quinta-feira, 22 de setembro de 2022

O MUNDO ESTÁ DE OLHO - Heraldo Lins

 


O MUNDO ESTÁ DE OLHO


Aqui é como se fosse um armazém onde eu deposito minhas ideias. Enquanto não chega o clarão dos céus dizendo o que devo escrever, escolho a espera como ponto central da matéria. Nunca gostei de esperar e acredito que ninguém gosta, no entanto, levando em consideração que não adivinho o que vem à mente, deixo-me levar para onde essa força quer que eu vá. O bom é que essas dúvidas me estimulam a manter o canal de comunicação limpo para não perder a pena.   

Sei que aqui não é lugar para devaneios, todavia fugir um pouco da regra é satisfatório, até por que regras foram feitas para serem quebradas, com exceção das eleitorais. Eu falo é sobre quebrar as regras da literatura na hora que o escritor quiser e o editor permitir, no entanto seria um crime por omissão não falar que a democracia está na corda bamba. Aí sim, o assunto dá uma guinada para o pesado. Democracia é muito mais que falar suavidades, e eu pensei que ela estava segura, imagine! 

Dentro desse contexto democrático, há um monstro que cospe palavras e se eu não o inibir, ele chega a endurecer a “parada.” É um monstro que habita os pesadelos da violência acreditando que é melhor que ninguém escreva para que ele se mantenha arrotando bombas ao bel-prazer. 

Mesmo tendo essa liberdade de transitar por onde quero, preciso continuar utilizando a doutrina da ditadura literária para manter as pessoas algemadas aos meus textos. 

Acho que vou dar o golpe, e, se for bem-sucedido, poderei escrever muito mais. O que importa é me manter junto com a família da pontuação e o exército das palavras. No entanto, se eu falar em neve, pouca gente conhece. Há pessoas nem sabem que depois do degelo o branco vira lama, por isso muitas preferem ficar em casa evitando pisar no lamaçal. 

A maioria imagina que quando a neve deixa de cair, o solo fica seco e ela se evapora sozinha. Pura fake news. É lama de fazer inveja a chiqueiro de porco, porém nunca pisei em neve e também nunca fui torturado, entretanto sei como é que é. Acho que nem é bom dar "cabimento" porque senão tudo vira tá tá tá tá...  

Ultimamente estou sendo influenciado pela insegurança eleitoral que ronda o país. Queria registrar algo sem muita utilidade, porém ao abrir os olhos vejo soldados marchando sobre as queimadas da Amazônia com botas de bico largo, feitas de couro de broxa, prontas para pisar na liberdade também.

Em cima do sofá há três almofadas desarrumadas com algumas medalhas atrapalhando o visual. Aqui é apenas a descrição da minha sala, nada de fazer comparação com qualquer instituição. Há um lençol cor de vinho protegendo os assentos, de sangue mesmo, só a aparência, por enquanto. Ao lado há um espelho simbolizando a democracia. Percebemos que daqui a alguns dias ele pode ser estilhaçado, então temos que proteger o espelho dos vândalos através do confirma, sem esquecer que nenhum militar “passou no concurso para ser rebaixado a vigia de urnas.”    


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 22.09.2022 ─ 07h53min



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