quinta-feira, 14 de março de 2024

TE AMEI! - Alexandre Nelli

 



Te amei!

Brincávamos todos os dias, todas as tardes,
Éramos crianças ingênuas, alegres, saltitantes, 
Queríamos apenas viver, correr, sorrir, 
Deixar a felicidade nos invadir da melhor e simples maneira,
Passávamos horas e dias caçando borboletas, 
Florindo as manhãs com sorrisos e pureza, 
Amava correr contigo naquele capim verdinho 
Que tinha nas terras do teu pai, 
Exalava um perfume até hoje impregnado na memória, 
Um dia comecei a te perceber com outros olhos quando minha mão se esbarrou na tua, 
Tudo tão comum, aliás, 
Brincávamos todo tempo e isso acontecia rotineiramente, 
Mas naquele dia foi diferente, 
Quando nossos olhos se faiscaram pela primeira vez, 
Te amei...

Estávamos maiores, não corríamos mais, 
Das borboletas restaram-me apenas lúcidas lembranças,
Conversávamos ainda, o que era bom,
Caminhávamos pelos campos, no entanto, 
Pouco tempo nos sobrava, as responsabilidades te afastaram de mim, 
Quando meus lábios se fundiram com os teus já te amava!
Quando nossas mãos se uniram com a alma, te amei! 
Me enlaçava o brilho estonteante do teu olhar, não foi culpa minha!
Não foi de propósito. 
Na verdade, não sabia que estava caindo em tuas redes, 
Me afundando, como chumbo no mar, sem retorno, 
Cheguei à conclusão que só eu amei... 

Quando nossos corpos se uniram naquele dia de chuva 
Pude sentir tua alma dentro da minha, 
Senti que seria eterno. 
Te amei cada vez que via teu sorriso angelical, 
Te amei enquanto te via da janela, em teus sonhos, 
Te velava escondido naquela árvore em frente ao teu quarto, 
Rezando para que fosse protagonista do teu desejo, 
Te amei quando você se afastou de mim, 
Sei que nosso amor poderia ser impossível, 
Mas a impossibilidade só existe quando acreditamos nela!
Te amei enquanto te via escorrendo de minha vida como água nas mãos, 
Te amei quando teu sorriso não correspondia o meu, 
Quando nossas palavras se restringiram apenas a cordialidades, 
Te amei quando te vi com outro alguém...

Morria a cada dia ao saber que não era eu quem tocava tuas mãos suaves, 
Quem beijava tua face... 
Te amei quando não mais te vi. 
Pensei mil vezes em esquecer-te! 
Mas meu coração moribundo ainda lutava, 
Quis mil vezes odiar-te!
Porém minha alma se negava ao meu sacrifício. 
Um dia, quando eu estava no celeiro, 
Apareceste como estrela cadente que perdeu o rumo do céu, 
Chegaste com os olhos ardentes em lágrimas.
Havia me preparado para este momento, 
Havia ensaiado noites e noites para negar-te por toda a vida, 
Porém, te amei...

Te amei quando teus soluços se uniram aos meus lábios, 
Enquanto te amava sem palavras,
As lágrimas minhas se uniram com as tuas, 
E pude sentir a dor do eterno estraçalhar-se dentro de mim e chegar ao fim, 
Pude sentir tua alma mudada, aflita, turva, 
Quando colocaste a capa, fitastes em meus olhos tanto tempo quanto um soluçar, 
Estalaste um beijo frio nos meus lábios ainda atormentados pelos teus 
E silenciosamente saíste e te amei ainda mais... 
Nunca mais a vi. 

Sei que milhões de outras aparecerão,
Mas não será você, não haverá intensidade,
Não haverá amor, não existe amor na tua ausência.
Estou condenado a viver te procurando em mil bocas,
Te vendo em mil faces,
Porém o amor levaste contigo,
Naquele dia no celeiro...
Mas te amarei até o meu existir
Quebrar-se em mim 
Como o eterno que sonhei.


Alexandre Nelli


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