domingo, 23 de maio de 2021

ESQUELETO DISSIMULADO - Heraldo Lins Marinho



 ESQUELETO DISSIMULADO



Há três anos fui acometido de uma dor nas costas. Se contarmos de cima para baixo a dor tinha seu epicentro perto do boqueirão do riacho profundo. A maneira de resolver esse problema foi dormir em cima de uma garrafa de cachaça pressionando a vértebra que me torturava. 


Ano passado a dor inventou de voltar. Não contei conversa. Armei a rede e deitei-me em cruz com a cabeça e os pés no chão e a envergadura suspensa pela tipoia. Passei a noite nessa posição e pela manhã a dor havia ido embora. Até ganhei mais agilidade no raciocínio. 


Diante dessa mudança comportamental, percebi que meu inimigo é o esqueleto que habita dentro de mim. Minhas raivas, depressões e medo vem desse ser. A história em quadrinhos já havia denunciado esse bandido, só agora é que percebo. A prova é que tenho duas caras. Uma vem da cabeça neuronal e outra da cabeça cranial. Uma é maleável e outra radical. O famoso lundum vem do dissimulado tecido ósseo. 


Agora a coisa mudou. Eu era manipulado pelas duas caras e não sabia. Com o monitoramento constante percebi que quando elas estavam desocupadas ficavam brigando entre si. Revezavam-se no poder jogando-me de um lado para o outro. Quando me distanciava desse amaranhado, sentia uma cotovelada. Era o sádico esqueleto dizendo que quem mandava era ele. 


Minha obsessão era tão grande por essa múmia que quando via uma bela mulher ficava analisando esse inimigo dentro dela. É tanto que quando as beijava ficava com o olho aberto encarando-o. Sabia que ele estava ali rindo de mim. Eu abraçado com a modelo e ele manipulando as mãos dela. Quando ela me fazia carinho eu tinha consciência que havia o comando do esqueleto por trás daquela pegada. Era difícil se concentrar na carne. Só pensava nos ossos. 


Virou paranoia, e a ajuda veio através de Doutora Rejane. Cheguei lá e a terapeuta estava sentada com seus cento e cinquenta quilos comendo lasanha. Ao perceber que aquele vigarista não conseguia mais levantar minha médica, casei-me com ela. 



Heraldo Lins Marinho Dantas (arte-educador)

Natal/RN, 23/04/2021 – 12:07

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