VÁRIOS PONTOS DE VISTA
A mulher corria com o cachorrinho nos braços tentando livrá-lo do Pitbull. Este colega mimado merece umas mordidas, pensava o agressor.
De longe, avistei aquela moça bonita vestindo calça e blusa verde-escuras numa uniformização bem equilibrada para sua pele marrom-clara. Este homem me olhou com uns olhos pidões. Aff! onde chego sempre tem estes "Joões sem braços" assediando-me.
A primeira vez que passamos um pelo outro, deixou-me boa impressão. Sorridente, corpo sarado estava a fazer uma caminhada matutina na pista rodeada de verde distante da praia. Esse lugar é o ideal para se caminhar longe da vagabundagem. Na praia, até que é bom, se não fosse a poluição visual promovida pelos sujos do crack.
O Pitbull, alguém achava, estava querendo apenas brincar com o mimado do colo, mas não soube expressar seus sentimentos. O que fazia era abrir a boca, porém naquela arma exposta ninguém é doido para confiar.
Ainda bem que minha dona é alta e não tem como ele me alcançar, dizia, para si, o cão peludo, branco e cinza. Seus pelos ficaram eriçados e ninguém diria que estava confortável, apesar de abraçado pela deusa dos fones de ouvido.
Fiquei caminhando de costas olhando a cena distante que me chamou a atenção pelos gritos do domador. Era "um coroa", com jeitão de violento, passando por mim sem demonstrar nenhuma preocupação com o aperreio dos mais fracos, lá longe.
Aquele cão amarelo já é freguês dos tetéus. Todos os dias, quando o cara vem se exercitar, o malvado fica correndo atrás. Não se cansa da repetição, quase diária, de tentar pegá-los. A cachorra branca, acho que é mais inteligente, fica perto do dono abanando o rabo e comentando: aquele idiota nem percebe que jamais vai alcançá-los. Fica gastando energia à toa! Só sendo um Pitbull para pagar esse mico, diz ela com ar de censura. É de minha natureza correr e tentar morder, rosnou o bicho bruto e ainda acrescentou: preciso manter este comportamento herdado dos meus avós, senão estarei fadado a ser apenas um bicho de estimação, e isso seria uma desonra para nossa raça.
Mãe, o nosso cãozinho foi atacado, escutei a moça ao celular com o animal na coleira. Vinha ofegante e um pouco pálida. Não era pra menos, pensei tirando como exemplo quando a fera passou a galope tentando acompanhar o homem. Este vinha em minha direção gritando e chamando-o, e eu estava entre o grito e a fera, longe da bela. Tirei logo o canivete do bolso, junto com o chaveiro, e fiquei com a lâmina aberta. Se ele me atacar, tenho até pena, ah! coitado! Coloco o braço esquerdo na frente e o golpeio nos olhos. Vou deixá-lo cego, não tem quem "empate". Este cara pensa que estou bravo, pensou o Pitbull. Se eu fosse atacá-lo eu avançaria no pescoço. Eu sei o modus operandi de vocês, respondi-lhe sem abrir a boca.
A outra, que está comigo há vinte e oito anos, nem se importou com minha fala de alerta. Você vê perigo em todo canto. Ele é apenas um animalzinho querendo atenção, e meu fígado, resmunguei sem muita intensidade para não gerar uma discussão pelo resto da caminhada.
Entre mortos e feridos, salvaram-se todos, só que a imagem daquele glúteo empinado em apuros não sai da minha cabeça.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 03.02.2023 - 15h27min
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