SERVENTIA DA LITERATURA - Heraldo Lins

 

SERVENTIA DA LITERATURA

Ele quase não conseguia falar de tão doente que estava: covid-19, infecção urinária e pneumonia. Tudo junto o levou à U.T.I. Com oxigênio auxiliando-o na respiração, gravava vídeos mostrando aos amigos sua condição de paciente impaciente após oito dias naquele sufoco. A esposa, por estar cirurgiada, assistia as ligações de vídeo vendo-o recomendar-lhe que se alimentasse direito, “caindo” no choro toda vez que se falavam. No final, ele dizia: se eu morrer não quero que você chore. 

A autoestima do casal encontrava-se cada vez mais difícil de manter-se em níveis plausíveis. A todo momento, uma das noras fazia brincadeiras tentando reanimá-los. Por gostar de discursar, o paciente foi estimulado a fazer pequenas falas direcionadas aos seus amigos, parentes, clientes e conterrâneos. Já havia sido visitado por vários médicos, e quando o oxigênio era diminuído, a respiração tornava-se insuficiente. O pulmão comprometido pelo vírus da covid quase não atendia às exigências do organismo deteriorado pelas outras infecções. 

Do lado de cá, parentes e amigos direcionavam mensagens de otimismo e orações de todos os credos. Fotos dos descendentes também o animava, além da presença, “in loco”, de alguns. Um batalhão de cuidadoras, diaristas e profissionais da saúde, estava a lhe dar suporte. O prazo planejado para o final do combate com antibióticos já estava chegando ao fim. O tempo registrando mais de doze noites, fazia com que houvesse uma grande variação no planejamento das ações. A cada momento, os soldados de branco adotavam uma estratégia para revigorá-lo. 

Aos poucos, conseguiu-se que a infecção fosse exterminada, e, por conseguinte, tornou-se ideia corrente, entre todos os envolvidos, que ele iria sobreviver. O psicológico abalado ainda puxava para trás a crença nessa tese. Finalmente, o fantasma da doença só foi afastado quando ele tomou uma dose de poema, este que veio na medida certa e no momento exato através do médico da alma, Gilberto Cardoso dos Santos, que presenteou o paciente, a família e amigos com o seguinte “curativo poético”:

POEMA PARA SEU LINS

(Autor Gilberto Cardoso dos Santos)

 

Sempre gostei de seu Lins,

Honesto comerciante,

Que busca vender barato

com preço não variante.

É um cidadão de bem

Que vive como convém,

Sem ambição degradante.

 

Diz um provérbio chinês

Que o vendedor triunfante

É aquele que mantém

Um sorriso cativante

Mas Seu Lins é diferente

Pois atende seriamente,

Mesmo assim vende bastante.

 

Nunca vi subterfúgios

No seu modo de atender.

Não esboçava um sorriso,

Porém me dava prazer

Buscar aquele endereço.

Com certeza o melhor preço

Ali podia obter.

 

Foi assim, sem fingimentos,

Que aos fregueses agradou.

No imaginário da gente

Que sempre a ele comprou

Produtos maravilhosos

Sem negócios enganosos,

Assim seu nome firmou.

Pode não ter alcançado

O êxito que obteria,

Caso fosse desonesto

E usasse de hipocrisia

Ante o freguês indeciso,

Na exibição de um sorriso

Que sincero não seria.

Mas ele sobreviveu

Atendendo honestamente,

Ao lado de sua esposa,

Também firme e transparente.

Mostrando-se verdadeiro,

Não de modo trapaceiro,

Como se vê comumente.

 

Se tornou bom vendedor,

Mas no rumo que seguia,

Estudando em seminário

A Santa Teologia

Com o Monsenhor Raimundo, 

Por ter vozeirão profundo,

Um bom orador seria.

 

Seu Lins pra comunidade

É um homem de moral,

Honesto em tudo que faz,

Ao extremo racional.

No que diz, bastante franco.

Com ele é preto no branco,

Seu Lins é especial!

 

Desejo, pois pra ele,

Completa prosperidade.

Que jamais perca a esperança

Durante essa enfermidade.

E que possa retornar

Para o seu lar doce lar,

Cheio de felicidade.

 

Que não lhe falte carinho

Nesse momento de dor;

Que não se sinta sozinho,

Mas perto do criador

Seguindo no rumo certo.

São os votos de Gilberto,

Freguês e admirador.

Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 10.06.2022 — 10:48