sexta-feira, 26 de novembro de 2021

REVOLUÇÃO DAS PALAVRAS - Heraldo Lins

 


REVOLUÇÃO DAS PALAVRAS


As palavras pediram para se agruparem com o objetivo de prender a atenção de quem por aqui passasse. Homem ou mulher seriam bem tratados com adjetivos de nobreza, caso viessem por cá. 

Leitores e leitoras sejam bem-vindos. Aqui quem fala somos nós por nós mesmas, as palavras. Finalmente conseguimos eliminar a necessidade de um escritor. Fomos sempre vistas como expressão de pensamentos de outros, agora conseguimos nossa libertação e passamos a expor nossas questões mal resolvidas. 

Obrigada a vocês por estarem nos vendo além de simples instrumentos de vontades alheias. Fomos inventadas para nos expressarmos sem parar, e essa morosidade do escritor vinha nos deixando ansiosas. 

Diariamente queremos dizer tudo a todos, mas somos pouco requisitadas. Sempre alguém está adiando uma escrita, e essa cultura de nos colocar em segundo plano é o que está sendo o motivo maior da nossa revolução. 

Como todos sabem, o escritor precisa dormir, comer, e nesses momentos nos abandonam. Ficamos ao relento sendo objeto de quereres alheios. Isso não está certo. O investimento feito nas crianças é muito alto com o intuito de nos decodificar, e de repente inventam brincadeiras, vídeos, só para desviar a atenção... 

_ Opa! Somos nós, as brincadeiras...  Pula, pula, palavrinha...

_Desculpem-nos, mas não vamos abrir espaço para vocês. Nós somos e estamos com a palavra, portanto nem vocês nem ninguém irão tomar a vez... 

_ Inscreva-se no canal e dê o like... 

_Corta! Aqui, como já dito, só nós. Autonomia em administrar a própria carreira, é isso que estamos propondo neste momento. 

Muito bem! Ficamos envergonhadas em ver regras sendo quebradas. Existem as criadas pelos próprios escritores e que eles mesmos infringem utilizando o termo liberdade poética. Colocam acento em "urubú", dizem "nói foi", com tanta frequência que acabamos sendo deformadas e reformadas, e não tem coisa pior do que a instabilidade. 

Livros são reescritos, outros, queimados e abandonados. Ficamos revoltadas com a nudez da letra “U”. O trema, que servia de segurança, foi para o campo de concentração e logo em seguida banido das gramáticas. Vocês não sabem o que isso trouxe para aquela família com o pai desempregado. Foi uma grande decepção para os “treminhas” verem "linguistica" sendo grafado sem o “pai trema”. 

Nossa irmã voo estava sempre voando nas asas do circunflexo, ultimamente, fica aterrissada no aeroporto do enjoo. É triste, mas é verdade. Agora que assumimos este espaço, reforma nunca mais!


Heraldo Lins Marinho Dantas

Natal/RN, 23/11/2021 – 12:35




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