quinta-feira, 10 de junho de 2021

NO TEMPO DE PAI TOMÁS, PRETO VELHO E PAI VICENTE - Poeta Daxinha




NO TEMPO DE PAI TOMÁS, 

PRETO VELHO E PAI VICENTE


I

Os meus tempos de criança

Jamais os esquecerei

O amor que desfrutei

Carrego em minha lembrança

Agora que a idade avança

Tornei-me incompetente

Não sou mais suficiente

Como alguns anos atrás

NO TEMPO DE PAI TOMÁS,

PRETO VELHO E PAI VICENTE.

II

Eu vivia bem mimado

Sempre ao lado dos meus pais

Em Boa Vista do Cais

Conhecido por Pelado

Hoje está tudo mudado

Os sem-terra estão presentes

Que diferença da gente

Quando existia paz

NO TEMPO DE PAI TOMÁS,

PRETO VELHO E PAI VICENTE.


III

Minha mãe me ensinava

As coisas boas da vida

Meu pai também, em seguida,

Sempre me orientava

Os conselhos que ele dava

Eu já gravava na mente

Mesmo eu sendo inocente

Para mim foi eficaz

NO TEMPO DE PAI TOMÁS,

PRETO VELHO E PAI VICENTE.


IV

Conduzo as marcas no rosto

Que os longos anos deixaram

Só as lembranças ficaram

Daquele moço disposto

Estou vivendo o oposto

Do que fui antigamente

Não sou mais eficiente

Como era anos atrás

NO TEMPO DE PAI TOMÁS,

PRETO VELHO E PAI VICENTE.


V

Esse corpo sem destreza

E as pernas cambaleantes

Faz eu recordar que antes

Ignorava a fraqueza

Mergulhava na represa

Nadava em água corrente

Nunca respeitava enchente

Quando ainda era rapaz

NO TEMPO DE PAI TOMÁS,

PRETO VELHO E PAI VICENTE.


VI

Só tenho que agradecer

O glorioso Jesus

Por ter me dado essa luz

E me ajudado a viver

Ser criança e aprender

Depois de adolescente

Envelhecer consciente

Que consumi o meu gás

NO TEMPO DE PAI TOMÁS,

PRETO VELHO E PAI VICENTE.


VII

Quando eu era menino

Zombava da própria sorte

Nem pensava que a morte

Levava cabra traquino

Às vezes, tirava um fino

Num obstáculo presente

Não pensava em acidente

E as consequências que traz

NO TEMPO DE PAI TOMÁS,

PRETO VELHO E PAI VICENTE.


VIII

Noto que a diferença

Hoje é de cem por cento

Se não tenho mais talento

Não julgo que foi ofensa

Mas a grande recompensa

Vem de Deus Onipotente

Que me faz constantemente

Lembrar que fui tão sagaz

NO TEMPO DE PAI TOMÁS,

PRETO VELHO E PAI VICENTE.


Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, o popular, DAXINHA.


01/05/2002


JOSELITO FONSECA DE MACEDO, mais conhecido como poeta Daxinha, nasceu em Cuité/PB, em 14/08/1938. Filho de José Adelino de Macedo e Maria Marieta da Fonseca, nasceu na zona rural de Cuité, mais precisamente no Sítio Boa Vista do Cais, popularmente conhecido como Sítio Pelado. Aos 20 anos, viajou para os estados de Minas Gerais e Goiás, onde trabalhou como agricultor e vaqueiro. Mas foi no estado de São Paulo que se fixou, trabalhando como metalúrgico nas principais usinas siderúrgicas da região do ABC paulista. Retorna à Paraíba em 1985, retomando suas funções de agricultor. Sempre gostou de poesia, sobretudo, do gênero cordel no qual, ainda menino, já escrevia seus primeiros versos. O retorno a Cuité aproximou-o ainda mais de suas raízes, fazendo-o mergulhar com mais fervor no mundo da poesia. Sempre convidado a se apresentar em eventos culturais da cidade, seus versos focavam, principalmente, no cotidiano das pessoas simples – como ele mesmo o era. Tem como obras publicadas um CD de poesias intitulado: “Poeta Daxinha – Um Amante da Poesia”, o cordel “O batente de pau do casarão” e uma participação póstuma no livro “APOESC em Prosa e Verso”, do também poeta Gilberto Cardoso dos Santos. Casado, pai, avô e bisavô, o poeta Daxinha faleceu em 04/05/2016, em Campina Grande/PB, vítima de insuficiência cardiorrespiratória. (Jaci Azevedo, filha)

Um comentário:

  1. Tão lindo, né? Saudosista, melancólico... Como nós também já somos...
    Obrigada, Gilberto!!

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