Carta à Mestra Débora Raquiel - Gilberto Cardoso dos Santos

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Carta à Mestra Débora Raquiel 

Querida amiga Débora,

li há uns dois dias o texto que postou em sua página no Facebook e senti-me na obrigação de dar-lhe um feedback, mas não quis fazê-lo de qualquer maneira. Encarei como uma tarefa demasiado séria. Daí a demora. Sinto que o que sente transcende suas palavras e o mesmo ocorre comigo ao escrever esta missiva.

Há muitas coisas que gosto em você e que me levam a escrever-lhe estas linhas: a primeira delas é o seu nome. Não foi à toa que o escolhi para nomear minha filha. É apropriado para pessoas como você, que tem adoçado a vida de tantos. Além disso, como já manifestei em outras ocasiões em prosa e verso, aprecio o seu caráter e natural capacidade de colocar-se no lugar de outros seres.

Ao ler sua expressão de gratidão, lembrei duma personagem citada por Jesus. Trata-se duma mulher que perdeu uma de suas ovelhas e viveu momentos de muita angústia. Era um animal de extremo valor para ela. Profundamente frustrada, não deixou de acalentar boas expectativas e, principalmente, não deixou de esperançar.

À sua semelhança, ela viveu maus dias, parecidos com aqueles em que as ideias lhes fugiam e sua mente parecia estar aquém das exigências acadêmicas; semelhantes àqueles em que precisou ter certa onipresença para dar conta de tudo, e ainda ter que lidar com perdas irreparáveis.

Quando reencontrou a ovelha, a personagem da parábola teve uma atitude parecida com a sua. Convidou amigos, familiares e vizinhos, dizendo: "Alegrem-se comigo, pois encontrei minha ovelha perdida" - Lucas 15:6.

Várias são as razões que tenho para alegrar-me com você: de fato, como mencionou, muito insisti para que tentasse fazer o mestrado. Desde aquele momento eu já a via como mestra: você já o era de fato e tinha pleno potencial de torná-lo de direito; eu não tinha a menor dúvida de que daria conta do recado. Ver, pois, meu nome citado em seu texto de agradecimento, muito me honra e alegra. Eu desejava muito que você tivesse a oportunidade de fazer seu mestrado com Valdenides Cabral e outros ilustres componentes da equipe do Profletras que constam em seu rol de agradecimentos.

Durante seu curso, tive a grata surpresa de ver cordéis de minha autoria trabalhados por você e sendo incluídos em seu trabalho final. Não apenas meus, mas de outros escritores (Hugo Tavares, Hélio Crisanto, Adriano Bezerra, João Maria...) e de outros membros da APOESC; o cordel coletivo por mim organizado Tem Tudo e Não Falta Nada na Feira de Santa Cruz fez parte de seu projeto; tive o prazer de ouvir você falando das lágrimas que verteu ao ler meu cordel A Incrível História de Piabinha, decerto semelhantes às que eu derramei na noite em que o escrevi. Você não imagina quanto me regozijei ao ver meu livro Um Maço de Cordéis - Lições de Gente e de Bichos sendo objeto de leitura de seus alunos! A poesia a comove, minha amiga, e você a encontra no olhar de um animal sofrido. Sua admirável empatia não se limita aos seres de sua espécie, mas inclui todos os seres senscientes.

Com invejável habilidade, você integrou diversas artes em suas propostas de conclusão de curso. Muitos artistas de Santa Cruz e alunos protagonizaram esses inesquecíveis momentos. Você não poupou esforços nem dinheiro para executar seu projeto. Fica difícil mensurar tudo que você fez.

Em nome da APOESC, agradeço-lhe por levar nosso nome à UFRN, por dar amparo acadêmico á literatura de Santa Cruz e região. Percebo, cada vez mais, uma parceria implícita que muito nos anima.

Você se diz grata a mim e eu, em nome dos demais artistas do Trairi, quero expressar agradecimentos por tudo que você fez pela categoria quando esteve à frente da Casa de Cultura Popular Palácio do Inharé. Não apenas então, mas antes e depois do mandato, você protagonizou ações pontuais favoráveis a diversas manifestações artísticas. Arte e Educação para você sempre andaram de mãos dadas.

Como esquecer os Autos de Santa Rita e de São Sebastião, com textos de minha autoria e músicas do maestro Camilo Dantas, por você organizados? Como não lembrar de suas cativante performances em apresentações do APOESC Recitando o Sertão? Graças a seu empenho e desinteressada participação, nossa cultura viveu momentos grandiosos.

Sei que a poesia está sempre em seu campo de visão. Sabe por que isso acontece? É porque ela está em seus olhos. Você é um poema humano, minha boa amiga. Após realizar o sonho de vê-la sendo mestra, darei continuidade a outra luta, iniciada há bom tempo: a de vê-la com um livro publicado. Você escreve bem e merece ser lida.

Desejo vê-la futuramente ocupando posições cada vez mais honrosas e, quem sabe, comemorando o término de seu doutorado.

Parabéns, mestra Débora, por esse momento áureo em sua vida!

Respeitosamente e com imensa felicidade,

Gilberto Cardoso dos Santos

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