TERMINA EM CASAMENTO
Não sei por que doenças existem. Seria menos mal se aparecessem para serem descontadas somente nos dias restantes de vida. Depois de feitas as contas, igual a um vampiro ao sol, desapareceríamos esfumaçados. Mas não! Começa uma tosse, hospitais... é verdadeiramente um corre-corre permanente. Só pode ser a morte mandando mensagens do WhatsApp dela. Eu não tenho o número, mas acho que ela tem o de todo mundo: as dores nos dedos são os bons-dias; dor de cabeça são Emojis. Hoje pela manhã ela me enviou um fake: achei que fosse gases, veio diarreia.
Quem tem a capacidade de sentir dor nunca está sozinho. Para tirar isso a limpo é só bater a cabeça na parede para certificar-se que a morte está sempre por perto. Nascemos, e a partir daí, vivemos um romance sem chances de separação.
Alguns preferem a velha com uma foice na mão, outros, uma bela mulher, sim, porque a morte se disfarça tentando conseguir um casamento. O segredo é desconfiar até de um cachorro-quente. A sinistra avisa que está disfarçada de salgadinhos quando, em vez da pista de dança, corremos para o sanitário durante uma festa.
Mas não adianta brigas, revoltas ou aborrecimentos. O importante é manter o diálogo. Quem me flagrava conversando sozinho nem sabia, inclusive eu, que era ela a minha interlocutora. Ela ficava fazendo planos para que eu fosse desportista radical. Queria se ver livre de mim, e o quanto antes isso acontecesse, ficaria sem o trabalhão de me seguir.
Agora, cada vez que minhas pernas doem pergunto-lhe o que está fazendo de cócoras mordendo meu joelho. Logo cedo começa a esmurrar meu estômago me forçando a comer. Sei que o único jeito de bloquear suas mensagens é casando-me com ela, mas, por enquanto, nada de compromisso sério.
Heraldo Lins Marinho Dantas
Natal/RN, 21/06/2021 – 09:25
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