terça-feira, 26 de julho de 2022

VÁ ENTENDER! - Heraldo Lins

 









VÁ ENTENDER!


Arrastava-se dentro do mangue com o objetivo de manter-se escondido. Sem se importar que o expulsassem do clube dos sadios, saiu para ser atropelado pela enchente da claridade. Ali, juntamente com a ressurreição dos vivos, torna-se contente ao centrifugar ideias e agrupá-las sem maiores pré-requisitos. 

Na segunda-feira chuvosa, em pleno fígado da cidade, observa os semáforos lotados de dores sem vontade de mudar o itinerário viciante. Seu mundo pouco conhecido do palpável pensamento deixa tudo por fazer sem nunca enveredar pela realidade. 

Convive com a poeira das flores subjugadas pelo cheiro de atrair insetos. Eles estudam o néctar que alimenta a sua rainha parideira, e esse estudo não é só instintivo. Quem não conhece os pormenores da inteligência dos outros declara ideias para serem cegamente acreditadas e ai daquele que contestar. 

Tem consciência o quanto é superficial a profundidade do entendimento que tenta, mas não consegue, explicar o que é Saci-pererê fora da fé fertilizada pela conversa fora da lógica. Não é viagem interplanetária, berra alguém concordando de fora. 

Prossegue sem dar ouvidos nem olhos para comentários fugidios. Seu discurso é bloqueado pelo padrão combinado por todos, e ele, mesmo a contragosto, tem que seguir o já imposto pela tradição. Precisa desse padrão para não se tornar um palheiro sem agulha. Quer ser igual aos outros, mas está difícil encontrar a paz diante de tantas mentiras costuradas no blusão da guerra.

Foge para bem distante do morro furado por túneis da vida aleatória. Sua cabeça, a trinta por hora, fica sempre pegando carona na pedra do entendimento dissolvida na grandeza do ser.

Olha para o pulso algemado pelo tic tac estabelecido por quem dorme com os olhos abertos para dentro dos sonhos, e aproveita para medir quantas toneladas de tempo gastou em ficar vivendo num espaço alugado pelos pés calçados de calos.

Prosseguindo dentro da normalidade de ser anormal, vê uma peneira coando palavras para não desagradar os donos das crenças habituais. Muito bagaço fica represado na malha da consciência e esses desvios discursivos, numa segunda olhada, mandam seguir em disparada pelo caminho de algo sem uma clara definição. 

Está mais disposto depois que comeu a gordura excessiva das palavras que deixaram de ser plantadas apenas pela beleza exterior. 

Caminha apedrejado na doutrina enjaulada pelo suor e sangue em forma de ouro brilhante de uma multidão com pedras na cabeça sem destino apropriado para um ser pensante, sendo criticado pelos animais que veem aquilo sendo aberração de gente. Viva os irracionais! Não têm consciência e por isso não colocam seu corpo para penitência. 

O princípio da obediência cega os valores propagados pela força evitando passar pelo alinhamento do discurso da vida. Um pouco mais tarde, torna-se vítima da cobiçada alegria em ter vontade de fazer uma chamada de vídeo para os seres abstratos que vivem nas tumbas, encarcerados pelo sombreamento da película cultivada pela doutrina interesseira. 


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 25.07.2022 - 15:07




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