Era a noite de 07 de novembro de 2015...
no Bairro Paraíso.
Eu liguei o meu netbook,
coloquei para tocar Jesus, a Alegria dos
Homens e decidi ensinar a minha filha de três anos a pintar aquarela. No
início foi tudo mais ou menos previsível, comigo insistindo com ela que era
para pintarmos com calma... Aos poucos ela foi subjugando a técnica dos
pincéis, usava-os como uma garra no papel e, tão logo quanto pôde, pintava com
os dedinhos, um emaranhado de cores, algo completamente sem sentido para mim,
viciado em clássicos... Eu já havia abandonado as minhas esperanças civilizatórias
quando ela começou a pintar o próprio corpo com as tintas misturadas. “Por que
você está fazendo isso, meu amor?”, perguntei, escondendo a ansiedade. “Eu
quero fazer uma pinta”, ela respondeu com ternura. “Uma pinta? Para quê?”,
rebati curiosamente. “Eu sou uma onça, papai!”, ela retorquiu no mesmo espírito.
“Mas...”, fiquei sem palavras e ria de soslaio. Ela acariciou-me com o pincel
molhado e disse: “Papai, você é uma onça também! Vem, papai!”. Enquanto Bach se
consagrava, eu e aquela oncinha engatinhávamos rosnando pela casa. A minha
esposa ao chegar, cansada das coisas da vida, aturdida por ver seu marido e sua
filha virados em felinos, deitou-se na cama e arrematou entre gargalhadas:
“Nossa, parece que anjos em forma de onça voam ao meu redor e minha cama é
feita de nuvens...”.
Milton Júnior.
Registro bem feito de um momento mais que poético, Milton. Parabéns!
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