Não tive a oportunidade de
conhecer Ariano Suassuna pessoalmente. Conheci-o literariamente, através de A
Pedra do Reino, de O santo e a porca, do filme O auto da compadecida, de seus
poemas... mas principalmente conheci-o através de algumas palestras suas disponíveis na
internet.
Creio que seu principal legado
tenha sido o de elevar a autoestima do nordestino. Ele resguardou-nos de
desenvolvermos um infundado complexo de inferioridade em relação às demais
regiões do Brasil e do mundo. Sua ferrenha defesa não era
apenas da cultura nordestina, mas do Brasil. Dizia ele dos mais variados modos
e sempre com gracejo que não temos razão alguma para envergonhar-nos de nossas
raízes e supervalorizar o que vem de fora.
Era alguém que brigava por nós. Brigava brincando, feito um hábil lutador.
Seu sotaque pernambucano,
propositalmente carregado, era um convite a assumirmos nossa nordestinidade.
Por seu exemplo, dizia-nos ele que não devemos nos envergonhar do modo como
falamos, da maneira que somos. Sua luta, ignorada por muitos que se acham
cultos e até mesmo por educadores, tem o respaldo da moderna linguística.
Num mundo globalizado, não temos
que nos igualar, prestar subserviência a uma cultura supostamente superior e
renunciar ao nosso folclore. Pelo contrário: é preciso que nos apeguemos mais
firmemente às diferenças, que salientemos nossas riquezas imateriais para que o
mundo, tendente à uniformidade, continue colorido e rico em seus diversos
aspectos e segmentos. Que prossiga a confusão de línguas iniciada lá em Babel e
cada um de nós enraíze-se mais e mais na dimensão histórica e geográfica que
nos coube.
Ariano Suassuna foi bem mais que
um nordestino engraçado. Era uma porta aberta no presente que escancarou diante
de nós os tesouros que havíamos trancafiado no quarto de despejos. Modernidade pra ele só tinha valor quando não
atentava contra a cultura popular. E quem disse que a cultura popular era
detentora de uma arte inferior, digna de nossa complacência? Mestre Ariano
colocou-a em pé de igualdade com todas as outras e até um pouco acima. Entre
uma culta tragédia grega e um ritual de dança indígena, ele ficaria com a segunda
opção. A Grécia e o Egito até poderiam nos dizer alguma coisa, mas seria
através das vozes de João Grilo, Chicó, Pedro Malazartes e outros tantos
personagens dos folhetos de cordel.
Era impossível não gostar de nós
mesmos quando ouvíamos Ariano! Ele nos abria os olhos para o que temos de melhor.
Que texto esplêndido! Disse tudo, belamente! Quando "eu crescer", quero escrever assim...
ResponderExcluirRealmente! Um texto de gente grande.
ResponderExcluirProfessores Maciel e Layze - acima de tudo dois grandes educadores - agradeço de coração pelo incentivo que ora me dão.
ResponderExcluirBelo texto. Dois extraordinários paraibanos contribuidores da cultura mãe do nordeste brasileiro. Jadson Umbelino
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