domingo, 4 de março de 2018

PRA VOCÊ QUE É DE CUITÉ (Gilberto Cardoso dos Santos)



PRA VOCÊ QUE É DE CUITÉ 
(Gilberto Cardoso dos Santos)

01
Você diz que é de Cuité
Mas nunca ouviu poesia
Na voz de Zé Luzia
Nem conheceu Zé Badé
Nunca foi no cabaré
Lá no morro do Tauá
Nunca treinou com Tatá
Nunca bebeu em Braulino
Não conheceu seu Quinino
Nem Teresa do Fuá.
02
Nunca escutou o fungado
Da fala de Gabirão
Chamando tu de bichão
Nem foi em Assis Furtado
Duvido tu ter cortado
Cabelo em Zé Anulino
Na lagoa de Juvino
Nunca andasse de jangada
E nem comprasse cocada
Na bodega de Justino.
03
Não ouviu nenhuma vez
O Rei do Bico tocando
Nem Bichinho rebolando
Cantando em perfeito inglês.
Não comprou em Milanez
Não viu Dick, o sábio cão
Rugindo igual a um leão,
Depositando dinheiro,
Nem viu o bode Ribeiro
Bebendo ao pé do balcão.
04
Com certeza não jogou
Na banca de Menininho
Na Farmácia de Bastinho
Nunca um xarope comprou.
Nunca assistiu um bom show
No Salão Paroquial
Não estudou no Vidal
Nem ouviu Natanael
Recitando algum cordel
Em um boteco local.
05
Na Casa Sem Nome entrou?
Comprou a Zé Cleodon?
Cacá, no carro de som,
Alguma vez escutou?
Alguma vez se assustou
Quando voltava da escola
Ao ver Maria Pachola
Ou correu de papa-figo?
Teve medo de Pirigo?
No Paxacão, jogou bola?
06
Fale de Antônio Frazão,
Da bodega de Romeu;
De Romildo, filho seu
Severino, seu irmão.
De Otílio, em sua missão
Vigilante eficiente
E do doce de Vicente,
Será que você provou?
Se nada disso alcançou,
Lamento profundamente.
07
Você já ouviu falar
Numa peça envolvente
Onde o Judas, realmente,
Quase veio a se enforcar?
Deu cigarro a Baltazar?
Com Dona Ném estudou?
Camélia o paralisou
Com merecido carão?
Lá em Defa comprou pão?
Quebra-canela, jogou?
08
E da noiva no banheiro
Do Colégio Estadual
Causando susto geral
Você conhece o roteiro?
Tentou ir ao Cajueiro
À procura de mulher?
Me responda, se souber
Se a Dinamérico escutou
Quando na peça exclamou:
“Eis o último chanceler!”
09
“Sou cuiteense da gema”
Diz você que lá morou
Mas será que estudou
Com Amarilis e Dulcema?
E na fila do cinema
Esperou com ansiedade?
No carnaval da cidade
Para o Cuité-Clube ia?
A Nondas, você curtia?
Diga com sinceridade.
10
Você não se fez presente
Quando Francisco José
Repórter, veio a Cuité
E a praça se encheu de gente.
Dick agiu timidamente,
Não foi bom em seu papel.
Mas Antônio Ezequiel
Com isso não se abalou
E até a um peba domou
Sou testemunha fiel!
11
Você conhece Missola?
Talvez não saiba a resposta
Não conheceu Rola-Bosta
Nunca viu Colchão de Mola
Tampouco lhe deu esmola
Nunca ouviu, de forma bruta,
Raja a falar da conduta
Da população inteira
E a repetir: “Brasileira
É tudo filha da puta.”
12
Não ouviu Zé de Nazinha
Apanhando embriagado
Nem um bêbado a ser levado
Por Lourim na carrocinha
Belino esperança tinha
Do filho reencontrar
Você nunca o viu falar
Do seu rapaz importante
Que estava em lugar distante
E rico iria voltar.
13
No Olho Dágua da Bica
Você nunca tomou banho
Nem viu o letreiro estranho
Que ninguém decodifica
Num  milagre que se explica
Uma imagem alguém achou
Biu, zelador,  a botou
Num lugar de adoração
Foi pouca a repercussão
E o projeto não vingou.
14
Você jamais despertou
Com o som nada suave
De algum motor de agave
Que tantas mãos decepou
Nunca se amorcegou
No caminhão de Mistura
Pouco sabe da cultura
De nossa comunidade
Neste ponto em que a saudade
Vira poesia pura.
15
Duvido ter assistido
Lailson, bêbado, a tocar,
“Tornei-me um ébrio” a cantar
No mais perfeito sonido
Seu Miranda conduzido,
Liga engraxando sapato
Zé Afonso em seu recato
Saudando a rico e plebeu
Quem tudo isso viveu
É cuiteense de fato.
16
Conheceu Padre Donato?
Assistiu Frei Damião
No povo dando carão
Pedindo maior recato?
Se é conterrâneo nato
Comprou em Camaraense
Não quero que você pense
Que o quis desmerecer
Apenas quis promover
A memória cuiteense.






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