Memórias de um Leitor: Joel Cana Brava
Tentando fazer uma viagem no tempo das
lembranças, consigo encontrar-me no primeiro dia de aula chorando. Não queria
ficar na sala de aula. Hoje se nomeia com nome bonito, Pré- I, Pré-II, Pré-III
da Educação Infantil. Creche? Nunca ouvirmos falar. Nós aqui do Magu, região de
um rio de mesmo nos longínquos distantes do Maranhão, chamávamos de Carta de
ABC- fraca, forte e havia ainda a Cartilha que antecedia a 1ª série do
fundamental.
Na educação formal, tenho essas
reminiscências- o que se aprendia? As vogais, as consoantes, o alfabeto
completo e sua ordem, através de cópias e memorizações. Formar sílabas,
palavras e os primeiros textos rudimentares. Tinha também a tabuada para os
primeiros contatos com os números.Não tive tanto problema com a escola depois
dos choros em consequência da primeira semana de aula.
Na verdade, meu contato com a leitura
começa bem antes. Minha mãe era umas das professorinhas da escola na região- a
única – só até a 4ª série. Então o contato era sempre com os livros, mas como
disse dessa parte não tenho propriedade memorial para falar. Mas posso dizer
que desde a barriga da minha mãe já tive
o contato com leitura. Ou quem sabe bagunçando, rasgando, molhando ou sujando com
resto de comida os papéis dos alunos dela com os quais eu dividia o espaço da
mesa.
Vejo-me também neste instante na casa da
minha avó, revirando as caixas e caixotes com livros de quando minha mãe
estudava o normal superior- peguei todos os livros para mim, uns até hoje
guardados. Gostava de mexer nos livros católicos da minha avó que ficam no
oratório dela: Bíblia de bolso e o catecismo com todas as principais histórias
da Bíblia e da Igreja. Ainda hoje a Bíblia e a história das religiões me
encantam.
Professora Silé (Salete, na verdade) e
Francidenes na Carta de ABC e Cartilha. Elza, Jesus, Célia e Tia Socorro no
fundamental. Lembro-me com tanto carinho de todas e dos meus colegas de sala e
situações significativas. Socorro, Paulinho, Elza, Chaguinha, Eurideia, Nonata,
Marcio e outros no Ginásio- época fantástica, inesquecível de amigos e
professores da 5ª a 8ª série. Dessa época, tenho mais lembranças de grandes
leituras: os contos fantásticos, os poemas, parábulas – com inúmeras
dramatizações que fazíamos, havia os musicais.
É dessa época meu primeiro livro –“Histórias
colegiais” - tenho até hoje- proposta da
professora Socorro Rocha de Português. Ela escreveu quando devolveu o livreto
que eu digitei na máquina de datilografia da escola onde minha mãe trabalhava: “Queridos
alunos, a vida é feita de oportunidades. Oportunidades, grandes, pequenas,
sagradas e triviais. Alegrias e felicidades rondam à nossa volta, a cada hora.
É melancólico demais jogar fora tantas chances de ter e SER MAIS!”. Não joguei
fora aquele comentário no final do livro e eis-me hoje. Um grande leitor e
arranhando na poesia e prosa.
Depois mais maduro, fui fazer outras leituras
agora na cidade grande- Parnaíba-PI, pois no meu povoado só tinha até 8º ano. No
médio, já era um leitor bem mais maduro. Já lia de tudo e escrevia poema,
prosa. Nessa época minha grande paixão era mitologia. Sou fascinado por essas
narrativas. Ela tem muita criatividade.
Hoje sou amante da leitura de maneira
geral. Gosto de ler e escrever sobre minha região. Mas confesso, que tenho me
dedicado mais de ler e ouvir memórias. Mais maduro, tenho me dedicado a elas.
São mais fáceis depois de um tempo. É só fechar os olhos e deixar a pena teclado
correr....
Parabéns, Joel! Que seu exemplo influencie a muitos, pois os efeitos positivos da leitura em sua vida são bem visíveis!
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