EM TODO CANTO TEM A MANHA
Fui jantar onde rico janta. Rodízio de carne. Um “buffet” de fazer inveja a aniversário de filho único. Só não fiz uma selfie porque ninguém estava nessa, e achei ridículo agir “fora dos conformes”.
Depois que peguei o prato inicial, de vez em quando um garçom passava com carne, linguiça, frango, queijo... São tantas opções que o “cabra fica besta”. “Danei o garfo pra cima” que fiquei gordo em meia hora. Enquanto comia, ou melhor, engolia quase sem mastigar, lá vinham uns e mais outros e eu sempre afirmando que podiam despejar carne à vontade. Enchi o prato rapidinho com tudo que tinha direito e um pouco mais.
Do meio para o final, eu já torcia para que me tratassem com indiferença. Comecei dispensando um aqui, outro acolá, e haja comer. Não, obrigado, foi meu discurso depois que experimentei a picanha gaúcha. Tem peixe? Vou providenciar. Mesmo não estando pronto, eles mandaram preparar e serviram bem quentinho.
A rapaziada é gentil e rápida. Leva prato sujo, traz outro limpo, providenciaram palito, guardanapos, respondem sorrindo. Tomei dois copos de água de coco achando que estavam incluídos no preço do rodízio. Alguns serviçais usavam colete vermelho, outros terno sem gravata, alguns com o gel no cabelo, estilo anos sessenta, ofereciam, cortavam, agradeciam, perguntavam: quer mais? tudo muito rápido. Dá para se empanzinar fácil.
Um piano ao fundo se fazia ouvir enquanto os “entrançados de pernas” acontecia no salão. Gente indo e vindo, mulheres com seus saltos altos arrastando bolsas caras e meninos agarrados, tanto nas saias quanto nas bolsas, outras crianças brincavam com a comida, muita gente avantajada concentrada no sal, ou melhor, na carne. Eu não sabia se estava comendo sal ou carne.
Depois vi na conta que o mesmo valor que compro seis cocos na feira, era o preço de um copo, mas não faz mal, juntei dinheiro e aqui estou eu, pensava mostrando-me sorridente para quem estava “dando no gogó”.
Muitas mesas juntas cheias de comilões se confraternizando, cantando parabéns etc. O pianista, já quase bêbado, permanecia metendo o “sarrafo”. Pareceu-me um boçal de meia idade, e nem deu para decifrar qual estilo tocava. Até eu disse: acho que estou desaprendendo música ao ouvir esse “cara” largar a mão nessas teclas. Barulho, isso deu para perceber, ele sabia fazer.
Pelo lado de fora, o restaurante parecia pequeno, contudo quando entrei fiquei impressionado com aquele mercadão. Tanta agitação me deixou atordoado. Gente chegando, empanturrados saindo, dava a impressão que era uma feira, porém acho que aquele “auê” acontece diariamente.
Gostei do atendimento, nem tanto da comida porque tive uma noite de pressão alta. Acordamos várias vezes para medir os batimentos cardíacos.
Pela manhã, o peso na barriga estava cansando-me fácil. Nunca mais, dizia a esposa suando e tomando chá. Antes de sair de casa, visitei o sanitário por duas vezes e mais três em mar aberto. Percebi os peixes agradecendo pela fartura e acredito que a única coisa boa que restou foi praticar minha intimidade no balanço das ondas.
Voltando um pouco para a agitação dos espetos, quando eu ia saindo do restaurante, o manobrista me perguntou se havia gostado do consumo livre. Respondi que a comida estava um pouco salgada. Acho que houve falta do produto no mercado porque vocês usaram todo o estoque de sal na carne, esse foi meu comentário sarcástico. Ele respondeu com a cara mais lisa do mundo: quanto mais sal, Doutor, menos consumo.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN,07.12.2022 ─ 13h45min.
Tragicômica experiência, amigo Heraldo. Tive uma reação orgânica parecida com a sua após comer em um restaurante de comida tailandesa.
ResponderExcluirHehehehe
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