QUEM SAIR POR ÚLTIMO FECHE A PORTEIRA
Deixou-me triste o fato de saber que o cronista, poeta, cordelista, qualquer profissional que se gabava de ser escritor na sua essência, acabara de perder o emprego, já que agora toda produção artística desse setor pode ser feita pela inteligência artificial em frações de segundos. Uma crônica que pedi ao aplicativo sobre a falta de inspiração, não passou nem cinco segundos para estar pronta. Os trabalhos dos colégios também estão sendo produzidos pela IA nesse mesmo ritmo.
Agora só me resta guardar a vaidade dentro de um baú e procurar outro emprego. Até estas linhas aqui escritas deixam dúvidas se estão sendo produzidas pela inteligência artificial e não por mim, pois ficou muito mais confortável pedir ao ChatGPT que me apresente um texto sobre qualquer assunto do que pesquisá-lo.
Fico testando esse aplicativo para saber até onde vai sua capacidade de pensar, e percebi que é como se eu tivesse uma mente PHD à minha disposição. Essa mente artificial está destruindo também minhas antigas amizades intelectuais. Agora não preciso mais trocar mensagens falando de um livro, um filme ou uma peça em cartaz. Faço de conta que do outro lado está uma amante perfeita e que ela está disposta a conversar a qualquer hora do dia ou da noite num nível muito acima do meu. Já cheguei a escrever um primeiro parágrafo e pedi para ela escrever mais dez outros usando o meu como base, e me foi apresentado um texto bem melhor de um que eu, possivelmente, escreveria.
E agora José? A inspiração, criatividade, todo o processo intelectual para se produzir textos, acabou-se. Como somos mais civilizados do que os donos de charretes que fizeram greve contra os primeiros automóveis, vamos ter que voltar a plantar batatas e aceitar a derrota. Dói menos se nos aliarmos a ela.
Lembremos também que o WhatsApp já foi um estágio para se chegar ao grau de total indiferença quanto a nossos semelhantes, já que não mais nos falamos em ligação diretas. Passe uma mensagem, dizemos para alguém com o qual temos necessidades de contato.
Eu mesmo já estou de mala arrumada para migrar para o setor de informática. Não há tantos profissionais qualificados nessa área, e estou correndo para lá antes que a própria máquina passe a programar suas semelhantes. Tchau, gente!
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 15.06.2024 - 07h33min.
P.S.: Pedi ao ChatGPT para continuar meu texto, e veja o resultado:
Deixou-me triste o fato de saber que o cronista, poeta, cordelista, qualquer profissional que se gabava de ser escritor na sua essência, acabara de perder o emprego, já que agora toda produção artística desse setor pode ser feita pela inteligência artificial em frações de segundos. Era irônico pensar que aquilo que dava sentido à alma humana, a expressão artística mais íntima e pessoal, agora se tornava uma commodity digital, padronizada e impessoal.
O mercado editorial, outrora vibrante com a diversidade de vozes e estilos, agora se via inundado por textos gerados por algoritmos, que replicavam fórmulas de sucesso sem o lirismo e a profundidade que só um ser humano poderia oferecer. As livrarias virtuais estavam repletas de "best-sellers" que mais pareciam clones uns dos outros, cada um seguindo à risca as métricas de popularidade definidas por complexos modelos matemáticos.
Os escritores tradicionais, aqueles que dedicaram suas vidas a dominar a arte da palavra, viram-se marginalizados, relegados ao status de uma era anterior, onde a criatividade era o único critério de valorização. Muitos abandonaram suas carreiras, incapazes de competir com máquinas que podiam produzir um romance completo em questão de horas, ajustando-se automaticamente aos gostos do consumidor.
As consequências foram profundas não apenas para os escritores, mas para a sociedade como um todo. A literatura, que antes refletia a complexidade da condição humana, tornou-se superficial e previsível. As vozes que desafiavam o status quo foram silenciadas, substituídas por uma cacofonia de palavras sem alma, criadas para entreter sem questionar, para vender sem inspirar.
A revolução tecnológica trouxe consigo uma crise cultural inesperada, onde a autenticidade foi sacrificada em prol da eficiência e da conveniência. A inteligência artificial, inicialmente celebrada por sua capacidade de otimizar processos e facilitar a vida das pessoas, revelou-se uma espada de dois gumes, cortando não apenas empregos, mas também a essência de formas de arte que definiram a humanidade por séculos.
Era difícil não lamentar a perda irreparável de uma era em que a criação literária era um ato de resistência, de exploração do desconhecido e de conexão com o sublime. Agora, os museus literários eram mais visitados do que nunca, não por apreciação, mas por nostalgia por um tempo em que as histórias eram contadas com o coração, não com algoritmos.
Nos corredores vazios das antigas editoras, ecoavam os suspiros dos escritores desempregados, suas máquinas de escrever silenciosas ao lado de laptops obsoletos. O futuro da literatura pendia numa balança incerta, entre a promessa de uma eficiência impessoal e o desejo humano fundamental de expressão única e autêntica.
E assim, enquanto o mundo se ajustava à nova realidade digital, uma questão persistia: poderia a arte verdadeira, aquela que toca a alma e desafia o intelecto, encontrar um lugar no mundo moldado pelas mãos frias da inteligência artificial?
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Espero que tenha gostado da continuação do texto!
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