segunda-feira, 30 de maio de 2022

SOBRESTAMENTO - Heraldo Lins

 




SOBRESTAMENTO 


Anunciaram o encontro da noite passada coincidindo com a atual. Duas noites no mesmo período era coisa inimaginável. Como pode o passado e o presente estarem juntos...? Ali estava algo nunca pensado pela humanidade. A primeira impressão era que alguém havia ficado totalmente louco a ponto de assimilar essa lógica fora de lógica. Em todas as épocas os filósofos sempre fizeram distinção entre esses dos tempos que contribuíam para acertos na localização histórica. Agora o conceito de tempo presente estava abalado. Com certeza, a influência da noite estabilizada de ontem tinha tudo para diminuir o valor da noite contemporânea volúvel que por não ter sido concluída tinha um valor negativo, do mesmo jeito que o futuro tem o valor negativado do presente e acrescentado do próprio futuro, mais negativo ainda. A angústia sentida no presente é porque o presente ainda está no vermelho tanto quanto o futuro. É uma dívida que não se paga nunca, por isso a tristeza em enfrentá-los. Pois, bem!

A pessoa que tem trinta anos, ele tem uma dívida de trinta. O presente que está vivendo é um montante que está sendo retirado para ser vivenciado, sendo que ele passa a ter uma dividida de tempo vivido de trinta anos e mais um dia que está sendo vivenciado. Se for correr para o futuro será a dívida acrescentada de acordo com o planejamento consumido. Se daqui a um ano será o tempo gasto em construir uma casa, a pessoa tem uma dívida já apalavrada em trinta e um anos. Trinta já consumida e mais um reservado. 

Para se entender é necessário manter os pensamentos livres de qualquer apego à tradição. Neste clima tão fora de conjectura, produz-se as datas alteradas e daí se faz uma edição, como em um vídeo, usando as duas noites para se chegar a uma terceira. 

Pensar fora da lógica é o desafio, onde o conhecimento físico passa a ser maleável. Dez minutos em um momento transforma-se em vinte ou volta a ser cinco. O melhor exemplo para defender esse ponto de vista é quando se diz que o tempo do expediente passou e nem se viu passar. 

Pela massacrante educação do ontem e do hoje, quem nasceu ouvindo esses conceitos precisa de mais esforços para conseguir pensar em algo que fuja disso. Seria um novo tempo criado a partir da mistura desses dois. Podemos chama-lo de vácuo do tempo ou suspensão temporal.

Não é de se admirar que antes desse pensamento ser ventilado não havia alternativa. Nestas circunstâncias, a chegada de um novo olhar para o tempo suspenso tornou-se aberração, como tudo que é novo causa alvoroço. Uma verdadeira calamidade ocorre em transformar o pensamento sedimentado em um renovado.

É assim: pensemos em um observador olhando para uma bola. Lá dentro da bola, sem serem vistos, há um ponto em movimento e um referencial, ou seja, o ponto em movimento é a noite passada, e o referencial a noite presente, também, movimentando-se em direção ao futuro. Por fora, a bola permanece estática, podemos dizer que a bola sem movimento externo representa, ao mesmo tempo, o passado e o presente em seu interior, e o futuro olhado de fora. Ela é o retrato de tudo isso junto. O observador localizado no tempo suspenso presencia esses momentos e não se deixa influenciar por nenhum deles, assim, para ele é possível permanecer no tempo suspenso. Foi isso que aconteceu: a noite passada, a presente e a futura acontecendo simultaneamente. Como ficou bem claro essa explicação, aqui finalizo. Só não acrescento KKKKKK porque é antiético zombar de quem não entendeu.        


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 29.05.2022 – 10:12




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