sábado, 12 de março de 2022

OS MENINOS QUE COLHIAM JUÁ SECO - Jair Eloi de Souza

 



OS MENINOS QUE COLHIAM JUÁ SECO

Não conhecíamos o que hoje chamam de frutas cristalizadas. As nozes que fazem a ceia
dos arrecursados nunca vimos. Aliás, vez por outra, se ouvia na pregação missal referência a esses alimentos vindos de terras d'alem mar.
O bioma da caatinga era rico em araçás, resinas de angico, canapús, trapiás, doces melão de São Caetano, frutos do xique-xique, nisso os pequenos eram exímios coletores. Mas, o gosto concentrado de sacarose estava nos frutos do Juazeiro já desidratados, secos, caídos no chão, lavados apenas pelas chuvas do inverno todo.
O fruto do Juazeiro é bonito maduro, de cor amarela mostarda, suculento que fazia espuma na boca quando nós comíamos. Mas, não tinha um sabor apreciável, razão que levávamos semanas, esperando que o Juá caído, perdesse toda a água e tomasse a cor de cavalo cardan escuro. Nesse momento, todos os peraltas acorriam aos frondosos Juazeiros nos baixios do Sertão, pra colherem os frutos secos, quase sem polpa, porém de uma doçura inigualável.
Retrato essa cena aldeã, pelo fato desse fruto
ser muito apreciado, pois, não tínhamos outras opções para amainar a voracidade da fome. Interessante, é que tínhamos outros concorrentes; as raposas enchiam as bochechas de frutos e iam degustar no serrote mais próximo. Três, quatro anos depois, os Juazeiros começavam a germinar nas fendas dos rochedos.
J.E.S.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários com termos vulgares e palavrões, ofensas, serão excluídos. Não se preocupem com erros de português. Patativa do Assaré disse: "É melhor escrever errado a coisa certa, do que escrever certo a coisa errada”