NO TEMPO DE PAI TOMÁS,
PRETO VELHO E PAI VICENTE
I
Os meus tempos de criança
Jamais os esquecerei
O amor que desfrutei
Carrego em minha lembrança
Agora que a idade avança
Tornei-me incompetente
Não sou mais suficiente
Como alguns anos atrás
NO TEMPO DE PAI TOMÁS,
PRETO VELHO E PAI VICENTE.
II
Eu vivia bem mimado
Sempre ao lado dos meus pais
Em Boa Vista do Cais
Conhecido por Pelado
Hoje está tudo mudado
Os sem-terra estão presentes
Que diferença da gente
Quando existia paz
NO TEMPO DE PAI TOMÁS,
PRETO VELHO E PAI VICENTE.
III
Minha mãe me ensinava
As coisas boas da vida
Meu pai também, em seguida,
Sempre me orientava
Os conselhos que ele dava
Eu já gravava na mente
Mesmo eu sendo inocente
Para mim foi eficaz
NO TEMPO DE PAI TOMÁS,
PRETO VELHO E PAI VICENTE.
IV
Conduzo as marcas no rosto
Que os longos anos deixaram
Só as lembranças ficaram
Daquele moço disposto
Estou vivendo o oposto
Do que fui antigamente
Não sou mais eficiente
Como era anos atrás
NO TEMPO DE PAI TOMÁS,
PRETO VELHO E PAI VICENTE.
V
Esse corpo sem destreza
E as pernas cambaleantes
Faz eu recordar que antes
Ignorava a fraqueza
Mergulhava na represa
Nadava em água corrente
Nunca respeitava enchente
Quando ainda era rapaz
NO TEMPO DE PAI TOMÁS,
PRETO VELHO E PAI VICENTE.
VI
Só tenho que agradecer
O glorioso Jesus
Por ter me dado essa luz
E me ajudado a viver
Ser criança e aprender
Depois de adolescente
Envelhecer consciente
Que consumi o meu gás
NO TEMPO DE PAI TOMÁS,
PRETO VELHO E PAI VICENTE.
VII
Quando eu era menino
Zombava da própria sorte
Nem pensava que a morte
Levava cabra traquino
Às vezes, tirava um fino
Num obstáculo presente
Não pensava em acidente
E as consequências que traz
NO TEMPO DE PAI TOMÁS,
PRETO VELHO E PAI VICENTE.
VIII
Noto que a diferença
Hoje é de cem por cento
Se não tenho mais talento
Não julgo que foi ofensa
Mas a grande recompensa
Vem de Deus Onipotente
Que me faz constantemente
Lembrar que fui tão sagaz
NO TEMPO DE PAI TOMÁS,
PRETO VELHO E PAI VICENTE.
Autor: JOSELITO FONSECA DE MACEDO, o popular, DAXINHA.
01/05/2002
JOSELITO FONSECA DE MACEDO, mais conhecido como poeta Daxinha, nasceu em Cuité/PB, em 14/08/1938. Filho de José Adelino de Macedo e Maria Marieta da Fonseca, nasceu na zona rural de Cuité, mais precisamente no Sítio Boa Vista do Cais, popularmente conhecido como Sítio Pelado. Aos 20 anos, viajou para os estados de Minas Gerais e Goiás, onde trabalhou como agricultor e vaqueiro. Mas foi no estado de São Paulo que se fixou, trabalhando como metalúrgico nas principais usinas siderúrgicas da região do ABC paulista. Retorna à Paraíba em 1985, retomando suas funções de agricultor. Sempre gostou de poesia, sobretudo, do gênero cordel no qual, ainda menino, já escrevia seus primeiros versos. O retorno a Cuité aproximou-o ainda mais de suas raízes, fazendo-o mergulhar com mais fervor no mundo da poesia. Sempre convidado a se apresentar em eventos culturais da cidade, seus versos focavam, principalmente, no cotidiano das pessoas simples – como ele mesmo o era. Tem como obras publicadas um CD de poesias intitulado: “Poeta Daxinha – Um Amante da Poesia”, o cordel “O batente de pau do casarão” e uma participação póstuma no livro “APOESC em Prosa e Verso”, do também poeta Gilberto Cardoso dos Santos. Casado, pai, avô e bisavô, o poeta Daxinha faleceu em 04/05/2016, em Campina Grande/PB, vítima de insuficiência cardiorrespiratória. (Jaci Azevedo, filha)
Tão lindo, né? Saudosista, melancólico... Como nós também já somos...
ResponderExcluirObrigada, Gilberto!!