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DE MEMÓRIA E PERSONAGENS
Episódio I - Severino de Antônia Preta
Grassava ainda os tempos em que algodão em casulo motivava pedido em casamento, agendava noivado e até casamento pra festas de fim de ano. As rodagens ainda tinham catabís, e os hotéis eram nominados de pensões. A arma da polícia no ofício citadino era o notório “facão rabo de galo”, com o adereço de uma bainha de aço. Caçador usava alforjes e a espingarda de soca da marca Lazarina*. No respeito de sempre à sexta-feira 13, pois, os malfazejos e sinistros, como as estripulias da caipora nessa noite aconteciam.
Nas cercanias da “rua do Emboque”, por trás da quinta de “Fia Velha”, morava um caboclo azeitonado, de nome Severino, mais conhecido como “Severino de Antônia Preta”, ou ainda o “negro de Antonha Preta”. Neto de negros que nasceram já sob as luzes da “Lei do Ventre Livre”, mas que, nos cafundós dos Sertões de meu Deus, ainda continuavam com pouca instrução. Daí serem afeiçoados aos trabalhos da faina rurícola e do campeio bovino, ou nas periferias das urbes, vivendo de “bicos”, como engraxates, vendedores de loiças, ou mesmos de assar castanhas de caju, e vendê-las de porta em porta, que era o caso de Severino.
Mas, para os leitores mais aligeirados, surge a indagação. Qual a vertente inolvidável, que deixou Severino, para não ser esquecido. Filho de negro, pobre, vender castanhas, aqui e acolá tomar uma caéba? Seria muito simplório. Mas Severino, o nosso personagem, se notabilizou por desafiar a polícia com pedradas. Não usava arma alguma, nem “branca”. Mas, uma vez recebida a voz de prisão da polícia, desprendia-se como um gato, se armava de pedras e punha a polícia em desistência, forçada em consumar a prisão.
Nesse reproche à polícia a pedradas e em defesa de sua liberdade, também ensaiava em voz alta, um babelismo que só ele entendia. Nessas eras, os coronéis decidiam a prisão. Logo o Velho Marinheiro Saldanha era instado por Biró sua esposa para evitar uma atitude violenta da polícia. No outro dia pela manhã, Severino estava a vender castanhas, como se nada tivesse acontecido.
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