quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

CASARÃO ABANDONADO - Poeta Daxinha

 

Imagem meramente ilustrativa


CASARÃO ABANDONADO


I

Ao ver esta moradia

Neste total abandono

Desprezada, assim, sem dono,

Prestes a ruir qualquer dia

Quem antes te conhecia

Vendo-te, sente tristeza,

Relembra tua beleza

Hoje assim tão esquisita

Se tu eras a mais bonita

Das casas da redondeza.


II


Quando estas portas se abriam

Era um entra e sai de gente

Era assim, diariamente,

Uns entravam, outros saíam,

Quanta gente aqui viviam

Um dia o destino mal

Levou o teu pessoal

E te deixou na solidão

E nesta situação

Vai ser triste o teu final.


III

Aqueles que te zelavam

Desde sua construção

Tinham tanta estimação

Com muito gosto cuidavam

Talvez eles nem pensavam

Que, quando eles parassem,

Quem ficasse nem ligassem

E te deixassem abandonada

Tristonhamente isolada

E teus dias também chegassem.


IV


Rachaduras nas calçadas

O telhado gotejando

Os esteios se afundando

As paredes escoradas

Todas as portas quebradas

Sem ferrolhos nem tramelas

Nem dobradiça tem nelas

Pois a ferrugem deu fim

Na madeira é só cupim

E apodrecendo as janelas.


V


Os insetos hoje é quem moram

Como verdadeiros donos

Nos seus leitos dormem sonos

E os cupins te devoram

Os morcegos te exploram

Lagartixas, cobras, ratos,

És maternidade dos gatos

Que, te vendo abandonada,

Fizeram de ti morada

E nem querem saber dos matos.

VI

Hoje assim deteriorada

Teu alicerce cedendo

A madeira apodrecendo

A estrutura abalada

Não resistes mais a nada

É bem triste o que te espera

Da casa alegre que era

Passou a ser casa triste

Breve, talvez, nem existe,

Em vez de casa és tapera.


Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, vulgo, DAXINHA.


02/03/1986

Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, vulgo DAXINHA.

14/10/2005

JOSELITO FONSECA DE MACEDO, mais conhecido como poeta Daxinha, nasceu em Cuité/PB, em 14/08/1938. Filho de José Adelino de Macedo e Maria Marieta da Fonseca, nasceu na zona rural de Cuité, mais precisamente no Sítio Boa Vista do Cais, popularmente conhecido como Sítio Pelado. Aos 20 anos, viajou para os estados de Minas Gerais e Goiás, onde trabalhou como agricultor e vaqueiro. Mas foi no estado de São Paulo que se fixou, trabalhando como metalúrgico nas principais usinas siderúrgicas da região do ABC paulista. Retorna à Paraíba em 1985, retomando suas funções de agricultor. Sempre gostou de poesia, sobretudo, do gênero cordel no qual, ainda menino, já escrevia seus primeiros versos. O retorno a Cuité aproximou-o ainda mais de suas raízes, fazendo-o mergulhar com mais fervor no mundo da poesia. Sempre convidado a se apresentar em eventos culturais da cidade, seus versos focavam, principalmente, no cotidiano das pessoas simples – como ele mesmo o era. Tem como obras publicadas um CD de poesias intitulado: “Poeta Daxinha – Um Amante da Poesia”, o cordel “O batente de pau do casarão” e uma participação póstuma no livro “APOESC em Prosa e Verso”, do também poeta Gilberto Cardoso dos Santos. Casado, pai, avô e bisavô, o poeta Daxinha faleceu em 04/05/2016, em Campina Grande/PB, vítima de insuficiência cardiorrespiratória. (Jaci Azevedo, filha)

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