SAPIÊNCIA SOBRANDO
O treino constante transforma simples vontade em genialidade. Para treinar com afinco precisa-se amar a prática. O pai de Rui Barbosa, quando bêbado, obrigava o menino franzino a subir em um tamborete e discursar por horas madruga adentro. Se parasse, apanhava. Adulto, representou o Brasil em um congresso e saiu de lá com o apelido de águia de Haia. Sua genialidade o fez perguntar: em qual língua vocês querem que eu faça meu discurso? Dominava vários idiomas, inclusive, línguas mortas. Lembro-me de Bruce Lee. Quando seu professor fui, nem acreditava naquele frangote. Fiquei responsável pelo treinamento na água. Em um deles, o desafio era passar por cima de toras de madeira que boiavam num imenso tanque construído para aquele fim. Depois de dois meses, alguns ainda fracassavam naquele exercício. Bruce no segundo dia conseguira. O detalhe: enquanto os outros dormiam, ele saiu pé ante pé e foi treinar no tanque. Acordei com o barulho e testemunhei o poder da dedicação. Outro aluno meu foi Santos Dumont. O pai dele queria que o menino lutasse karatê. Não era a aptidão natural dele, é tanto que assim que ele teve chance, saiu voando da escola. Soube depois que ele inventou o ventilador e o mosquito da dengue, não sei bem o que foi. Quem me disse falou em um bicho que voa. Outro aluno que me deu muito trabalho foi um chamado Sócrates. Ele tinha uma baixa autoestima muito acentuada. Tudo que eu lhe perguntava ele dizia que não sabia. Dois mais dois? Não sei. E além de não saber era metido a besta. Lembro-me certa vez quando lhe perguntei: qual a mulher do touro? Não existe, ele respondeu. O que existe é a fêmea do touro. Mulher é de homem. Depois dessa malcriação fiquei no pé dele até eu dispensá-lo quando em outro momento ele respondeu: só sei que nada sei. Não havia motivo para ficar com alguém que só quer aprender a não aprender. Mas um que eu nunca pude esquecer foi bem mais malcriado do que Sócrates. Um tal de Einstein. Vivia no mundo da lua. Muitíssimo distraído. Eu passava as lições e quando chegava a vez dele, respondia mostrando a língua. Um desaforo grande para um professor tradicional como eu. Colocava ele de castigo e cada vez mais a língua aparecia em cena. Dispensei também. Alguns eu nem aceitei matricular-se na minha escola. Na primeira entrevista que fiz com um tal de Galileu, ele veio com uma história de que a terra é redonda e que o sol é o centro do universo. Confessei-me com o bispo e ele me disse: não, esse aí não. Cruz credo!
Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)
Natal/RN, 15/12/2020
showdemamulengos@gmail.com
84-99973-4114
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