quinta-feira, 18 de abril de 2024

GOLPE DE URUBU (Poema sobre o morto levado ao banco)

 




GOLPE DE URUBU


Um morto fazendo empréstimo 

A primeira vez que vi

Postaram, eu assisti

Toda aquela presepada

Érika toda preparada

Mandou tio Paulo assinar

O defunto sem piscar

Permanecia calado


Na cadeira bem sentado

Sem pressa nem aperreio

A caneta pelo meio

Sem escrever e nem borrar

Tio Paulo a desbotar 

Já ficando endurecido 

Lá no céu tinha alarido

Dos anjos em alvoroço.


Chupa logo esse caroço 

Gritavam pelo terreiro 

Parecia até vespeiro

Disputando a alma ingrata 

Apostando ouro e prata

Satanás disse ele desce

São Pedro disse confesse

Pra que eu possa perdoar.


Satanás disse vem cá 

Que seu lugar é aqui

Vamos logo dividir 

Esses dezessete mil

Isso é coisa do Brasil

Amanhã ninguém recorda

São Pedro jogou a corda

Puxando ele pro céu.


Satanás sempre cruel

Acorrentou-o pelo pé 

A mídia gritou olé 

Tem assunto pra semana

No banco não tem banana

A polícia foi chamada

A mulher toda arrumada 

Pegava na mão do morto.


O pescoço já bem torto

Apontando pro inferno.

Lá fora com muito inverno

São Pedro jogando água 

Érika já com muita mágoa

O dinheiro não saía 

Satanás ali sorria

Esse aqui já tá no papo.


Apareceu mais um fato

De um homem dando entrevista 

Minha senhora tá na vista

Que esse idoso já morreu

O pé chega fedeu

Arrastando pelo chão 

E quem quiser saber mais 

Procure a televisão. 


Heraldo Lins Marinho Dantas 

Natal/RN, 18.04.2024 - 09:14






2 comentários:

  1. Tragicômica ocorrência, poeta e prosador Heraldo Lins, uma daquelas coisas que nos surpreendem quando pensamos que já vimos de tudo, digna de ser aproveitada pelo cinema hollywoodiano e de figurar em versos como estes. - Gilberto Cardoso

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