MUTIRÃO DA LEITURA
Quem é? Sou eu, o leitor. Pode dizer. Vim porque disseram-me que sempre se encontra novidades literárias por aqui e estou checando a informação. Sim, mas hoje a produção está parada para manutenção das ideias. Mas será que não pode me dar um pouquinho das sobras? Tem um rolamento que está danificado e precisamos consertá-lo antes do pôr do sol, e as sobras estão sendo usadas para lubrificar o resto da engrenagem. Veja o que está arquivado na sala do passado e procure se contentar com o que está lá.
Sem querer ser insistente, mas já li por várias vezes todo o arquivo e preciso preencher o formulário de visitação com novidades, se é que me entende. Só um instante! O leitor ficou esperando na porta da página em branco enquanto o responsável tentava a todo custo requisitar algum escritor para a missão de preenchê-la. Alô, poeta! Há um dos nossos usuários para ser atendido dizendo que só sai quando lhe for apresentado um texto inédito. Será que você pode enviar algo? Rapaz... por coincidência, ontem faltou energia e não pude trabalhar de jeito nenhum. Aproveitei a folga e fui à igreja. Chegando lá, fui atacado por demônios sugadores de ceticismo e passei o dia e a noite toda sem questionar. Estou totalmente esvaziado sem possibilidades de ligar a minha máquina criativa. Procure uma poetisa, quem sabe ela manda algo falando de amor.
E aí, conseguiu? Bom, na verdade eu vim olhar se você já tinha ido embora... Nada disso. Só saio daqui com minha carência aliviada. Se eu encontrar alguém que fale do amor, serve? Pode ser, entretanto é bom definir se é o amor fraternal, romântico ou pelo dinheiro que abrange sentir muitíssimo apego por tudo desde que não seja o seu semelhante. Mas o senhor é muito exigente, chegou aqui como pedinte e agora já se transformou em mandatário. É para onde é encaminhado quem está acostumado à leitura. E cuide porque não tenho o tempo como meu empregado. Ah, e eu queria perguntar quem era esse ao seu lado. Prazer, sou o tempo e me tenho todo no que for necessário, só não posso parar. Tudo bem, se o temos ao nosso lado nada nos preocupa.
Poetisa, é o seguinte... Estou menstruada e a única coisa que quero neste momento é ficar boa dessa dor de cabeça. Não posso falar de amor se tenho dor. Então é por isso que quem sofre a dor de ter sido abandonado não consegue se expressar de forma amorosa. Acho que é, nunca parei para pensar sobre isso. Nem parou nem vai parar, respondeu o tempo enfatizando que nem ele conseguia tal proeza. O senhor me acompanhou escondido, foi? Eu sempre estou escondido em qualquer ação de vocês, por isso que sou tão valorizado. O Leitor ainda estar lá? Claro que ficará até morrer, pois sua função é e sempre será a de ler. Será que dá para adiantar-se um pouco para quando a dor de cabeça dela já tiver passado? Nem parar nem me adiantar. É preciso deixá-la sofrer essa dor agora senão ficará acumulada para o final, e quando a morte chegar vai querer levá-la através da dor, e não com.
Senhor historiador...! Já sei do que se trata, contudo o fim da história já foi anunciado por Francis Fukuyama e outros, e não posso fazer mais nada. Nem uma linha sequer para entreter a fila de espera? É melhor sugerir a obra "O Fim da História e o Último Homem", só assim ficaremos livres dessa cobrança por um texto.
Aqui ninguém precisa de indicações, respondeu uma das assíduas leitoras que às vezes também escreve. Pronto, está resolvido o problema. Você escreve e nós leremos com a maior satisfação. Ultimamente estou bloqueada vindo aqui exatamente para tentar um lubrificante para meus pensamentos.
Neste momento a máquina foi consertada, no entanto o prazo de entrega foi extrapolado e ficou para a próxima semana.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 24.07.2023 – 15h25min.
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