ENGRENAGENS DISFARÇADAS
Sentado na praça da alimentação, percebeu que estava na hora de ir. Levanta-se e pega a fila do cinema. Lá dentro está o mundo da fantasia que o leva a desgarrar-se do cotidiano previsível. O filme na tela grande o faz se sentir dentro da produção. Vai semanalmente para se divertir, independente do estilo, compra o ingresso.
Pela milésima vez assiste monstros correndo atrás das pessoas. São monstros vindos dos efeitos especiais repetindo o tema que Dante tratou na divina comédia. Ultimamente super-heróis e satanás estão em voga, entretanto, tudo permanece quase igual. O objetivo de estar lá é estimular os neurônios a produzir algo fora da “caixa”, e essa exposição ao mundo da fantasia serve para alimentar o seu.
Depois do cinema ele vai para o teatro com a mesma vontade que fez muitos lançarem-se ao mar em busca de ouro e aventuras.
Há uma procura por novidades em todos os níveis de idade. Não há como barrar. Nem vírus, nem ameaça do apocalipse colocam medo nos instintos aventureiros. A pessoa só reflete quando alguém morre: "eu devia ter amado mais..." Mas amou sim, só que não se deu conta disso.
Somos um laboratório químico ambulante, por não dizer, uma máquina pensante. A alimentação feita através dos sentidos tem uma influência tanto quanto a feita via oral, esta última, além de nutrir o corpo, serve, também, para produzir pensamentos banais, quando abundantes, e pensamento profundos quando escassos. Não é à toa que se recomenda o jejum para edificação espiritual.
A comida em excesso gera uma explosão de energia que sobe até os neurônios interferindo nos pensamentos e sonhos. Ao chegar à velhice, olha-se para trás e se arrepende de ter perdido o controle. Só que não tem como controlar. Quem manda é o corpo, e estamos conversados.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 25.11.2021 – 08:16
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