NÃO TEM COMO BARRAR
Jamais um fio de algodão será o mesmo depois de receber a visita do fio da navalha. Ele passa a ser "meio" com bastante semelhança com qualquer outro que venha a existir como inteiro.
Após o uso extenuante, ele deixa de ser utilizado na condução dos pensamentos, por mais simples que sejam, pois somos como fantoches pendurados por fios vindos de algum lugar. É tão tênue o limite entre a genialidade e a loucura que basta uma ideia fixa para que haja a mudança de um nível para o outro, por exemplo uma transmutação de uma vida perigosa para uma cheia de inocência.
Logo após a quebra dos paradigmas, o objeto "norteante" da existência assume o controle da perda da razão, e assim se vegeta para o mundo dos acontecimentos. Esse fio condutor, ligando o real ao imaginário, foi partido, tornando-nos uma massa amorfa sem nenhuma serventia para o habitat dos supercondutores.
Neste instante, ninguém mais pode falar de fio. A noção dele se foi para sempre, passando a ser um desconhecido sem nem ao menos ter um termo que o defina. Repentinamente, os planos e a história deixaram de existirem. Estamos em pleno tempo real, e só assim começa a extinção da raça, igual aos dinossauros. Os compromissos foram todos apagados; o “salve-se quem puder" perdeu o sentido e não existe mais condenação ou condecoração.
Estamos na fase de transição, e quem não sabia o que era a paz, prazer em conhecê-la. Por mais que se tente a guerra, ela não existe na imobilidade. Assim como o bem, o mau cansou de ser mau por não ter como externá-lo, já que o esvaziamento do cérebro não permite a continuidade das ações.
Agora tudo é maravilhoso, pois estamos em um território sem rancor nem ambição, apenas com os fenômenos naturais seguindo uma rotina sem que percebamos essa repetição. A manutenção das ideias não tem como ser feita, levando-nos ao ponto de que nem mais a dor ensina a gemer. Assim, a vida segue indiferente aos pensamentos que visavam, até então, dar um significado a ela.
Agora estamos todos satisfeitos e distantes de uma época em que se conversava por meios artificiais. Tempos difíceis aqueles onde éramos escravos da energia elétrica e ainda elegíamos, como reis e rainhas, as telas. Se é apocalipse, não sei, só sei que chegou a hora de nos conformar em ver a nossa espécie sendo transformada em vegetais.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 05.03.2023 - 05h26min.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”