben G Nunes

 





ALECRIM  TOTAL... 

... e o La La Land-Brega do Homo-sapiens com a  Mulha-Sapiens

 

Alecrim, Natal/RN, Brasil-Esquina. Bairro suburbano, de forte e desvairado comércio. Que te engole-consome totalmente que nem fera faminta, mugindorugindo, pronta pra dar o bote. Eu o chamo de AlecrimTotal. Terra de todos e de ninguém.

 

Há sempre no ar uma efervescência de chopp tirado na hora. Ou do sonrisal da ressaca.

 

Ali, todas mercadorias de marca têm sua réplica e tréplica. Há plágio total de tudo.

 

Olha só, gente boa, as camisas de grife famosa - polo, hollister, calvin klein... - são todas os olhos da cara nos shopis dos bairros nobres. No AlecrimTotal, nos camelódromos, um simulacro porreta dessas consumices classe alta, igualzinho ao original,  compra a preço de banana.

 

Qualquer metrosexual-bolsa-famíia pode desfilar nos trinques a baixo custo. Agora, da terceira lavagem em diante, não há garantia, nem responsa. A camisa "de marca" do AlecrimTotal vai se esfrangalhando e não tem jeito que dê jeito.

 

O Alecrim-Total, tenho pra mim, que é um dos Portais do Infinito da Vida, na sua exótica e misteriosa versão brega.

 

... é isso mano... ali onde o cão já não chupa manga. Mas xupa xanas suadas, à miúdo.

 

abro parêntesis de resistência cult-brega. (Insisto sempre que xifres, xifrâncias, e similares, é com "x" mesmo. Tem a ver com o "x" de xanas e ximbas, mal-degustadas, mal-amadas. Mal d'amores incruados. Já com "ch" se refere à galharia dos animais; e ao discurso dos gramáticos ungidos-mugidos na purificação gramatiqueira) fecho rápido o parêntesis.

 

Paira nas ruas do centro comercial do AlecrimTotal a impressão de um algo indefinível que vai acontecer. Mas nunca acontece.

 

Que nem a Bolsa, os preços são maceteados e variam por entre as barracas e gritos dos camelôs. Há uma alegrianervosa nas vozes. Misteriosidades bregas-chulas espreitam nas esquinas e na multidão.

 

Contra toda a tradição clássica, Levinas, filósofo franco-judaico do inicio do século XX, afirma que é a partir do rosto-do-Outro, no face-a-face, que jorra o sentido da Vida e se intui a misteriosidade do Infinito.

 

 

Daí, mago-velho, se você quer ver-sentir-entrar nos deslumbrares e mistérios alucinógenos do Infinitão vá ao AlecrimTotal. Vá na tardemansa com uns dois-tres uisks na cuca e deixe a coisa rolar.

 

Se deixe entrar-e-rolar naquela multidão de rostos suados, cansados, de olhosbocasdentes-desdentados  entrando pelo teu rosto, rindo alto, gestifalando sem  parar, num fluxo apressado ou lentivagando e barulhando a Vida, barulhando Vidas, como o riiverrun de Joyce, na genial tronchura literária de "Finnegans Wake".

 

Ali, no AlecrimTotal, te entra rosto a dentro, na marra, não a visão teórica, nem matemática, nem astrofísica, nem metafísica... mas a visão da tragicomédia humana plena de reticências, rítmos, dramas, risos, brigas, movimentos, sonhos, desejos, esperas, partidas... escangalhos do Infinitaço dentro de nós.

 

Ali, o Infinitaço, sem pedir licença, nos penetra e transborda dos nós-de-nós, do bric-à-brac da multidão, dos vuco-vucos, das barracas, dos gritos dos ambulantes, dos ônibus buzzzibufando... num psicobio vuco-vuco...sim, sim, sem pedir licença, ele mesmo o Infinitão. Ali.

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Ali, entonces, as sábias palavras de tio-Camus sobre o existencialismo da Vida saltam de seu mágico texto teórico de "O Mito de Sísifo", e grudam na pele da gente. Sacodem ids, brios, bagos, cachos, sonhos... "Viver é fazer viver o Absurdo. E fazer viver o Absurdo é encará-lo".

 

Xanavá, Camus-velho!

 

 

O velho AlecrimTotal carrega em suas esquinas e calçadas a presença absurda do Infinitaço, com pele-osso-bunda e sandálias havaianas.

 

Ali, se materializa o deus de Nietzsche, nas palavras de Zaratustra: "Eu só poderia acreditar num deus que soubesse dançar!

 

Quer dizer: um deus só é possível em sua divina dança de loucalegria! Um deus dançarino!

 

A bregalhada sui generis do AlecrimTotal, chaparia, flui e s’engancha nos passospassantes do povão. Como dança enloucada de tristealegria. Feita de catrevagens, sonhos-chocos, paranóias, xavecos, xistes, xibas, xerecas, cestas básicas, desempregos... Dança de zumbís encachaçados e aquengalhados. Que intriga, espanta, sacode. Fascina.

 

Q-diabo-é, m’ermão?!

 

Há cenas que de tão absurdas valem um estudo de pós-graduação para revisão de conceitos filosóficos, sociais, políticos, psicológicos, ideológicos. Que carregamos como absolutos. Talvez, mago-velho, a gente só possa compreender o AlecrimTotal com métodos surrealistas.

 

Talvez com o "método paranóico-crítico de interpretação da realidade", como chamava Salvador Dali seu método de captar para sua pintura a VidaReal. Figuras saindo dentro de figuras. Num ângulo uma coisa. Noutro ângulo outra coisa.

 

Vejam só, recebo de uma ex-aluna o vídeo-linkado-abaixo, no final dessa croniketa, que pela intensidade gestual, rítmica, exótica, mostra ao vivo e a côres esse enfoque surreal daliniano.

 

É uma cômicabsurda cena de rua no AlecrimTotal. dum casal malucóide se divertindo na calçada. Casal morador de rua. Ele, um caba-da-peste chamado Pinga. Ela, uma doidinha chamada Marvada. Pra que nome, meu rei?

 

Um homo-sapiens-alecrinensis e uma mulha-sapiens-idem (com licença da ex-presidenta Dilma), ambos legítimos consumidores da velha liamba e da inevitável caninha-51.

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Ambos bebaços.

 

Ambos, com sua coreografia loucalegre, mandando-ver no exótico barulho da Dança do Arrocha. Ambos num puta-love de estraçalhar xifres, corações, cotovêlos, por ai... Ambos num zing-zumba daporra. Ali, no AlecrimTotal. Ambos.

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Eis ai, os momentos da suma felicidadeinfeliz, na calçada da Retífica Nenê, Alecrim Total, RN/Brasil-Esquina Um La La Land-Brega. Onde a MarvadaDoidinha e o PingaDoidão, goró-encharcados, dançam uma mistura de carimbó com dança-do-cu-duro e arrocha.

 

Oiééééé, chaparia, te segura!

 

Não são só gaiatos. Nem anjos, nem demônios. Eles.

São tudo isso.

São, portanto, pré e pós qualquer valor.

 

Neles, a força elementar da louquidão cósmica que nos habita, se soltando na burakera urbana.

 

Eles são sem-trabalho, sem-teto, sem-terra, por vocação.

Eles são dançadores da dança-miserável da VidaViva.

Que não constrói, nem destrói nada.

Só incomodam nossos empertigados princípios politicamente corretos-e-corruptos. Ideologia pra eles deve ser marca de pinga.... vamutomáuma Ideologia aí, cumpadi!

 

Dançam a alegria do Nada.

Dançam o desespero-de-causa, sem causa.

Eles são ferozmente-alegres, abertamente-indignos e só lutam mesmo pela cachacinha nossa de cada dia.

 

Eles é que zonam com todos os deuses do BigBang e do ApocalipseCráu... que também só podem ser nomes de cachaça de gringo.

 

Mas eles têm sua fezinha-brega nos caboclos e São Jorge.

Ali, no AlecrimTotal.

 

Pra eles não há crise financeira, porranenhuma.

Nem as complicações teóricas e práticas de excluídos, incluídos, moral, cotas... etc.

 

Eles já são todas as crises.

Eles já são os sem-frescura, e sem-grana.

Eles já são os concluídos do sistema e et-cetera-e-tal...

 

Levantai-vos, hermanos! Ecce HomoAlecrinensis-Quase-Erectus, na visão bregalegresofrida, da pós-pós-modernidade do SuperHomem de Nietzsche .

 

Deus é um delírio dos homens, escreveu o biólogo Richard Dawkins, ateu de carteirinha, num livro de 2006, com mais de 500 páginas... éééé... é possível... tudo é possível... nesse mundo em "que somos feitos da mesma matéria dos sonhos", como diz o mago Próspero, na peça A Tempestade, de Shakespeare...

 

Mais do que simples sonhos e delírios perdidos, quem sabe Pinga e Marvada, não sejam um nó-de-nós social de nós mesmos?

 

Mas quem sabe, velhão, não haja mesmo um alegre delírio dos deuses e caboclos baixando com tudo na dança descranguelhada do La La Land-Brega do Pinga e da Marvada*, lá no AlecrimTotal ?

 

Diga aí, malandro!


*Vídeo de dupla dançando no Alecrim:  https://youtu.be/9goehTPaNE4

 

botecodo(in)finito

Natal, RN~Brasil-Esquina

16/2/2017


Assista essa importante entrevista em um dos seguintes links:

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