sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

SERÁ QUE FREUD EXPLICA?

 


SERÁ QUE FREUD EXPLICA? 


Ao lado de uma almofada, o homem está apenas sentado no sofá digitando algo em seu celular. Para por uns instantes como a procurar o que dizer. Precisa dizer para não morrer de tédio, mas sabe que tudo já foi dito, então escolhe o silêncio. Sua existência fica sem graça, percebe isso depois  que vê quais os conteúdos estão sendo postados nas redes sociais. Ninguém mais quer saber seu ponto de vista depois que a censura foi por terra, e ele tenta se adequar à capacidade de não fazer nada. Não tem uma floresta por onde caminhar, já que tudo foi coberto por asfalto e concreto. Fecha os olhos, pelo menos isso ainda pode fazer. Dentro da escuridão a qual foi submetido, tenta esvaziar-se. Ali estão suas lembranças amortecidas por uma realidade totalmente diferente da época em que foram produzidas. As lembranças atuais estão carentes de acontecimentos. Um acordar, comer, beber... Vigiar o tempo, esta é sua mais importante atividade atualmente. Não está aposentado? Não, nunca trabalhou. Como se sustenta? Ah, não pode dizer. Se disser que é morto do pescoço para baixo, muitos irão dizer coitado. Se disser que é sadio e que não trabalha por entender que quanto mais se trabalha mais o meio ambiente é destruído, irão dizer que é um vagabundo travestido de poeta ou filósofo improdutivo. 

A mulher saiu. Ah, quer dizer que ele tem mulher!? Agora é tarde. Deixou uma pista de que ela lhe sustenta, mas não é nada disso. A mulher foi levada para o conserto. É uma bela garota inflável e que estava vazando pelo pito. Ele já está com saudades dela, por isso fica divagando na espera de que ela volte logo da oficina para poder expressar o quanto ela é importante por ser a única que consegue aguentar suas conversas desalinhadas. 

Está sonolento e resolve alarmar quando o tempo passar em duas horas. Nessa encruzilhada, deve voltar à consciência da sua utilidade em somente consumir oxigênio e expelir gás carbônico. É nesse estágio que sabe tratar-se de uma pessoa totalmente deixada em paz. Ninguém quer se juntar a um consumidor nato, porém a vantagem é que fica sossegado para devanear. 

Sai para fazer rastros. Andar à toa é outro dos seus prazeres. Quer gastar as sandálias até sentir dores nas articulações avisando que deve voltar para o sofá. É lá que dorme. Na cama, só quando quer monologar com a inerte. Fica um pouco enciumado com os rapazes que fazem a manutenção da boneca. É apenas um fetiche, diz para si mesmo querendo esquecer a afetividade que desenvolveu para com ela. Pior era sua verdadeira mulher. Tinha que ir ao ginecologista abrir tudo para exames. Nem queria saber como havia sido. Ela o deixou pelo ciúme exagerado. Acha que vai tocar fogo quando a boneca chegar consertada. Vai comprar outra. É isso mesmo, e volta a dormir com um sorriso satisfeito de psicopata destruidor de objetos. 


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 09.02.2024 - 13h18min.





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