Dinamérico Soares
Em 1983, publiquei um livro de poesia chamado Poemas Hemorrágicos. Dinamérico Soares participou dele com sete poemas. Nessa época, no meio literário mais alternativo, praticava-se vez por outra o que se chamava de Carona: consistia em um autor abrigar na sua publicação a produção de um amigo. Foi dessa forma que os sete poemas de Dino foram publicados. Abrindo a Carona, eu o apresentei da seguinte forma: “poeta jovem de Cuité (PB). 25 anos. Agitador cultural da cidade: ator, dramaturgo, poeta de cordel (2 folhetos publicados – por obra e graça suas), divulgador de cantorias, catador de estórias e tipos populares, teórico do popularesco local”.
Gosto de todos os poemas ali publicados. Escolho um ao acaso.
O título: uma vida inteira - os espelhos mentem
um dia, por descuido
teu coração quebrou-se
e eu me vi inteiro
naqueles pedaços de espelho
hoje, é esse amor
que despenca da moldura:
vejo pedaços do meu coração
no universo inquebrável
da tua imagem
Mas havia um verso, que não está no livro, mas que estava permanentemente na minha cabeça, porque gosto muito dele. É este o verso: “Não, eu não te prometi um Santana azul”
O poema inteiro:
“Não, eu não te prometi um Santana azul.
Um mar de rosas, sim.
Eu te prometi.
O que sinto por ti é esse mar.
E é teu.
Agora, pelo amor de Deus,
Eu não te prometi
Um Santana azul!”
Gosto muitíssimo desse poema. Delicado, lírico e... contundente. Quase prosa, e tanta poesia. A mocinha, coitada, não sabia que o poeta, para embrulhar para presente, tem apenas o ouro das palavras, o perfume das metáforas, as viagens aos sonhos incendiados e aos horizontes sem trancas. É isso o que o poeta tem para dar, mas Santana azul, Santana azul é muita realidade para um bolso onde só entram sonhos. A mocinha caiu do cavalo! Da próxima vez ela vai atrás de um cantor sertanejo ou de um político implicado na Lava Jato.
Hoje, 28 de fevereiro, Dino estaria completando 60 anos. Achou que envelhecer é muito doloroso. Talvez. (Talvez ao quadrado: talvez tenha pensado assim e talvez o envelhecimento seja mesmo doloroso, não se sabe bem, pois pode ser também uma festa). E, daí, comprou mais cedo a passagem, fez as malas e partiu. Deixou alguns versos como cartão de visita, para os amigos que partilharam sua presença e para aqueles que virão depois, mesmo depois da partida. É isso a vida!
Tenho o POEMAS HEMORRÁGICOS com dedicatória DE Dinamérico Soares..do Natal de 1086
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