sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

O Jogo - Maria Goretti Borges

                                                              



O Jogo

 

No fim do jogo, o rei e o peão voltam para a mesma caixa (provérbio italiano). Se no fim o encaixe é igual para todos, o mesmo não se dá durante a travessia. Do início ao fim, mais especificamente nesse ínterim, muitas lutas são travadas, encontros e desencontros, se dão. Observando-se o início, é bem visível que os personagens do jogo da vida não saem da mesma caixa, comparando-se a uma simples corrida, poderíamos dizer que muitos queimam na largada. No decorrer da partida e nos movimentos das peças, a vida acontece! Depois do fim, o que importa, algo importa? O ato da ressurreição de Jesus, seria uma prova cabal de que mesmo depois do fim o jogo continua? O Jesus humano, em sua trajetória, representa muito bem o percurso, ruas, becos, veredas e vielas no tabuleiro da vida da imensa maioria dos jogadores (peões). Advindo de uma família simples, num contexto de disputa por espaços em campos diversos, Jesus nasce refugiado e no decorrer da vida sofre as perseguições próprias, dos que se insurgem. No jogo da vida não lutou para vencer, não almejou a glória pessoal, sonhou um pódio para todos.  Germinou depois do fim, nasceu para amar e morreu para esperançar. Numa sociedade de desfavorecidos não existe vencedor, meritocracia sem equidade é blefe! “Navigare necesse, vivere non est necesse”. Frase atribuída ao general romano Pompeu (106-48 a.C.). Nesse vai e vem das ondas da vida, navegar é preciso! Na vida, assim como no canto de Zeca Pagodinho: “camarão que dorme a onda leva”. Estar acordado, atento, conectado, engajado e em movimento é pressuposto para permanecer no jogo. Jogar é preciso! A estada é individual, mas também é coletiva. Na escalação do time, muitos vão apontar e tentar definir o seu lugar, sua posição “natural”, onde supostamente você renderia mais. Mais ou menos como na canção, Portas. “nesse corredor portas ao redor(...) tentam decidir qual é a melhor”.  Daí vem os questionamentos: “por que uma única porta, se todas dão em algum lugar, se todas servem para sair ou para entrar, se todas servem para ventilar o corredor? No jogo da vida é necessário questionar, lutar, não aceitar jogar um jogo de cartas marcadas, previamente escolhidas, rotuladas, posicionadas, etc.

Em seu livro, Uma Terra Prometida, Barack Obama descreve sua trajetória na política e também na sua vida pessoal. Estão entrelaçadas, obviamente. Para mim a maior lição a extrair dessa história, é exatamente a sabedoria do escritor (Obama). Cite-se: como se portar em cada ocasião, aproveitar as oportunidades, encarar os desafios (muitos), ser audacioso, rever conceitos, dialogar, dentre outros. Enfim, focar nos objetivos traçados, sem perder a luz de sua essência, plantar e esperar o tempo certo da colheita, chorar e sorrir, quando necessário. Nos versos do compositor Guilherme Arantes, estaria o resumo da ”ópera da vida”? “Vivendo e aprendendo a jogar, nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar.”  No jogo da vida seremos eternos aprendizes, nada de entregar o jogo ou antecipar vitórias, avante!

O desamor, a falta de caridade, a incompreensão, a ganância e arrogância desumanizam o homem, embolam o meio de campo, jogo não flui de forma justa.  “E mesmo que tudo tenha dado errado, eu ficarei bem aqui diante do senhor da música, com nada em minha língua a não ser aleluia” (Leonard Cohen). Após travar lutas diárias, atravessar mares tenebrosos, romper a escuridão e não nos restar mais nada, nem mesmo forças, fiquemos com o Senhor da Vida. Feliz Ano Novo!


Maria Goretti Borges









16 comentários:

  1. Seu texto deu-me a oportunidade de conhecer a música PORTAS e as janelas por você abertas me trouxeram mais luz ao eu. Felicíssimo 2022! - Gilberto Cardoso

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    1. Você é um poeta muito sensível, um amigo maravilhoso! Obrigada por tudo, feliz ano novo!

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  2. Que texto verdadeiro e ao mesmo tempo sensível. 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻

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  3. Excelente texto, Goretti. Feliz 2022 para você, Júnior, seu Marido, e o casal de filhos.

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  4. Muito obrigada, Heraldo! Você com sua arte encanta a todos, felicidades e um próspero ano novo.

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  5. Que texto ma-ra-vi-lho-so! Fico admirada, professora Gorete, com tanta sabedoria. Não perco a oportunidade de ler, procuro fazer a leitura bem devagar e degustar de cada reflexão apresentada. Seus textos aguçam minha curiosidade. Que possamos sempre seguir no jogo da vida carregando dentro de si o Senhor, o dono da vida. Muito obrigada por compartilhar seus textos inspiradores.

    Feliz ano novo!

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  6. Muito obrigada, que bom que vc gostou, fico feliz por poder manter esses diálogos! Um abraço.

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  7. Texto elegante, inteligente, preciso, bonito e profundo. Sempre uma alegria ler você, Goretti.

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  8. Quantos elogios lindos, coisas de poeta! Muito obrigada, feliz ano novo!

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  9. Belo texto, bem contextualizado.
    Cada dia mais, escrevendo melhor.
    Parabéns.

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  10. https://www.facebook.com/joaomaria.medeirosdantas1 de fevereiro de 2022 às 08:38

    Belo texto, bem contextualizado.
    Cada dia mais, escrevendo melhor.
    Parabéns.

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  11. Que belo texto, como sempre. Parabéns Goretti. Feliz ano novo! Sempre é tempo de desejarmos coisas boas para os nossos. Beijos.
    Joseni Santos

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