sábado, 30 de julho de 2022

A NATUREZA MUTILADA - Jair Eloi de Souza

 


A NATUREZA MUTILADA


Não vi mais o som da grota. Ela própria encantou-se. Não há mais coaxar de sapos empapados de espumas branquinhas como dantes. O ranger de jovens rãs que martelavam em minhas oiças pra entender aquela alegria pela abundância das chuvas de verão. 

Mas, não era só o contentamento daqueles batráquios naquelas eras. Tinha um personagem do mundo das corujas, o "caboré de orelha", que no quebrar da barra, de tanto repicar num sibilo vexatório numa das oiticicas do "Riacho do Saco", me acordava ainda friorento na madrugada invernosa, nos chãos dos sertões na freguesia da Senhora dos Aflitos. Ainda bem que me aquecia no colo do meu guru Eloi de Souza, esse cuidava de me cobrir com um rústico lençol de algodão e tratava de me desassombrar daquele canto sinistro da inocente coruja.

Os regos cheios de saburás, peixes brancos aflorando o espelho d'agua no Rio Piranhas, não os vejo mais, são imagens longínquas no tempo, mas, presentes no meu quengo, que nunca apagara no pergaminho onde escrevi as peraltices de quando criança aldeã. Rota do abandono, assim vejo meu Sertão, sem assobio de guaxinim no cio lá no baixio do "Velho Chiquinho"*  e que muito me amedrontada.

Lerdo caminhar de solitário carão* no jurenar do trajano*, a procura do mais insignificante vivente, para degustar e matar sua fome,  já que os charcos lacustres haviam secado, já era primavera setembrina, não  mais  o encontrei, sua mãe, a natureza estava no seu último pestanejar. 

Tudo silente, restando apenas o meu olhar em banzo. 


J.E S.




Um comentário:

  1. Ótimo!!
    De ruim mesmo aí a fome dos menos favorecidos da sorte!!
    Ou má sorte de viverem num país tão belo, um dos maiores produtores de alimentos do mundo, mas de uma desigualdade monstruosa!! - João Maria de Medeiros

    ResponderExcluir

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”