ASSIM ESCREVI SOBRE OS PÁSSAROS, SEUS NINHOS E MISTÉRIOS NA CHÃ DA GRAÚNA
Em tempos de lua crescente e dezembrina, sem bolandeira ou cristais d`água em seu redor, ainda rompia o braseiro, pois a quadra chuvosa estava distante, tivera eu informação que escassas chuvas de manga tinham caído no Piauí. Certa manhã ainda meã, um Magistrado das bandas da Serra do Cuité, que além do juditio dedilha em fios literários, terminara sua aula e encontra-se com esse velho escriba nos jardins do CCSA. Em meneios sertanejos, recorre à lembrança dos tempos que vivera nos sertões do oeste potiguar, dizendo ter publicado em vespertino da cidade, a crônica “OS PÁSSAROS, AS CASAS E A LIBERDADE”, em cujo lenho, se reporta a um pardal, que de forma ousada confeccionara ninho em seu gabinete, utilizando os grampos e clips da escrivania, comenta a forma de moradias verticais e desagua na falta de liberdade e direito à integridade para o homem.
O tema albergou-se em minha memória, de forma latente e reflexiva, principalmente quanto à questão da liberdade, e deu mote para relembrar a melodia “Assum preto”, interpretada pelo velho Gonzaga, quando diz:
“Pois assum preto, cego dos óios,
Não vê a luz... canta de dor...”
Por outro lado, a quadra chuvosa chegou, as águas de março borrifaram a caatinga, e pude fazer verso como esse:
Da tênue veia em cacimba,
Encontrei a grota cheia,
Choradores na caatinga,
Nível em açude sem meia.
A mata encorpara e quase intransitável ficou. Mas, foi no pátio da Chã da Graúna, onde habitam os cocos-catulés, eucaliptos decenários, cajaraneiras trazidas do Braz no velho Seridó, flamboyants em brotos e cajueiros nativos, que lembrei do Magistrado, da Chã da Serra do Cuité, o Dr. Ivan Lira. É que na vizinhança do copiar da Chã da Graúna, vi a convivência da liberdade e da democracia na sua forma mais pura. Nas galhas da cajaraneira ninhos de galos-de-Campina, Sanhaçu, rolas-brancas e golinhas, já atulhados de filhotes que eram aquecidos pelas mães que dormiam em pleno meio-dia, o vai-e-vem das abelhas sem ferrão, de um lado as jandaíras e de outro as enxuís, também na reprodução.
Quanta alegria! Para um amante da natureza. Daí, passei a entender o porquê da sinfonia matutina, ofertada com esmero por esses habitantes das cercanias da Chã da Graúna a esse escriba. De ressaltar que a liberdade que tivera o pardal, em pleno gabinete citadino de um Juiz, construir seu ninho para a reprodução, tinha algo a ver com a liberdade da passarada que habita a Chã da Graúna. É que nas cercanias da choça campônia, assim como nas entranhas da justiça havia e há o direito de ir e vir, sem qualquer molestação.
Mas, é imperativo trazer o informe, que os ninhos nos grotões da Borborema potiguar, ou nos catingotes dos confins do Seridó, têm suas regras de confecção e de defesa. O golinha utiliza os fios nobres do capim panasco, o maçarico ribeirinho os gravetos mosqueados de branco e preto para despistar a serpente, o pindurim trança o seu com plumas de rosa-seda ou algodão nos últimos artelhos da ingazeira, o xexéu-bico-de-osso terce o ninho nas ramas da umarizeira espinhenta, à similaridade de um puçá pesqueiro, o Juriti na forquilha do mandacaru espinhento no entrançado da mata, com uma particularidade, se alguém descobrir este, quebra todos os ovos e recomeça uma nova confecção em lugar diferente e distante do primeiro.
O caburé de buraco aproveita as galerias de formigueiros extintos, para construir seu agasalho reprodutivo, nos limites de caber apenas os filhotes e a mãe caburé, pois, ao macho cabe ser na postura, o vigilante incansável, para evitar a invasão da serpente ou do furão violento, com direito a chorar quando chega a cruviana madrugadenha com seu gélido sibilo.
De outra feita a cambonje escolhe só e somente só, os alagadiços cobertos de tabocas ou pimentas d`água nos invernos intensos, para depositar seus ovos e colher sua ninhada, ao contrário não há nascimento em épocas secas. O nambu espanta-boiada, confecciona ser ninho nas capoeiras inclinadas, porquanto quando os rebentos saem dos ovos, já o fazem em correria desenfreada e não mais convivem com seus pais, pois, estão aptos à sobrevivência nos descampados do tempo. Assim, são os ninhos na Chã da Graúna, um santuário de vida e de mistério a desvendar.
J.E.S.
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