GOLPE DE URUBU
Um morto fazendo empréstimo
A primeira vez que vi
Postaram, eu assisti
Toda aquela presepada
Érika toda preparada
Mandou tio Paulo assinar
O defunto sem piscar
Permanecia calado
Na cadeira bem sentado
Sem pressa nem aperreio
A caneta pelo meio
Sem escrever e nem borrar
Tio Paulo a desbotar
Já ficando endurecido
Lá no céu tinha alarido
Dos anjos em alvoroço.
Chupa logo esse caroço
Gritavam pelo terreiro
Parecia até vespeiro
Disputando a alma ingrata
Apostando ouro e prata
Satanás disse ele desce
São Pedro disse confesse
Pra que eu possa perdoar.
Satanás disse vem cá
Que seu lugar é aqui
Vamos logo dividir
Esses dezessete mil
Isso é coisa do Brasil
Amanhã ninguém recorda
São Pedro jogou a corda
Puxando ele pro céu.
Satanás sempre cruel
Acorrentou-o pelo pé
A mídia gritou olé
Tem assunto pra semana
No banco não tem banana
A polícia foi chamada
A mulher toda arrumada
Pegava na mão do morto.
O pescoço já bem torto
Apontando pro inferno.
Lá fora com muito inverno
São Pedro jogando água
Érika já com muita mágoa
O dinheiro não saía
Satanás ali sorria
Esse aqui já tá no papo.
Apareceu mais um fato
De um homem dando entrevista
Minha senhora tá na vista
Que esse idoso já morreu
O pé chega fedeu
Arrastando pelo chão
E quem quiser saber mais
Procure a televisão.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 18.04.2024 - 09:14
Tragicômica ocorrência, poeta e prosador Heraldo Lins, uma daquelas coisas que nos surpreendem quando pensamos que já vimos de tudo, digna de ser aproveitada pelo cinema hollywoodiano e de figurar em versos como estes. - Gilberto Cardoso
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