domingo, 30 de setembro de 2018

RESPOSTA EM VERSOS - Gilberto Cardoso dos Santos


RESPOSTA AO POETA E AMIGO Dudu Cama Elástica
que disse:
Você diz que Jesus não existiu
Você diz que não houve criação
Diz que somos fruto da evolução
que de um símio o homem evoluiu
Mas tu cita a Bíblia de modo vil
pra tentar convencer o indeciso
Eu não quero aqui fazer juízo
Mas citar a Bíblia quando convém
É fazer o mal se passar por bem
é dizer que o inferno é o paraíso

Não me leve pro lado pessoal
eu só quero entender seu pensamento
tu criticas a Jesus em um momento
e depois usa a Bíblia como aval
Pra você laicidade é o ideal
O estado longe da religião
mas depois você vem pregar sermão
12 portas, 12 apóstolos, 12 tribos
só se eu fosse um cavalo nos estribos
é que eu ia votar no teu Cirão.

Minha resposta:

Eu não gosto de ataque pessoal,
Pois indica fraqueza de argumento;
Não sou eu quem está em julgamento
Eis-me à parte de um pleito eleitoral.
Jesus Cristo, de forma radical,
Defendeu, deu a mão ao oprimido;
Pedro foi por Jesus repreendido
Quando a orelha do servo decepou.
O messias real nos ensinou:
“Quem com ferro ferir, será ferido.”

Jesus Cristo, o maior dos humanistas,
Forneceu ao seu povo peixe e pão;
Combateu com amor a agressão,
Se opôs aos pastores moralistas.
A história cristã nos deu conquistas
Que tornaram melhor nossa cultura;
Mas pastores de hoje, por usura,
Se tornaram do bem adversários;
No comércio da fé são partidários,
Dizem sim à ganância e à tortura.

É preciso ter regras definidas
Numa luta de boxe, capoeira;
Na política, porém, onde há sujeira,
Muitas faltas têm sido cometidas.
As entranhas vão sendo revolvidas,
Pois a língua, qual faca, vai rasgando.
Opinemos, porém, de modo brando,
Não lançando aos demais fel de amargura;
Feito o Cristo a dizer não à tortura,
Às ideias alheias respeitando.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Antítese - João Maria de Medeiros



Antítese Não há começo sem fim nem há direito sem torto Não há vida sem a morte e não ha vivo sem morto. Não ha escuro sem claro Nem o bom sem o ruim Nâo ha dúvida sem certo e nem há nao sem o sim. Não há céu sem o inferno nem abrigo sem prisão Não há branco sem preto e nem doente sem são. Não ha fundo sem o raso nem o alto sem o baixo nem o falar sem o surdo nem feliz sem cabisbaixo. Há de tudo nesta vida Nossa vida é assim É uma coisa ou outra Desde o começo ao fim. *João Maria de Medeiros é professor, poeta e cronista.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

BOM COMBATE - Lindonete Câmara


               

BOM COMBATE

Cuidado com o atual discurso fascista
Que elimina com arrogância a inteligência
Distribui linguagem intolerante e machista
Trazendo discurso de ódio e de demência.

NÃO a quem defende a nefasta ditadura militar
NÃO a quem incentiva ao linchamento de pessoas
NÃO a quem deseja ao outro torturar
NÃO a quem despreza a luta das mulheres numa boa.

NÃO a quem tem fobia a LGBT e a liberdade
NÃO a quem quer eliminar a juventude negra
NÃO a quem massacra o pobre com desigualdade
NÃO ao insensato que ao semelhante detesta.

NÃO a quem vai retirar os direitos trabalhistas
NÃO a quem persegue os sem-tetos e sem-terras
NÃO a quem caça quilombolas e índios de forma elitista
NÃO a quem rastreia os ribeirinhos como uma fera ferida.

NÃO a quem se arma para uma guerra
NÃO a quem combate violência com crime
NÃO à pessoa  é injusta, sexista e funesta
NÃO ao prepotente que humilha e deprime.

NÃO a quem combate os direitos humanos
NÃO a quem é racista e ri dos nordestinos
NÃO a quem se vê como raça ariana e com vil planos
NÃO a quem confunde o mal com o divino.

NÃO a quem almeja excluir os excluídos
NÃO a quem incita ao desmedido assassinato
NÃO a quem por dentro é mal e destruído
NÃO a quem tem aversão e sangue amargo.


Lindonete Câmara.
15/09/2018.

domingo, 9 de setembro de 2018

SETEMBRO AMARELO



SETEMBRO AMARELO

Campanha de cor iluminada
Representativa da alegria e da vida
Que ajuda prevenir à morte enviesada
Diante da própria e qualquer tentativa.

Esse assunto não deve ser velado
Por razões culturais ou religiosas
Mesmo sendo um diálogo amargo
Desmistifique compreensões pecaminosas.

O suicídio é questão de saúde pública
Não uma transgressão divina
Vai além da leitura bíblica
A dor que a si próprio elimina.

Comportamentos suicidas
Devem desenvolver clara comunicação
Das emoções idas e vindas
E expor os desejos do coração.

Cuidado com os tabus que circulam
São muitos fatores múltiplos determinantes
Não apenas de ordem psíquica como articulam
Ou orgânica sem outro motivo coadjuvante.

O sofrimento mental é algo da existência
E ainda existem graves questões sociais
Que necessitam de ajuda e providência
Para não obtenção de patologias prejudiciais.

Para evitar o suicídio e promover a vida
Há um convite ao questionamento e mudança
Apologia ao sentido de vida sem medida
Numa tomada de decisão com confiança.

Buscar tratamento especializado é a dica
Aos que vivem com terríveis sintomas
Para quem pensa em tirar a própria vida
É bom se aprofundar nos traumas que somam.

Existem muitos fatores de risco
Privação, negligência ou abuso na infância
Violência doméstica, desemprego, alcoolismo
Doenças mentais, isolamento, precisam de vigilância.

Cuidado com a ambivalência em gangorra
Com os desejos simultâneos de morrer e viver
Tudo passa, inclusive a infelicidade e qualquer zorra
Com o apoio emocional para precaver.

A impulsividade também é transitória
Desencadeia-se por eventos negativos
Mas, a durabilidade se dá em poucas horas
Busque questionamentos positivos.

Há quem pense 24 horas nos problemas
De forma drástica e bem rígida
Melhor buscar soluções sem dilemas
Com auxílio e ajuda empática cumprida.

Desespero, insônia e agressividade
São alguns dos sintomas presentes
Elevada ansiedade, desesperança, impulsividade
É preciso com resiliência expressar os sentimentos.

Incontáveis são as causas que aniquilam
E interferem na qualidade de vida
Não ao desfecho trágico e irreversível
Falemos da sobrecarga subjetiva.

Espalhemos essa campanha desmedida
Com um só objetivo
Ajudar a salvar vidas
Que vivem se articulando por algum motivo.


Lindonete Câmara
07/09/2018




quarta-feira, 5 de setembro de 2018

A IRA DAS LABAREDAS (José da Luz Costa)




A IRA DAS LABAREDAS
José da Luz Costa

Os olhos incrédulos da nação estarreceram-se com a pira gigantesca em que se transformou o Museu Nacional, situado na cidade ainda maravilhosa de São Sebastião do Rio de Janeiro. Era noite de domingo. Em tempo de eleições. E a pergunta se repetia na televisão: “Que Brasil você quer para o futuro?”

Cada casa deste país continental, que já foi um paraíso tropical, desejou ser um hidrante para lançar um jato de água abundante sobre aquelas implacáveis cortinas de fogo. As chamas famintas engoliam o passado e o presente. Um país tão jovem! que agora precisa se reconhecer nas cinzas deste holocausto, e aprender novas lições junto ao altar da pátria.

Museu Nacional. Um coração palpitante durante duzentos anos, mantendo vivas a história e a cultura. Tradições e traduções. Espelho onde se contemplava os rastros de antepassados, a face de homens e bichos de dias muito antigos. Tesouro de joias raras e caras. Casa real de filhos ilustres. Berço de acalento de nossa soberania e liberdade.

Museu Nacional. Ícone da tragédia. Tragédia anunciada, agoniada. Procura-se o pai da tragédia. Ninguém se apresenta. O edifício desnudo está órfão. Mas, erguido por mãos fortes, manteve-se ereto, com suas paredes imponentes, servindo de urna para receber as cinzas de todos os seres que ali habitaram ao longo das estações...

Museu Nacional. A última morada de Luzia. Uma jovem mulher que esperou onze mil anos para deixar as brenhas de uma caverna nas Minas Gerais e fixar residência num palácio real. Onde estão seus inquisidores? Sua alma ainda lança gritos dilacerantes pelos ares. Quem acendeu essa fogueira, que devorou o sossego de sua eternidade?

Museu Nacional. O filme mais triste exibido em tempo real para todo o país. Cadê os seus protagonistas? Encontram-se apenas dissimulados antagonistas. Agora, nestes dias de luto, eles ressurgem como salvadores, doadores, atores. São adeptos da famigerada filosofia do atraso. Ah! se tivesses a sorte das catedrais, dos palácios da justiça e das mansões parlamentares!...

Museu Nacional. O fogo que te devorou continua ardendo e nos inflamando por dentro. Um fogo que queima a nossa vergonha diante do mundo. Um fogo que enfumaça a nossa volátil vaidade. Um fogo que assusta as nossas crianças. Um fogo que seguirá incinerando a nossa esperança...

Museu Nacional. Mantenha-se firme e forte. Seja o símbolo de resistência deste Brasil gigante pela própria natureza. Mas faça-o levantar-se desse berço já não mais esplêndido. Faça soprar um novo vento Brasil adentro. Convide de volta seus visitantes, estudiosos, pesquisadores e admiradores.

E que os céus abrandem sua ira e aceitem que cada brasileiro seja um depositário das memórias nacionais. Pois, o esquecimento é o coveiro da história. E será mais uma tragédia permitir que o deszelo e o descaso lancem suas labaredas sobre nossa sorte. Melhor seria suplicar ao destino que cavasse a nossa derradeira alcova, sete palmos abaixo do solo pátrio.

Oh minha pátria amada! Não quero para ti a profecia apocalíptica de Ignácio de Loyola Brandão, no título de seu mais novo romance: “Desta terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela”.