Meu professor!
Rapaz por duas vezes sonhei com um lugar desconhecido, acho que ele só existe na minha imaginação... Mas veja só!
Fazenda no pé do Carmelo
Duas vezes já venho sonhando, um sonho bem
semelhante, se trata de um lugar perto, porém um lugar distante...
Um lugar ermo, cercado de belezas, lugar de
maravilhas... Onde escaramuçou as riquezas, de um tempo de antanho. Tive esses
sonhos ao me deitar no ultimo quarto de tarde, me senti estranho, mas parecia
sair de uma cirurgia, me encantei, me transferi no tempo, vi em detalhes aquela
Fazenda.
Eu não a conhecia, isso me causou estranheza,
afinal, sou filho deste lugar, desde criança ando pelas suas veredas e me senti
cirurgiado porque quando acordei, parecia que que me tinham arrancado do meu
conhecimento e da minha natureza.
No sonho eu vinha num pau de arara parecia ir
para feira, não sei se era o carro de Seu Basto não vi o motorista, mas eu sei
ia pra "Rua" pra feira de Santa Cruz do Inharé.
O trajeto era diferente nós entravamos a
sudeste, arrudiávamos pela Santana, fazenda já conhecida e subíamos em
direção ao Cruzeiro ou Monte Carmelo, hoje o Alto de Santa Rita.
Descendo do Monte Carmelo, pois a Santa ainda não
estava em cima, tinha uma ladeira enviazada com um penhasco a esquerda, era
repleto de pedregulhos, juremas e Xique-xiques...
Na entrada a Fazenda era deslumbrante... Tinha
um pórtico arrumado. Feito em armação de Madeira pintado em marrom e bege
enfeitado com detalhes antigos desconheci a inspiração artística, o que mais me
destacou foi o fato de não ter nome, apenas o ano 1926.
Ao passar pelo pórtico, avistei do lado direito
uma casa arrumadinha, sem fachada, sem cortina, pintada as portas de azul,
imaginei ser do vaqueiro que de lado tinha acesso a seu lugar de trabalho,
colado na casinha uma cerca de cimento, muro cumprido e escuro do reboco
escurecido, neste muro largo, algumas colunas elevadas, colunas
trabalhadas pouco mais de 1 metro e meio por 1, 30 de muro.
Chegava ao Curral pomposo, casa de quatro águas,
uma sala de ração, pra moer o alimento do gado, e a cocheira grande, imensa
repleta de estrume, percebi que se tratava de um grande criador de vacas, a
fazenda tinha um cercado de Madeira preta, mourões, estacas e caibros escuros e
pintados de propósito, óleo queimado que a gente sentia o cheiro forte e
gostoso misturado com o estrume do curral.
A vacaria parecia ser uma sede, era imensa! Logo
a frente um armazém, portão grande, de Madeira nobre, lá com a porta semi
aberta vi selas, silos, ferragens, um carro de boi encostado, os arreios dos
cavalos, e tantos outros apetrechos do almoxarife da fazenda. A casa era um
quase palácio, não pelo acabamento antigo e mal tratado pelo tempo, mas pela
grandeza, pela representatividade que carrega.
A casa tinha 6 janelas na frente, e uma porta
grande.
Uma varanda corredor com entrada lateral,
pouco mais de 2 metros essa varanda tinha, uma mureta pequena, e nos pilares
armadores de Madeira, para as redes dos vaqueiros viajantes.
Percebi pela varanda que a casa era construída
com dois tijolos grandes lado a lado na alvenaria... Não conheci o interior da
casa.. Mas pude imaginar que seu interior era tão interessante como o exterior.
O carro passou devagar por isso pude contemplar,
do lado esquerdo havia apenas um cerca, olhando para esquerda, de frente para a
casa via-se os casarões comerciais da "Rua", vista privilegiada da
igreja matriz do coreto do mercado, e olhando com mais exatidão a casa do
Coronel.
O carro ia caminhando pro fim do terreiro da
fazenda, na saída não tinha pórtico, apenas uma porteira, olhei pela ultima vez
para o conjunto da Fazenda, vi a puxada da casa grande, e o casebre no fim do
terreiro: o aparelho matuto, que muitos chamam banheiro....
A medida que o carro ia se afastando eu
fui ficando confundido, como pode, não ter conhecido aquela fazenda tão imensa
ou ao menos ter ouvido falar daquele abastado senhor que possuía aquela
propriedade...
O carro voltou pra estrada e logo chegou ao rio
Trairi, atravessou logo, ele estava seco, so tinha a areia branquinha que mesmo
assim não me fazia esquecer daquela cena, da fazenda 1926, misteriosa e bonita.
No sonho ainda fui tentando transferir a lembrança, pois "no meu vê"
aquela fazenda existia, eu a vi tão real, senti seu cheiro vi seu brilho, sua
aurora, e como podia me parecer desconhecida de ser tão grandiosa!
Mas essa Fazenda foi desaparecendo do meu juízo
quando fui voltando para o mundo real, o sono foi passando e eu despertei
encabulado. Que fazenda era aquela, que me apareceu duas vezes! Idêntica, real,
surreal! Resolvi escrever esse memorando pra tentar encontrar uma explicação, a
fazenda não existe de fato, mas será que existiu? Será que existe e ninguém a
viu? Será a Nova Atlhantica do sertão, que somente os escolhidos conhecessem...
Acordando e escrevendo me lembrei de Matho
Pichu, nos Andes peruanos que foi encontrada no século passado depois de
séculos esquecida, e imagino que antes de ser achada ela apareceu pra alguem
num sonho de tarde clamando por socorro no vão do esquecimento...
Essa fazenda não existe, mas decidi fazer surgir
nesta imaginação debulhada em palavras... Uma coisa tão linda não pode deixar
de existir, num lugar tão favorável, tão belo, tão significante, precisa
existir ao menos por um instante na memória de quem já sonhou bastante... Com
uma terra bonita cheia de beleza e alegria, no nosso Trairi, sertão do Rii
Grande.
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