A OUTRA MULHER DO BÊBADO
“O que a bebida não fizer outra coisa não faz”. Frase
estereotipada, consagrada e confirmada pela ciência prática de gregos e
troianos. Geralmente, os que se arriscam
nessa aventura estão sujeitos as mais variadas peças de Baco – nunca vi bebum
com tanta criatividade.
Este introito serviria para incontáveis situações em que a
bebedeira proporciona alguma situação
incomum ou poderíamos dizer comum? O certo é que aqueles que se põem a beber
para comemorar a bebedeira do dia
anterior, por exemplo, extrapolando
risos e distribuindo felicidade, uma vez na vida, terá a “honra” de entrar para
o livro cômico das bobeiras do deus do vinho. Pois bem, vamos a um desses capítulos.
***
Samuel, muito calmo, homem metódico, compromissado com o
trabalho e com a família. Acorda cedo, vai para o trabalho, é gerente numa loja
de carros, almoça, faz as atividades de mais um curso à distancia e, completa o
seu rito laboral até as cinco da tarde. É um homem de bem, só tem um defeito:
bebe muito. E, se ele tem ritual para o trabalho e compromisso com a família, a
fidelidade à saidinha com os amigos todo fim de tarde para “bebeborar” mais um
dia de serviço é sagrada. Mais sagrado ainda é estar em casa às sete. Samuel
tem uma filha linda e vai ser pai outra vez. Iza está grávida de seis meses.
Iza, alma amorosa, é uma mulher muito religiosa e muito
trabalhadora também; dirige uma creche. Tem hábitos milimétricos também; acorda
muito cedo, reza, faz o seu papel de mãe e de esposa e vai ao trabalho. Mulher
responsável e atenciosa no serviço. Só tem um defeito: ciumenta demais. Fica
muito nervosa, por exemplo, se o marido demora a atender o celular e chega um
segundo atrasado em casa. E, para completar, detesta bebedeira. Parece uma sina
toda mulher “de bem” casar com um pinguço. Imagine a confusão toda vez que o
marido chega “melado” em casa.
***
Cinco da tarde de uma sexta e os amigos já aguardam “Samu” no
bar de Toni. A resenha é grande entre amigos. Zoam uns aos outros, relembram
casos da infância, contam piadas, inventam e aumentam histórias, às vezes, as
mesmas histórias. É uma bela ocupação para “passar o tempo” como dizem.
E passou mesmo. A conversa se estendeu muito e Samu só se deu conta duas horas depois do seu
horário habitual de estar casa quando um barulho ensurdecedor adentrava a
varanda do bar. Era Iza abrindo a bíblia e rezando uma missa de palavrões
para cima de Samu e de quem não quisesse ouvir.
– Samuel, seu
vagabundo, porque tu não atendeu o celular. Até essa hora na rua com essa
cambada de desocupado. Tu ‘tá pensando o quê?
‘tá pensando em beber a vida toda? Eu não aguento mais. Eu vou embora!
Olha, hoje tu vai dormir é na rua! ‘Tá pensando que vou ficar acordada esperando
tu chegar e abrir a porta pra ti?!!
Samuel, olhou para
Iza, paciente e ironicamente. – Ah, é desse jeito?!! Não vai abri a porta pra
mim? Vai me deixar na rua? – Pegando
o celular, continua – pois, eu vou já ligar aqui para uma mulher
que eu tenho certeza que ela me deixa dormir na casa dela. Essa sim gosta de
mim.
Iza, elevando o seu cosmo de fúria, avançou em Samuel, tomou
o celular para si, quebrando completamente o inocente aparelho na calçada.
Samuel olha para a mulher enfurecida e
calmamente, mais uma vez, diz:
– Quer dizer que eu não posso nem ligar pra
minha mãe não, é?
O dono do bar, todos que estavam ali silenciosamente
observando aquela cena, Iza e Samuel caem copiosa e ridicularmente na
gargalhada. Tudo ficou bem, muito bem, menos o coitado do celular..
Ótima história, Joel. Parabéns. Evoé Baco!
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