quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

UM PINGO DE LUZ - Heraldo Lins

 


UM PINGO DE LUZ


O sol vem trazendo o amanhecer e eu fico esperando que seja totalmente clareado para definir os questionamentos que farei hoje.

"De onde vim e para onde vou" já foi bastante discutido, e por não ter respostas convincentes, prefiro descartá-las, a não ser que alguém, em início de carreira existencial, queira trazê-las à tona mesmo sabendo que dessa discussão ninguém sai são.

Passemos ao sol, antes tido como Deus, agora apenas chamado de astro-rei. Por mais que tenha sido rebaixado, nunca deixou de ser o que sempre foi, do mesmo jeito que as pessoas, independentemente de censuras, são o que são. Comparar o sol com pessoas é o que preciso para me abastecer de referenciais e prosseguir debaixo de um céu ladrilhado com algumas nuvens escuras. Vários quilômetros para cima posso enxergar, só que para baixo não posso ver além dos pés. Deve ser por isso que queremos ir para o céu. De lá se pode ver os pecados e pecadores sem muito esforço. Para baixo, vai quem precisa ser transformado em ouro, ferro etc. 

O céu está no ar ou o ar está no céu? São dois tipos diferentes de céus, diriam os sabidos. Este que observo, nesta manhã, aparentemente nublada, deixa-me satisfeito enquanto sou carne necessitando de manutenção. 

Durante essa conversa, ele permaneceu abastecendo-me de claridade e calor na cota exata para me manter vivo. O problema é achar que não o verei no dia seguinte. Quando o percebo, para mim é uma festa. Imagino o trabalhão que daria se eu tivesse que comprar toda a energia necessária para produzir minha vitamina D. Sem ela, eu teria que morar numa cama de hospital comparado a uma lesma. Não seria esse eu que aqui estou digitando, até porque lesma não digita. 

Fiquei irado por tomar consciência dessa dependência, mas então percebo que é o sol que me dá a força necessária para ficar irado. Sem energia ninguém tem raiva, vaidade ou inveja. Tudo isso é estimulado pelo sol, assim como antigamente os primitivos achavam que as pestes eram enviadas por esse deus brilhante. Hoje eu amanheci com vontade de condená-lo. É ele que queima a pele, queima plantações e desbota cores, dentre tantas outras ruindades aqui não catalogadas. 

Mesmo dando vazão a esse meu indiscutível mau humor, o sol parece não se importar com minhas opiniões. Então, já que sou voto vencido, só me resta aceitar a derrota seguindo o padrão que assim dói menos sem me importar que as nuvens digam: perdeu, mané!


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal RN, 1⁰.02.2023 - 09h13min



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