CASARÃO ABANDONADO
I
Ao ver esta moradia
Neste total abandono
Desprezada, assim, sem dono,
Prestes a ruir qualquer dia
Quem antes te conhecia
Vendo-te, sente tristeza,
Relembra tua beleza
Hoje assim tão esquisita
Se tu eras a mais bonita
Das casas da redondeza.
II
Quando estas portas se abriam
Era um entra e sai de gente
Era assim, diariamente,
Uns entravam, outros saíam,
Quanta gente aqui viviam
Um dia o destino mal
Levou o teu pessoal
E te deixou na solidão
E nesta situação
Vai ser triste o teu final.
III
Aqueles que te zelavam
Desde sua construção
Tinham tanta estimação
Com muito gosto cuidavam
Talvez eles nem pensavam
Que, quando eles parassem,
Quem ficasse nem ligassem
E te deixassem abandonada
Tristonhamente isolada
E teus dias também chegassem.
IV
Rachaduras nas calçadas
O telhado gotejando
Os esteios se afundando
As paredes escoradas
Todas as portas quebradas
Sem ferrolhos nem tramelas
Nem dobradiça tem nelas
Pois a ferrugem deu fim
Na madeira é só cupim
E apodrecendo as janelas.
V
Os insetos hoje é quem moram
Como verdadeiros donos
Nos seus leitos dormem sonos
E os cupins te devoram
Os morcegos te exploram
Lagartixas, cobras, ratos,
És maternidade dos gatos
Que, te vendo abandonada,
Fizeram de ti morada
E nem querem saber dos matos.
VI
Hoje assim deteriorada
Teu alicerce cedendo
A madeira apodrecendo
A estrutura abalada
Não resistes mais a nada
É bem triste o que te espera
Da casa alegre que era
Passou a ser casa triste
Breve, talvez, nem existe,
Em vez de casa és tapera.
Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, vulgo, DAXINHA.
02/03/1986
Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, vulgo DAXINHA.
14/10/2005
JOSELITO FONSECA DE MACEDO, mais conhecido como poeta Daxinha, nasceu em Cuité/PB, em 14/08/1938. Filho de José Adelino de Macedo e Maria Marieta da Fonseca, nasceu na zona rural de Cuité, mais precisamente no Sítio Boa Vista do Cais, popularmente conhecido como Sítio Pelado. Aos 20 anos, viajou para os estados de Minas Gerais e Goiás, onde trabalhou como agricultor e vaqueiro. Mas foi no estado de São Paulo que se fixou, trabalhando como metalúrgico nas principais usinas siderúrgicas da região do ABC paulista. Retorna à Paraíba em 1985, retomando suas funções de agricultor. Sempre gostou de poesia, sobretudo, do gênero cordel no qual, ainda menino, já escrevia seus primeiros versos. O retorno a Cuité aproximou-o ainda mais de suas raízes, fazendo-o mergulhar com mais fervor no mundo da poesia. Sempre convidado a se apresentar em eventos culturais da cidade, seus versos focavam, principalmente, no cotidiano das pessoas simples – como ele mesmo o era. Tem como obras publicadas um CD de poesias intitulado: “Poeta Daxinha – Um Amante da Poesia”, o cordel “O batente de pau do casarão” e uma participação póstuma no livro “APOESC em Prosa e Verso”, do também poeta Gilberto Cardoso dos Santos. Casado, pai, avô e bisavô, o poeta Daxinha faleceu em 04/05/2016, em Campina Grande/PB, vítima de insuficiência cardiorrespiratória. (Jaci Azevedo, filha)
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