segunda-feira, 30 de março de 2020

REFLEXÕES SOBRE O PRESENTE E O FUTURO DA PANDEMIA - Psicóloga Lindonete Câmara

O texto abaixo faz parte de um projeto idealizado por Júlio César, psicólogo que consiste em "escrever um texto onde, baseados em nossas experiências de vida, relataremos o que entendemos que irá acontecer após a decretação do final da pandemia." Você que nos lê sinta-se convidado a fazer parte desta ideia. - Gilberto Cardoso dos Santos




REFLEXÕES SOBRE A SAÚDE MENTAL E O FIM DA PANDEMIA: MEDO E SUPERAÇÃO

Fui convidada a escrever sobre o que penso em relação ao fim da pandemia no Brasil. Infelizmente, visualizo uma árdua situação no que se refere às questões na área da saúde mental. No entanto, inicialmente sinto a necessidade de fazer uma breve explanação de como vejo o quadro atual. Com flexibilidade reconheço a preocupação e o medo da sociedade com o sofrimento instalado no mundo inteiro. Também tenho receio, mas estou procurando conviver em meio a esses riscos com cautela e em quarentena, levando em consideração que continuo no exercício da profissão.
Sobre a escancarada doença, e sua alta taxa de mortandade, é natural que o ser humano sinta medo, sendo esta uma emoção que lhe é peculiar, o qual alerta quando a vida está em perigo e mostra como o indivíduo pode se proteger. Por outro lado, estamos vivendo uma grande disseminação de informações sobre o Covid-19, fato que está causando um medo exacerbado na população e que provavelmente se transformará em transtornos de ansiedade nas suas diversas patologias. As pessoas estão se encharcando de notícias ruins e reais, muitas notícias falsas, as chamadas fake news, e com esse dimensionamento pode produzir um aumento considerável de adrenalina e cortisol, consequentemente baixando a imunidade e diminuindo a capacidade cognitiva para gerenciar essa situação difícil. Podemos nos informar de forma comedida, pelo menos duas vezes ao dia, talvez seja o ideal. Neste sentido, cada indivíduo precisa seguir as orientações das autoridades de saúde por serem as que têm embasamento científico sobre o assunto, tomar todas as providências necessárias e possíveis para diminuir os riscos de contrair o vírus, não tendo como espalhá-lo. Vale igualmente fazer higiene mental diariamente, saber administrar o medo e permanecer numa linha de equilíbrio para não adoecer de forma psicossomática antes do que venha de fato acontecer ou não. O medo além de ser contagiante, não deve paralisar o bom funcionamento psicológico, mas trazer responsabilidade sobre os cuidados pessoais e ajudar no compromisso com as demais pessoas que convivemos. Precisamos enfrentar o medo sem o desenvolvimento do pânico e sem causá-lo a outros, buscando ferramentas para a manutenção da paz, não nos tornando e não tornando outros reféns de adoecimentos psíquicos.
Diante de tal situação, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelecer em declaração o fim da pandemia, poderemos vir a ter um número expressivo de pessoas vivenciando inúmeros sintomas psíquicos limitantes. A depender de intervenção equivocada ou insuficiente das autoridades governamentais poderemos viver um caos ainda maior na desigualdade social, na economia, e, entre outras perdas, teremos a perda humana que é irrecuperável. Nessa última perspectiva, a orientação é que todos os que possuem casa, e que podem, devem permanecer nelas.
Em contrapartida, acredito também que poderá haver inúmeros ganhos, como uma nova expansão da consciência, do espírito e da solidariedade.  O apelo é: façamos nossa parte, cumpramos todas as medidas de isolamento e restrições até a volta da normalidade dentro das possibilidades, cuidemos de nós e de quem está ao nosso lado, sejamos empáticos; não teremos risco zero com isso, mas evitaremos o pior. Se já estiver ansioso, sem conciliar bem o sono, preocupado em excesso com o vírus, com o futuro, com a morte, com a vida, procure ajuda de profissionais da psicologia e da psiquiatria, se ajude.
Procure se abster das enxurradas de informações e dos acentuados dados da pandemia, busque a resiliência para se adaptar a essa realidade que não podemos transformá-la com a velocidade da internet e suas notícias. Vivamos um dia de cada vez na certeza que tudo passa. Assim, mencionando a Lulu Santos e Nelson Motta:

Nada do que foi será
De novo do jeito que já foi um dia
            Tudo passa, tudo sempre passará.

Espero que a humanização invada cada mente, coração e alma.




Lindonete Câmara, Psicóloga.
João Pessoa, 30 de março de 2020.


Adquira o livro Centelhas Poéticas, da autora, que será lançado após a quarentena








6 comentários:

  1. Excelente reflexão, Lindonete! Necessária e bem tecida! Nota máxima.

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  2. Muito bom.👏👏👏👏👏👏 Esclarecedor e grande contribuição para a sociedade que está assolada de tanto medo.

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  3. O cerne é que todos nós,depois dessa pandemia, não seremos mais os mesmos. Em tudo temos que tirar uma lição só nos resta aprender. Parabéns pela conversa escrita.

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  4. Texto maravilhoso, principalmente neste momento difícil que a humanidade vem convivendo. Realmente o medo é muito presente neste momento. Parabéns Lindonete.

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  5. Excelente texto com conteúdo de ajuda importante neste e no momento futuro.

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