PRA VOCÊ QUE É
DE CUITÉ
(Gilberto Cardoso dos Santos)
01
Você diz que é
de Cuité
Mas nunca ouviu
poesia
Na voz de Zé
Luzia
Nem conheceu Zé
Badé
Nunca foi no
cabaré
Lá no morro do
Tauá
Nunca treinou
com Tatá
Nunca bebeu em
Braulino
Não conheceu seu
Quinino
Nem Teresa do
Fuá.
02
Nunca escutou o
fungado
Da fala de
Gabirão
Chamando tu de
bichão
Nem foi em Assis
Furtado
Duvido tu ter
cortado
Cabelo em Zé
Anulino
Na lagoa de
Juvino
Nunca andasse de
jangada
E nem comprasse
cocada
Na bodega de
Justino.
03
Não ouviu
nenhuma vez
O Rei do Bico
tocando
Nem Bichinho
rebolando
Cantando em
perfeito inglês.
Não comprou em
Milanez
Não viu Dick, o
sábio cão
Rugindo igual a
um leão,
Depositando
dinheiro,
Nem viu o bode
Ribeiro
Bebendo ao pé do
balcão.
04
Com certeza não
jogou
Na banca de
Menininho
Na Farmácia de
Bastinho
Nunca um xarope
comprou.
Nunca assistiu
um bom show
No Salão
Paroquial
Não estudou no
Vidal
Nem ouviu
Natanael
Recitando algum
cordel
Em um boteco
local.
05
Na Casa Sem Nome
entrou?
Comprou a Zé
Cleodon?
Cacá, no carro
de som,
Alguma vez
escutou?
Alguma vez se
assustou
Quando voltava
da escola
Ao ver Maria
Pachola
Ou correu de
papa-figo?
Teve medo de
Pirigo?
No Paxacão,
jogou bola?
06
Fale de Antônio
Frazão,
Da bodega de
Romeu;
De Romildo,
filho seu
Severino, seu
irmão.
De Otílio, em
sua missão
Vigilante
eficiente
E do doce de
Vicente,
Será que você
provou?
Se nada disso
alcançou,
Lamento
profundamente.
07
Você já ouviu
falar
Numa peça
envolvente
Onde o Judas,
realmente,
Quase veio a se
enforcar?
Deu cigarro a
Baltazar?
Com Dona Ném
estudou?
Camélia o
paralisou
Com merecido
carão?
Lá em Defa
comprou pão?
Quebra-canela,
jogou?
08
E da noiva no
banheiro
Do Colégio
Estadual
Causando susto
geral
Você conhece o
roteiro?
Tentou ir ao
Cajueiro
À procura de
mulher?
Me responda, se
souber
Se a Dinamérico
escutou
Quando na peça
exclamou:
“Eis o último
chanceler!”
09
“Sou cuiteense
da gema”
Diz você que lá
morou
Mas será que
estudou
Com Amarilis e
Dulcema?
E na fila do
cinema
Esperou com
ansiedade?
No carnaval da
cidade
Para o
Cuité-Clube ia?
A Nondas, você
curtia?
Diga com
sinceridade.
10
Você não se fez
presente
Quando Francisco
José
Repórter, veio a
Cuité
E a praça se
encheu de gente.
Dick agiu
timidamente,
Não foi bom em
seu papel.
Mas Antônio
Ezequiel
Com isso não se
abalou
E até a um peba
domou
Sou testemunha
fiel!
11
Você conhece Missola?
Talvez não saiba a resposta
Não conheceu Rola-Bosta
Nunca viu Colchão de Mola
Tampouco lhe deu esmola
Nunca ouviu, de forma bruta,
Raja a falar da conduta
Da população inteira
E a repetir: “Brasileira
É tudo filha da puta.”
Não ouviu Zé de
Nazinha
Apanhando
embriagado
Nem um bêbado a
ser levado
Por Lourim na
carrocinha
Belino esperança
tinha
Do filho
reencontrar
Você nunca o viu
falar
Do seu rapaz
importante
Que estava em
lugar distante
E rico iria
voltar.
No Olho Dágua da
Bica
Você nunca tomou
banho
Nem viu o
letreiro estranho
Que ninguém decodifica
Num milagre que se explica
Uma imagem alguém
achou
Biu, zelador, a botou
Num lugar de
adoração
Foi pouca a
repercussão
E o projeto não
vingou.
Você jamais
despertou
Com o som nada
suave
De algum motor
de agave
Que tantas mãos
decepou
Nunca se
amorcegou
No caminhão de
Mistura
Pouco sabe da
cultura
De nossa
comunidade
Neste ponto em
que a saudade
Vira poesia pura.
15
Duvido ter
assistido
Lailson, bêbado,
a tocar,
“Tornei-me um
ébrio” a cantar
No mais perfeito
sonido
Seu Miranda
conduzido,
Liga engraxando
sapato
Zé Afonso em seu
recato
Saudando a rico
e plebeu
Quem tudo isso
viveu
É cuiteense de
fato.
16
Conheceu Padre Donato?
Assistiu Frei Damião
No povo dando carão
Pedindo maior recato?
Se é conterrâneo nato
Comprou em Camaraense
Não quero que você pense
Que o quis desmerecer
Apenas quis promover
A memória cuiteense.
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